Tempo de Guerra: Tensão, brutalidade e realismo em filme sobre sobrevivência no campo de batalha
Inspirado em um relato real da Guerra do Iraque, o longa da A24 se destaca pela atenção aos detalhes, montagem intensa e uma abordagem visceral do conflito
Um ano após imaginar os Estados Unidos divididos em um conflito interno com o longa Guerra Civil, Alex Garland retorna aos cinemas, novamente em parceria com a A24, desta vez com um projeto bastante íntimo de uma guerra real.
Tempo de Guerra é baseado em um episódio vivido pelo co-diretor e roteirista Ray Mendoza durante a Guerra do Iraque em 2006. É um filme de ação que evita os clichês heróicos do gênero para focar no que há de mais humano — e brutal — na experiência de combate.
A trama acompanha um pelotão americano em missão de monitoramento que acaba sendo surpreendido e cercado por forças inimigas. Isolados e sem conhecer a localização e a quantidade de combatentes do outro lado, os soldados precisam resistir enquanto aguardam o resgate.
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O que poderia soar como um enredo simples — uma vez que quase todo o filme se a em um único local e em menos de um dia —, ganha força pela execução técnica primorosa e imersão total na realidade da guerra.
Com um veterano real na equipe de produção, o filme se destaca por sua precisão tática: cada movimento, cada item do equipamento, cada diálogo entre os soldados carrega a tensão e a lógica de quem já esteve em campo.
A direção de arte, maquiagem e figurino reforçam esse realismo, ao lado de um elenco jovem e promissor, que transmite a vulnerabilidade e o cansaço dos soldados, seja entrando em estado de choque ou até mesmo cometendo erros banais.
Ainda sobre o elenco, o filme busca fugir também da mera propaganda militar americana — tão comum em filmes semelhantes —, uma vez que ele contrasta uma primeira cena de descontração entre os soldados, com todo o caos em que são colocados no decorrer da trama. Dualidade muito semelhante ao que foi visto no alemão Nada de Novo no Front (2023).
Além disso, o filme traz, ainda, uma crítica ao comportamento americano de invadir o território alheio para criar uma guerra, sem se preocupar com os civis e suas casas, e nem mesmo com seus próprios soldados.
Mas o verdadeiro destaque de Tempo de Guerra está na montagem intensa e no trabalho sonoro magistral. É construído um ritmo que alterna perfeitamente os momentos de tensão silenciosa com o transtorno ensurdecedor dos gritos, tiros e explosões.
Curiosamente, os inimigos quase não aparecem em cena. A proposta aqui é focar na perspectiva dos soldados: na eficiência em reagir ao problema, assim como suas tentativas de manter a sanidade. Gerando uma crueza gráfica e brutal que não romantiza o cenário de guerra.
Para quem sente falta de um filme de guerra visceral, realista e sem aquele excesso de patriotismo, Tempo de Guerra é uma experiência cinematográfica poderosa — e está em cartaz nos cinemas.
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