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Saída de Eto é tratada na ALMG como insensibilidade política do governo Zema
Exoneração do então secretário de Governo joga responsabilidade de aprovar pré-requisito para adesão do Estado ao RRF para o colo da Casa

A saída de Igor Eto da Secretaria de Governo em meio à urgência para aprovar o pré-requisito para a adesão do Estado de Minas Gerais ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) da União é avaliada nos corredores da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) como uma falta de sensibilidade e habilidade política do governo Romeu Zema (Novo). Após horas de especulações, a exoneração de Igor foi confirmada apenas durante a noite de terça-feira (27). Procurado, o governo Zema ainda não se manifestou.
A poucos dias do fim do prazo para a ALMG autorizar a migração do Estado para o Programa de Acompanhamento e Transparência Fiscal (PAF III), Igor havia construído um acordo com o presidente Tadeu Martins Leite (MDB), o Tadeuzinho, para aprová-lo nesta quinta-feira (29). Como aconteceu, a proposta seria levada ao plenário em 1º turno na última segunda (26), e, como já havia a expectativa pela obstrução do deputado Sargento Rodrigues (PL), voltaria à Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária na terça.
O texto então retornaria ao plenário nesta quarta (28) para ser aprovado, e, ainda hoje, iniciaria a tramitação em 2º turno, na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária. O acordo ainda prevê a aprovação em definitivo em plenário nesta quinta para que Zema sancionasse a proposta ainda antes da data-limite de 30 de junho. Caso o projeto não seja aprovado a tempo, o Estado, segundo o Palácio Tiradentes, teria que pagar à União, à vista, R$ 15 bilhões, o que poderia comprometer os serviços prestados. Agora, cabe à ALMG levar o acordo a cabo.
A O TEMPO, deputados da base, que pediram para ser preservados, criticaram o momento da saída. “Todo mundo foi pego de surpresa. Se tivesse que trocar, que trocasse, mas que pelo menos esperasse o processo de votação (terminar) para trocar. Por que trocar agora?”, questiona um parlamentar, que ainda acrescenta que foi comunicado pelo governo apenas quando a saída foi oficializada. Já depois de interlocutores do Palácio Tiradentes darem a saída como certa, o desligamento foi confirmado à imprensa somente às 19h.
Já há algum tempo Igor era questionado diretamente pelo núcleo duro do Partido Novo dentro do governo Zema. Além de ser cobrado por prazos e entregas, o ex-secretário de Governo era avaliado como “condescendente” ao ceder à pressão do bloco de oposição a Zema na ALMG em determinadas votações. Não só Igor, mas, também, a articulação do governo na Casa foi questionada quando abriu mão de extinguir a Fundação Educacional Caio Martins (Fucam).
A oposição era contrária à incorporação das atribuições, dos imóveis e das fazendas da Fucam à Secretaria de Educação e retardava a votação da proposta, que já estava em tramitação há, aproximadamente, três meses e era a parte final da reforma istrativa. No final das contas, pressionado, Igor acordou com a oposição apenas a transferência da maior parte dos cargos comissionados de livre nomeação da Fucam para a Secretaria de Governo.
Outro deputado, que avalia a saída como “falta de sensibilidade política e habilidade”, afirma que, ao contrário do que pensa, o governo Zema não tem uma base de 57 deputados. “Depende da pauta”, observa. “São 57 deputados que não são de oposição, mas não são 57 da base. A base de governo é dispersa. O governo não tem votos para aprovar privatizações. Quer um teste? Envia a adesão ao RRF para ver se a. Não a”, alerta ele, que lembra que há “15 deputados de primeiro mandato” na base.
Quando a articulação do governo já se debruçava sobre a tramitação do pré-requisito para a adesão ao RRF, Igor negou veementemente que a privatização da Copasa seria encaminhada à ALMG após boatos de que o projeto seria enviado na semana seguinte. “Não adianta a gente querer ficar vivendo de imposições que não têm pega, que não têm construção, que não têm aderência com a realidade do parlamento mineiro”, apontou, na oportunidade, o então secretário de Governo.
Além de ter cedido à oposição durante a tramitação da Fucam, Igor recuou durante a discussão da proposta para pôr fim à cobrança de IPVA complementar às locadoras de automóveis. A princípio, o projeto ainda previa a anistia retroativa às dívidas das locadoras, mas, depois de pressão, o perdão caiu. Depois, o texto chegou a ir a plenário para ser votado em definitivo, só que um acordo costurado entre a situação e a oposição levou a proposta de volta para a Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária.
Um deputado de primeiro mandato até pontua que não sabe “o que está acontecendo por trás da coxia” para a saída de Igor, mas reforça a falta de habilidade política do governo Zema. “Ninguém esperava a queda do principal articulador político no meio de uma semana como essa, que tem o PAF III e a emenda da segurança do Rodrigues. Por mais que seja autorizativa (para estender o reajuste de 12,84% da educação às forças de segurança pública), ela pressiona o governo. Agora, como diria o outro, o problema é todo do Zema”, diz.
Até mesmo Tadeuzinho foi pego de surpresa pela saída de Igor, de quem, inclusive, é amigo pessoal. Apesar de ter recebido Igor no início do dia, a informação da exoneração foi confirmada extraoficialmente ao presidente da ALMG apenas por volta das 17h dessa terça. De forma oficial, apenas mais tarde. Ao se manifestar, Tadeuzinho, em nota à imprensa, apontou que a Casa “aguarda a indicação do futuro articulador do governo junto ao parlamento”. Até que o substituto de Igor seja anunciado, o secretário adjunto de Governo, Juliano Fisicaro Borges, ocupa interinamente o cargo.