Precisamos estar nos eixos
Coluna interfere muito mais do que imaginamos
Precisamos estar nos eixos. Para muitos, essa frase significa retomar o controle da própria vida e, apesar de eu concordar, sempre que ouço essa frase, eu penso em outra coisa.
Penso em nosso eixo vertebral e como ele é capaz de interferir em muito mais do que se pensa.
Em minha clínica de tratamento de dor recebo diversos pacientes com o diagnóstico de cefaleia, e as causas são diversas, mas uma das mais comuns e ignoradas é a do cuidado com a postura e anatomia da coluna cervical.
Pacientes chegam até mim com diversos diagnósticos: enxaqueca, cefaleia tensional, cefaleia idiopática... A maioria deles, inclusive, já fez dezenas de exames de imagem – tomografias, ressonâncias – e, como não apresentam nenhuma alteração encefálica, ou seja, nos tecidos do cérebro, eles recebem a recomendação de fazer uso crônico de medicamentos analgésicos preventivos.
O uso crônico de medicamentos sem a resolução do problema já é um excelente indicativo de que estamos procurando no lugar errado e de que é falsa a interpretação de que o problema é cerebral.
Comumente encontramos a alteração que produz esse sintoma doloroso no posicionamento da cabeça, que se projeta para a frente, funcionando como um pêndulo que precisa ser sustentado pela musculatura em torno da coluna cervical; isso exige que a musculatura em torno da coluna cervical permaneça contraída o tempo todo para aumentar a sua força de sustentação.
A musculatura que conecta a cabeça à cervical comprime os nervos occipitais que enervam a cabeça, e isso provoca muita dor. Essa dor contratural e da irritação do nervo pode até mesmo se manifestar como uma sensação dolorosa no fundo dos olhos.
Essa dor pode confundir muito, pois seu sintoma parece estar dissociado da causa real.
No entanto, quando examinamos a musculatura cervico-torácica, percebemos uma musculatura cheia de nódulos e muito enfraquecida. Por vezes esta é a causa completa, por outras ela é o fator desencadeador de outros problemas, como um quadro enxaquecoso, por exemplo. Essa situação preocupa e pode até mesmo afetar a articulação temporomandibular. Encontrar as alterações que causam a dor é mais importante do que nomeá-las quando desejamos realmente curá-las.
Com o aumento do tempo de uso de celular, essas queixas estão cada vez mais frequentes e em pessoas cada vez mais jovens, o que tem aumentado muito o uso de medicamentos que impactam enormemente o fígado.
Para lidar com essa questão, é extremamente importe considerar na avaliação das dores de cabeça também a observação da coluna cervical.
Também é importante incluir práticas de atividade física, técnicas de relaxamento, ajustes das condições de trabalho e estudo, uma maior percepção de si durante o consumo de telas e mesmo sessões de fisioterapia, se assim for necessário.
Dessa forma é mais provável que tratemos a verdadeira causa do problema e poupemos o paciente de muitas outras sobrecargas e frustrações.
Meira Souza
Médica e escritora
(@dra.meirasouza)