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Polêmicas e inelegibilidade: o ano em que Bolsonaro precisou se reinventar
Na mira do TSE e da Polícia Federal, ex-presidente foca em viagens pelo país para manter seu cacife político, longe das urnas por pelo menos oito anos

As dificuldades de lidar com a derrota nas urnas em outubro de 2022 fizeram com que Jair Bolsonaro (PL) iniciasse o ano de 2023 recluso nos Estados Unidos enquanto seus apoiadores entoavam um questionamento coletivo sobre o resultado das eleições no Brasil.
Os ataques e depredações de 8 de janeiro e o silêncio do ex-presidente diante dos atos contra as sedes dos Três Poderes davam sinais ali de um líder da direita, capaz de mobilizar quase 50% do eleitorado brasileiro, e, dúvida sobre o caminho por onde poderia seguir e, de certa forma, se reinventar.
Os meses seguintes, no entanto, foram de altos e baixos para cacique político do Partido Liberal - que encerra o ano contrariando os prognósticos de que acabaria preso, desacreditado por parte dos seus eleitores e sem estofo moral para guiar mais nenhum grupo.
Dezembro termina mostrando que, até agora, tudo descolou de Bolsonaro com a mesma intensidade que colou, o mantendo como o principal cabo eleitoral da direita brasileira para as eleições municipais de 2024. Para dar força a isso, ele tem viajado por todo Brasil em eventos do PL para buscar mais filiados para a sigla.
Polícia Federal
Os casos das joias sauditas, presenteadas a ele e a então primeira-dama Michelle Bolsonaro os deixaram na mira do Tribunal de Contas e da Polícia Federal. Um colar, um anel, o relógio e um par de brincos dados a Michelle foram um presente do governo da Arábia Saudita após uma viagem oficial àquele país, em outubro de 2021.
Os produtos foram apreendidos no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, na mochila do militar Marcos André dos Santos Soeiro, assessor do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
O ex-presidente esteve na superintendência da PF para depor sobre o caso e sempre negou irregularidades na guarda de relógios cravejados de diamante e outras peças de valores milionários. Na ocasião, se recusou a responder às perguntas dos investigadores.
Em abril, a ex-primeira-dama já havia confirmado ter recebido as peças, depois de ter negado estarem sob a guarda dela. Em outubro, ele voltou à PF, dessa vez como parte das investigações sobre ameaças à democracia e questionamentos ao resultado das eleições de 2022.
Mauro Cid
O ajudante de ordens da Presidência da República Mauro Cid era o braço direito de Bolsonaro durante seu mandato de quatro anos. Ali fazia atendimento a todo tipo de serviços de um secretário particular e ou a ser notado pela PF quando revelado seu envolvimento com a venda de presentes oficiais como o relógio da marca Rolex nos Estados Unidos.
Mauro Cid acabou preso e conseguiu um acordo de delação premiada onde aponta o ex-presidente como responsável por liberar a venda das peças que deveriam ser da União, entre outras irregularidades como o cartão de vacinação fraudado. Bolsonaro nega as acusações e chegou a dizer que Cid não inventaria nada contra ele.
Inelegível por duas vezes
Por duas vezes, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgou Bolsonaro inelegível por oito anos. A primeira foi em junho, quando, por 5 votos a 2, os ministros da Corte decidiram impedi-lo de disputar cargos públicos até 2030 por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. A pena se referiu à reunião promovida por ele durante a campanha eleitoral de 2022 com embaixadores onde fez acusações, sem provas, da lisura das urnas eletrônicas.
Quatro meses depois, o tribunal voltou a julgá-lo e a condená-lo, pela segunda vez, à inelegibilidade. Desta vez, por ter usado as cerimônias de celebração do 7 de setembro de 2022 para promover sua campanha à reeleição. As penas não são cumulativas, mas serviram para reduzir suas chances de voltar à Presidência da República ou a qualquer outro cargo de poder eletivo pelos próximos oito anos.
Bolsonaro no Congresso
Se Bolsonaro continuou cultuado por aqueles para quem sempre falou, o mesmo não se pode dizer sobre seu poder político dentro do Congresso Nacional. Por lá, defendeu oposição a propostas de interesse da equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária. Nos dois casos, sua orientação não foi determinante dentro do próprio partido, o que chateou o ex-presidente.
Apesar de manter a lealdade de fiéis escudeiros da direita, como a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), seus filhos Eduardo (na Câmara) e Flávio (no Senado), e a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), Bolsonaro não conseguiu em 2023 ampliar seu alcance no Legislativo. Dentro do próprio partido ele já chamou de vendidos parlamentares no Congresso que sinalizaram votos favoráveis a interesses do Palácio do Planalto.
Viagens e condecorações
Em plenários lotados de aliados, Jair Bolsonaro ergue, sob aplausos, uma placa com a inscrição “Título de Cidadão Honorário”. A cena, que já se repetiu pelo menos cinco vezes em 2023, deve ser revista nos próximos meses em Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais país afora. Deputados estaduais e vereadores aliados ao ex-presidente seguem dispostos a reforçar a imagem de líder nacional do político afastado das urnas por oito anos. Em Minas, Bolsonaro recebeu a honraria pelo Estado e pela cidade de Juiz de Fora, na Zona da Mata.
Enquanto isso, Bolsonaro virou presença garantida nos encontros do PL Mulher, presidido nacionalmente por Michelle Bolsonaro. As participações também seguem um rito. A ex-primeira-dama discursa e comanda as reuniões, até que Bolsonaro chega, deixa alvoroçada a plateia, se senta e só depois diz algumas palavras.
A ideia do Partido Liberal durante este ano foi fortalecer a representação de Michelle junto ao eleitorado feminino de olho nas eleições municipais de 2024. De quebra, o ex-presidente se mantém sob os holofotes da mídia e do seu eleitorado como o principal e único contraponto com força para enfrentar o presidente Lula.
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