Karate Kid: Lendas — Repetição da fórmula e uma dose generosa de nostalgia
Novo capítulo da franquia mistura homenagens ao ado com cenas de luta empolgantes e muito espírito dos anos 80
A saga Karate Kid está de volta às telonas com seu sexto filme. Dirigido por Jonathan Entwistle, dessa vez a proposta é unir a saga principal — de Daniel-san e o Karatê do senhor Miyagi —, com o reboot de 2010 — do kung-fu do senhor Han (Jackie Chan).
O resultado é uma aventura nostálgica, exagerada e, por vezes, brega — mas ainda assim divertida para os fãs antigos e ível para novatos.
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Um novo começo… com o mesma fórmula de sempre
O protagonista da vez é Li Fong (Ben Wang), um ex-discípulo do agora Shifu Han, que agora precisa se mudar de Pequim para Nova York com sua mãe. Algo como o inverso do que aconteceu com o personagem de Jaden Smith, no filme anterior.
O desenrolar inicial também se parece muito:
- Li tem dificuldades para se enturmar, sendo um outsider,
- Encontra amizade em Mia (Sadie Stanley) e seu pai Victor (Joshua Jackson),
- O que provoca ciúmes no valentão da escola — Connor (Aramis Knight) —, o melhor lutador de artes marciais da região.
Mesmo assim, ele tenta se manter fora dos conflitos para cumprir a promessa que fez a sua mãe: abandonar a luta e estudar para garantir um bom futuro.
Porém, quando seus novos amigos são ameaçados pelo dono da academia de Connor, o jovem decide enfrentar seus traumas do ado, retomar seus treinos, e enfrentar seus oponentes no principal torneio de artes marciais de Manhattan.
Culminando no bom e velho “problemas da vida sendo resolvidos com artes marciais”.
Nostalgia entra em jogo
Esse é o mote para o retorno dos antigos ícones da franquia. Han tem o papel de impulsionar toda a reviravolta na decisão do protagonista. Mas ele não pretende treinar seu discípulo sozinho: ele convoca Daniel LaRusso (Ralph Macchio) para que possa ensinar o Karatê Miyagi-dô ao jovem, e expandir seu estilo de luta.
Os dois mestres dividem a tela com muito carisma e entregam momentos cheios de referência para quem cresceu com a saga, mas sem tornar o filme inível para quem está chegando agora — como foi o meu caso.
Inclusive, deixo aqui o alerta: não espere uma chuva de referências a personagens dos filmes ou até mesmo à série Cobra Kai, da Netflix. O objetivo principal do aspecto nostálgico é de incluir o longa de 2010 como parte do mesmo universo.
Edição que arrisca
É nesse momento então que entram as clássicas montagens de treinos inusitados, intercaladas com boas cenas de luta, conforme o protagonista vai avançando entre as etapas do torneio.
Evocando um clima de anos 80, a trilha sonora se alia à edição para mostrar a agem de tempo de uma forma bem similar aos filmes de artes marciais da época. É algo que funciona quando o foco é na ação, mas acaba soando um pouco brega quando tenta se utilizar do mesmo formato para as cenas de romance ou drama. E de nada ajuda, também, o fato do recurso ser utilizado em demasia.
Excesso de tramas?
Por mais que o filme seja relativamente curto, com 1 hora e 34 minutos de duração, não dá para negar que ele pareça ter 4 atos, e em alguns momentos foque em pontos que não tem futuro na trama.
A começar pela sua estrutura: há todo um arco dedicado à tentativa de Victor de voltar aos ringues de boxe para conseguir dinheiro, e pagar suas dívidas. Mesmo que não atrapalhe no andamento do longa — e inclusive ajuda a dar mais camadas ao personagem de Li, que se torna o treinador de seu amigo —, é inegável que isso possa criar ansiedade no espectador.
Sendo o grande chamariz a presença de atores antigos, dedicar a primeira metade do filme com uma trama que não inclui a história marketada pode gerar a impressão de propaganda enganosa. É quase como em Batman V Superman (2016), cujo conflito que dá nome ao filme demora pouco mais de uma hora e meia para acontecer, e ainda dura apenas 10 minutos.
Quando o momento que todos estavam esperando finalmente chega, o filme parece correr para recuperar o fôlego. Mas com isso, a presença do Sensei LaRusso é que sofre, tendo sua importância bem reduzida na trama.
O outro ponto citado são as tramas que não parecem ir a lugar algum, e aí vem principalmente o caso dos estudos de Li. Todo esse foco serve apenas para a introdução do personagem Alan (Wyatt Oleff), que se torna amigo do protagonista fora de cena.
A mãe do protagonista — interpretada por Ming-Na Wen —, é outra que também é muito pouco explorada. O filme a constrói como um obstáculo a ser quebrado pelo jovem, mas não dedica o tempo para que isso realmente aconteça. Ao final da história temos que aceitar que ela agora respeita o caminho que o filho resolveu trilhar.
Karate Kid: Lendas tem cenas pós-créditos?
Não exatamente. O que existe é uma espécie de epílogo — antes dos créditos —, trazendo uma cena final que mescla uma piada recorrente do filme com mais uma referência nostálgica.
Vale a pena assistir?
Karate Kid: Lendas não inventa nada novo, mas entrega bem aquilo que promete: lutas coreografadas com energia, uma história de superação e um toque pesado de nostalgia.
É aquele tipo de filme que você já espera o que vai acontecer, e na maioria das vezes acerta. Mesmo assim, consegue trazer uma boa química entre os personagens principais, e momentos de diversão, emoção e empolgação.
Se você já gosta da franquia, vai sim valer a pena ir conferir. Mas caso não conheça, é um bom filme pipoca pra quem gosta do gênero. Karate Kid: Lendas está em cartaz nos cinemas.
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