Meira Souza

Tudo posso, mas nem tudo me convém

Reposição hormonal e implicações para saúde

Por Dra Meira Souza
Publicado em 26 de março de 2022 | 03:00

Anos atrás, o tema de reposição hormonal era quase que praticamente a mulheres que estavam no processo de menopausa ou após ela.

Era um pouco como andar em uma corda bamba. Se, por um lado existia o alívio dos sintomas pós-climatério, por outro os riscos de provocar câncer através dessa reposição eram um medo constante.

O tema “hormônios biodênticos” invadiu os espaços médicos e tem sido reconhecido como uma forma mais segura de lidar com as eventuais necessidades da reposição de hormônios.

No entanto, as inovações médicas raramente se mantêm em apenas uma área de atuação, e, assim como diversas outras inovações do meio médico, os hormônios começaram a ampliar seus horizontes.

A década de maior plenitude hormonal é entre os 20 e 30 anos. A partir desse marco, o declínio progride dependendo da constituição de cada um. O declínio na produção dos hormônios nem sempre é proveniente do envelhecimento, no entanto é inegável dizer que hormônios bem equilibrados são capazes de nos manter jovens por mais tempo e principalmente nos trazer saúde.

Voltando a abordar outras áreas de utilização dos hormônios, me lembro de uma frase muito importante e que ouvi diversas vezes ao longo da vida: “Tudo posso, mas nem tudo me convém.”

Não é porque algo pode ser feito que necessariamente deva ocorrer.

Em medicina, para emitirmos uma opinião sobre algo que não seja meramente uma crítica parcial é sensato que busquemos conhecimento, há alguns anos fiz cursos de modulação hormonal, isso me deixou em contato com um universo de possibilidades que ao mesmo tempo que me encanta me assusta, uma vez que o uso criterioso pode melhorar sarcopenia, reduzir riscos de osteoporose, melhorar quadros de dores crônicas, reduzir déficit cognitivo mantendo o paciente muito mais ativo e com menos riscos de doenças degenerativas.

Porém, tenho assistido pacientes acreditando ser possível solucionar todos os problemas e alcançar uma longevidade saudável com reposição de hormônios.

Na minha observação, o maior segredo para viver mais e melhor ainda é um estilo de vida equilibrado, não somente no aspecto físico, mas também emocional e mais preocupante ainda é o fato de que está ocorrendo um uso sem critério de hormônios em pacientes com muito inflamação crônica: pacientes hipertensos, diabéticos, com hipercolesterolemia, com alterações laboratoriais que aumentam o riscos de acidentes vasculares fazendo uso de hormônios na tentativa de alcançar uma aparência propagada nos meios de comunicação.

Aceitar nossos processos de envelhecimento também é necessário para termos paz e saúde mental, todos vamos envelhecer e, se aprendermos a apreciar esses momentos em vez de tentar retardá-los o máximo possível, poderemos viver o agora e o futuro com a intensidade, sabedoria e aparência necessária para excedermos nossas expectativas em todos por toda a vida. (@dra.meirasouza)