Então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres se reuniu com o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, que chefiava o Comando Militar do Planalto (CMP), em 6 de janeiro, dois dias antes dos ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília, que visavam a destituição de Luiz Inácio Lula da Silva da Presidência da República, com uma intervenção militar.

A revelação é do portal Metrópoles, que teve o ao registro oficial do encontro, realizado às 10h de 6 de janeiro, na sala de reuniões da Secretaria de Segurança Pública. Ambos são investigados pela Polícia Federal como principais autoridades envolvidas na facilitação do o de extremistas bolsonaristas ao Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal em 8 de janeiro.

Na noite de 6 de janeiro, Torres, que havia assumido o cargo havia apenas quatro dias, viajou de férias para os Estados Unidos, sem avisar o governador Ibaneis Rocha (MDB). Torres foi com a família para a Flórida, onde também havia desembarcado, com a família, uma semana antes, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Torres foi ministro da Justiça do governo Bolsonaro, deixando o cargo para assumir a Secretaria de Segurança Pública do DF. 

Tanto Torres quanto o general Dutra já foram citados por testemunhas em investigações da Polícia Federal, Polícia Militar e Câmara Legislativa do DF sobre omissão, facilitação e até participação direta no movimento que culminou nos atos criminosos de 8 de janeiro. 

Integrantes da PMDF já disseram à corregedoria da corporação e à “I dos Atos Antidemocráticos” da Câmara Legislativa do DF que o general Dutra impediu ações para remover o acampamento de bolsonaristas no Quartel General do Exército, que permaneceu montado, em Brasília, por dois meses. 

Dutra era o chefe do Comando Militar do Planalto durante todo o período em que os apoiadores de Jair Bolsonaro mantiveram o acampamento. Foi de lá, por exemplo, que saíram os autores do atentado à bomba no Aeroporto de Brasília, que acabou frustrado por PMs quando o artefato estava prestes a explodir, em 24 de dezembro.

Também estavam no acampamento os participantes dos atos violentos na área central de Brasília na noite de 12 de dezembro, quando um bando tentou invadir a sede da PF e, sem sucesso, ou a quebrar e incendiar o que encontravam pela frente, inclusive carros particulares e ônibus do transporte público.

Por fim, saíram do acampamento, em marcha e escoltados pela PM, a maioria dos envolvidos na invasão e depredação dos prédios públicos da Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro. Aqueles que não foram presos retornaram ao QG. No início da noite, o comando do Exército colocou blindados e homens fortemente armados para evitar que policiais militares cumprissem ordem de prisão em flagrante dos bolsonaristas reunidos no acampamento.

Também há diversos depoimentos de autoridades, do DF e nacionais, que relatam tentativas de desmobilização do acampamento muito antes dos atos de 8 de janeiro que foram impedidos pelo Comando Militar do Planalto. Por outro lado, o Exército pediu ao governo do DF ajuda na limpeza, organização e manutenção do acampamento.

Uma semana após os atos de 8 janeiro, o Exército demitiu Dutra do cargo, que ou a ser ocupado pelo general Ricardo Piai Carmona.

Andresson Torres também se reuniu com comandante da PM antes de deixar o país

Ainda segundo o Metrópoles, Anderson Torres teve seis reuniões antes de viajar ao exterior, deixar a função e perder o posto devido às investigações sobre a tentativa de golpe de Estado – foi exonerado por Ibaneis ainda em 8 de janeiro, quando o governador soube que ele não estava mais no Brasil. Além do encontro com general Dutra, o ex-secretário esteve com o então comandante-geral da Polícia Militar do DF, coronel Fábio Augusto Vieira, em 3 de janeiro.

Fábio foi preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF, em 10 de janeiro, por suposta omissão ou conivência nos atos criminosos de 8 de janeiro. Porém, em 3 de fevereiro, Moraes concedeu liberdade provisória ao coronel, avaliando que ele não teve responsabilidade direta nas falhas para conter as invasões. 

Já Torres, que teve a prisão decretada quando estava nos EUA, acabou detido ao desembarcar no aeroporto de Brasília em 14 de janeiro. Desde então está em uma sala do Batalhão da PM no Guará, sob investigação em inquérito da PF. Apesar de solto, o coronel Fábio também continua sob investigação, assim como Ibaneis, que voltou ao cargo há duas semanas, após 65 dias afastado por ordem de Moraes.

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