Judiciário

Bolsonaro diz que Mauro Cid 'é decente e não vai inventar nada'

O ex-presidente ressaltou em entrevista não temer que Cid fale à Polícia Federal e à Justiça algo que o comprometa

Por O Tempo Brasília
Publicado em 13 de setembro de 2023 | 09:36

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, em entrevista um dia antes de se submeter a uma cirurgia para corrigir hérnia de hiato e desvio de septo, na manhã de terça-feira (12), Bolsonaro diz que Mauro Cid “é decente e não vai inventar nada” e afirma que pretende abraçar seu ex-ajudante de ordens em breve.

“Ele foi pessoa de minha confiança ao longo dos quatro anos [de governo]. Fez um bom trabalho. E tinha aquela vontade de resolver as coisas. O telefone dele, por exemplo, eu chamava de muro das lamentações. Não só militares, mas civis que queriam chegar a mim, vinham através dele”, disse Bolsonaro à Folha de S. Paulo, que publicou a entrevista nesta quarta-feira (13).

O ex-presidente ressaltou não temer que Cid fale à Polícia Federal e à Justiça algo que o comprometa, mesmo após o tenente-coronel fechar acordo de delação premiada, o que lhe rendeu a liberdade provisória, mediante algumas restrições.

“Ele era de confiança. Tratava das minhas contas bancárias. Cuidava de algumas coisas da primeira-dama [Michelle Bolsonaro] também. Era um cara para desenrolar os meus problemas. Um supersecretário de confiança. Fala inglês, é das forças especiais, é filho de um general da minha turma [Mauro Lourena Cid]. Mas ele não participava [de decisões políticas e de governo]”, afirmou Bolsonaro.

A jornalista Mônica Bergamo, que o entrevistou, ressaltou que o ex-presidente, assim que o gravador foi ligado, e antes mesmo da primeira pergunta, negou que tenha participado de uma tentativa de golpe de Estado no Brasil.

“Desde que assumi [como presidente], eu fui constantemente acusado de querer dar um golpe, tendo em vista a formação do meu ministério [com diversos militares em postos-chave], e as minhas posições como parlamentar [de apoio ao golpe de 1964]. Mas vocês não acham uma só situação minha agindo fora das quatro linhas da Constituição. Nenhuma. Não seria depois do segundo turno [das eleições de 2022] que eu iria fazer isso [tentar liderar um golpe]. Muito menos no 8 de janeiro. Eu já não era mais nada, estava fora do Brasil”, afirmou Bolsonaro.

Ao ser questionado sobre declarações que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, quer de qualquer forma envolvê-lo nos atos de 8 de janeiro, Bolsonaro acusou, sem apresentar provas, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva de envolvimento nos ataques às sedes dos Três Poderes, que visavam uma intervenção militar.

“O 8 de janeiro foi um movimento que, no meu entender, teve a participação do Poder Executivo [referindo-se ao governo Lula]. O nosso pessoal [apoiadores que se manifestavam durante seu governo] sempre foi de paz. Fez movimentos enormes no Brasil todo, e você não via uma cesta de lixo queimada, uma vidraça quebrada. E o que estamos vendo na MI [que investiga os atos golpistas] são imagens apagadas [que registravam o que ocorreu no interior do Palácio do Planalto em 8/1]. E as que vazaram na CNN mostravam o general G Dias [Gonçalves Dias, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Lula] eando entre terríveis terroristas e criminosos, os golpistas. Portanto, o 8 de janeiro foi um movimento que, no mínimo, contou com a omissão do atual governo”, afirmou.

“Eu estava nos Estados Unidos e repudiei aquilo. Dei uma bobeada [ao postar uma mensagem na mesma época questionando o resultado das eleições, o que agora está sob investigação]. Eu estava internado, tinha tomado morfina [a defesa alega que isso fez com que ficasse confuso]. E fiz a postagem no dia 10, dois dias depois [do 8 de janeiro], quando tudo já tinha acabado. Então eu vejo que há uma obsessão de alguns de quererem me envolver [numa tentativa golpista]”, completou.