A subversão da medicina integrativa
Totalidade reduzida a prescrição de suplementos
A medicina integrativa tem em seu cerne algo muito interessante: a proposta de enxergar o homem em sua totalidade, entendendo que uma dor de dedo pode vir da coluna ou de que um problema de estômago pode vir de uma situação estressante não resolvida.
A visão integrativa é o entendimento de que o homem é um ser complexo e multifacetado. Muitas vezes a medicina vai conversar com outras áreas, como fisioterapia, nutrição, psicologia. Ou seja, uma integração de profissionais para a percepção global do paciente e dos processos que o fortalecem ou o adoecem.
Com tantas áreas profissionais para cuidar do indivíduo, é crucial que exista um elo ou ao menos uma conversa entre elas. A expressão integrativa surgiu com esse propósito, para estimular a construção de saúde.
Mas, como ocorre em muitas outras áreas, apesar de ser difícil entender o motivo, a medicina integrativa sofreu uma forte redução em termos de função. O que foi feito para enxergar o indivíduo em sua totalidade agora não a de mera indicação de reposição de vitaminas, minerais e hormônios, em uma análise cartesiana que vê o sujeito como um ser unidimensional e ignora uma profunda compreensão fisiológica necessária para entender as nuances de cada um.
O corpo é uma estrutura muito complexa. Toda e qualquer reposição, antes de ser feita, deve primeiro levar em conta sua real necessidade. É primordial ir além de simplesmente repor o que está baixo e suprimir o que está alto. É preciso entender o que fez a alteração do exame ocorrer em primeiro lugar e a individualidade da necessidade.
Não se trata uma tabela de resultados laboratoriais.
Um valor que atende as necessidades de uma pessoa pode não atender as necessidades de outra.
Esse reducionismo, focando a abordagem apenas em valores, e não em seres humanos, descaracterizou em muito a proposta da ampliação da percepção do indivíduo com o objetivo de reforçar suas potências para atingir a liberdade, ando, ao contrário, a vulnerabilizar e gerar dependências, o que em nada difere do que a dita medicina integrativa critica, que é a visão fragmentada do indivíduo.
Continua gerando necessidade para alimentar uma forte indústria – que antes era de remédios e agora é de suplementos e hormônios, usados muitas vezes de forma inconsequente, pois o que não é verdadeiramente necessário traz consequências negativas a longo prazo.
Ignora que nosso corpo tem uma grande capacidade de sintetizar quase tudo que precisa a partir de uma alimentação bem equilibrada e um bom estilo de vida.
Voltamos a fornecer ao paciente aparentes soluções que não exigem nenhum comprometimento. A visão alopática do alívio do sintoma sem correção do problema domina novamente.
O caminho do lucro rápido e fácil ainda tenta controlar como lidamos com nossa saúde. A medicina integrativa foi feita para ser o caminho oposto. Portanto, cuidado com quem tenta subverter seu significado.