BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou neste sábado (15) que o “Brasil é uma encrenca”. Diante de uma plateia de empreendedores, ele disse que falta comprometimento daqueles que detêm poder, seja na esfera política ou empresarial, em agir em benefício do país. Nesse sentido, ele enfatizou a necessidade urgente de um "projeto coletivo de país" para o Brasil “dar um salto”.
“Brasil é encrenca, né? O negócio é difícil de istrar”, falou em tom de desabafo. “Às vezes, quem está numa posição de poder, porra, não está fazendo a coisa certa pelo país”. O chefe da equipe econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou da conferência "Despertar Empreendedor", organizada pelo Instituto Conhecimento Liberta (ICL), em São Paulo.
“Você tem um país de ouro, você tem um povo de ouro, uma coisa maravilhosa aqui. E você vê que quem pode fazer a diferença nem sempre está pensando no interesse público. E devia estar porque está numa posição de poder, ou porque é grande empresário ou um político com mandato. Você fala: ‘Pô, essas pessoas não estão pensando no país?’”.
Posteriormente, Fernando Haddad mencionou grandes potências mundiais, destacando que elas cresceram e se desenvolveram com base em projetos coletivos. Ele aproveitou o momento para criticar os "privilégios" daqueles em posições econômicas e sociais mais favorecidas, chamando tal mentalidade de mesquinha.
“Você quer que teus filhos sonhem, mas o filho do teu funcionário não pode? O filho da tua empregada não pode? Aí começa a ficar uma coisa mesquinha”, arrematou, concluindo que isso ainda faz o Brasil ser um país médio, enquanto poderia ser uma nação “grande” economicamente.
Durante a conferência do ICL em São Paulo, Fernando Haddad não mencionou diretamente o Congresso Nacional, nem abordou temas nos quais tem sido pressionado, como cortes de gastos para o ajuste fiscal. No entanto, as declarações dele foram dadas no momento em que medidas econômicas propostas foram derrotadas - devido à rejeição do Congresso e a pressão do mercado.
Um exemplo recente foi a devolução pelo Senado da Medida Provisória do PIS/Cofins, também conhecida como MP da Compensação. A medida enfrentou forte rejeição de empresários e parlamentares devido à redução dos benefícios fiscais relacionados a esses impostos.
A MP foi uma alternativa apresentada pelo governo para compensar a perda de arrecadação decorrente da desoneração da folha de pagamento em 17 setores e das prefeituras com até 156 mil habitantes. Aprovado pelo Congresso, o Planalto era contrário a prorrogar o benefício tributário ligado ao recolhimento da contribuição previdenciária.
O tema ainda é motivo de preocupação para o governo. Na última semana, Haddad afirmou que a Fazenda não possui um "plano B" para o tema. Enquanto isso, Lula adotou um tom mais incisivo, ao colocar a responsabilidade nas mãos dos empresários e do Senado, dizendo que cabe a ambos apresentarem uma proposta de compensação.
A semana da agenda econômica em Brasília contou ainda com reação negativa do mercado ao governo Lula, com a desvalorização do Real em relação ao Dólar. A crise se intensificou quando o presidente demonstrou hesitação em implementar cortes de gastos que afetariam a área social do governo federal.
Em uma tentativa de acalmar os ânimos do mercado, Haddad se reuniu com a ministra do Planejamento, Simone Tebet, na última quinta-feira (13). Ao término do encontro, eles disseram que o governo vai apresentar propostas e manter um ritmo mais intenso de trabalho sobre a agenda de gastos, fazendo uma “revisão ampla, geral e irrestrita” das despesas.
Haddad diz que fica apreensivo com decisões em Brasília
Ainda neste sábado, durante conferência em São Paulo, o ministro da Fazenda disse que “a todo momento fica apreensivo” com decisões tomadas em Brasília. Ele não citou nenhum dos Poderes especificamente, mas frisou que falta foco para aprovar medidas que vão “mudar para melhor” a vida das pessoas.
“Nós temos um serviço público de qualidade em Brasília. Mas quando a gente vai para Brasília, a gente não dialoga com o serviço público propriamente dito. A gente vai lá se defender do que está acontecendo. Então, a todo momento você fica apreensivo: Que lei vão aprovar? O que vamos fazer? Que maluquice é essa? O que estão falando? Por que não se dedicam a questões sérias que realmente impactam a vida das pessoas?”, perguntou.
Esta não é a primeira vez que Fernando Haddad fala da ideia de um projeto comum e um sonho compartilhado de desenvolvimento. No início do ano, ele enfatizou a necessidade de um "pacto dos três Poderes" para alcançar as metas fiscais. Além disso, ele cobrou o Congresso Nacional a agir com mais responsabilidade em relação aos objetivos fiscais do país, especialmente no que diz respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).