A alta exposição dos tempos atuais faz com que nosso foco saia da saúde e e a ser meramente estético. Tentamos nos justificar com promessas de melhor performance, mas eu acredito fortemente que a performance não deve jamais estar acima do fisiológico.

O abuso de substâncias como testosterona, tanto em homens quanto em mulheres, pode alterar o hemograma, causando aumento de hemácias, assim como aumento de marcadores inflamatórios. Isso torna o sangue mais viscoso, podendo provocar acidentes cardiovasculares, como infarto, angina, AVC, trombose e embolia pulmonar.

Fica a pergunta: qual o limite da estética? Quando está bom o suficiente? Será que vale tudo para sermos mais bonitos, mais sarados, mais definidos?

A beleza pela beleza é algo vazio se não há um objetivo, não há um fim, uma busca infinita para ser mais bonito. Resta-nos perguntar, mais bonito que quem?

Muitas vezes, queremos ser mais belos que nossas inseguranças e, enquanto elas não forem adereçadas, seremos capazes de realizar loucuras.

No início da minha carreira, anestesiei pacientes que queriam corrigir elementos que o próprio cirurgião tinha dificuldade de identificar, como uma mínima gordurinha na bunda que só aparecia quando a paciente estava de pé. Se ela se deitasse, a gordurinha sumia, e o cirurgião não conseguia operar. Dessa forma, a paciente desejou realizar a cirurgia de pé, com anestesia local. Eu me recusei a anestesiar, mas acredito que ela deve ter encontrado alguém que estivesse disposto a realizar o procedimento.

Diferentemente de processos cirúrgicos que, por mais invasivos que sejam, se não afetarem uma estrutura fundamental, não costumam dar maiores problemas, o abuso de testosterona causa diversos efeitos colaterais que am do limite da saúde e, muitas vezes, podem interferir até mesmo na sanidade daquele que abusa da substância.

Recebi uma paciente que estava com a testosterona muito acima do limite máximo tolerável e, apesar de já conhecer os efeitos, fiquei muito negativamente surpresa com a bagunça que a testosterona havia causado em sua vida.

Seu marido também abusava do uso de testosterona, e os vizinhos já haviam ligado para a polícia algumas vezes para denunciar as brigas homéricas à polícia. Ela identificava que o relacionamento era abusivo, ele já havia até mesmo a agredido, no entanto sua libido e até mesmo a percepção de violência estavam muito alteradas.

Ela relatou o quanto se sentia presa por seu desejo sexual, como se houvesse uma cortina que a blindasse de perceber os horrores da situação.

É uma das promessas do uso da testosterona e do aumento da libido, mas tudo feito sem critério se torna uma prisão.

Hoje, depois de mais de dez anos de relacionamento, ela pisa em ovos para viver em sua própria casa.

Abuso pode ocorrer em qualquer relação, mas precisamos estar lúcidos e saudáveis para conseguirmos entender a hora de sair e priorizarmos o que nos faz bem.  (Instagram dra Meira Souza)