Trocas de mensagens no WhatsApp, periciadas pela Polícia Federal, comprovam que a cúpula da segurança pública do Distrito Federal acompanhou a chegada de ônibus com bolsonaristas radicais em Brasília (DF) para os atos criminosos de 8 de janeiro.

O monitoramento foi feito a partir do dia 6 de janeiro, com a situação do acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército, até o dia da invasão aos prédios públicos, com atualização do número de caravanas e pessoas presentes. O QG do Exército fica localizado no Setor Militar Urbano, em Brasília, a cerca de 8km do Congresso Nacional.

O documento aponta que boletins com a situação eram atualizados em um grupo chamado “Difusão” e que tinha como integrantes o ex-secretário de Segurança Pública (SSP) do DF, Anderson Torres; o ex-secretário-executivo da SSP, Fernando Oliveira; a delegada da Polícia Federal Marília Ferreira de Alencar, responsável pela área de Inteligência da SSP; o ex-comandante da Polícia Militar do DF, Fábio Augusto; e os policiais civis Thiago Frederico de Souza Costa e Alberto Barbosa Machado Nunes Rodrigues; e o tenente-coronel da PM, Jorge Henrique Pinto.

O registro mais crítico antes da invasão aos prédios públicos foi enviado às 14h08 do dia 8, com informações de 13h10, com a informação da presença de 126 ônibus interestaduais em Brasília para o ato chamado de “Tomada de Poder”, em oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O aviso já indicava o deslocamento de grupos para a Esplanada dos Ministérios.

Às 14h50, o alerta já era de que “muitos participantes do ato estão subindo a rampa do Congresso Nacional” e, cinco minutos depois, de invasão ao prédio com gritos de palavras de ordem e de ação para invadir o Supremo Tribunal Federal (STF).

O primeiro alerta com a presença da chegada de caravanas de outros estados foi enviado no grupo às 8h10 de 7 de janeiro. A informação era de que o movimento nacional “Tomada de Poder” aconteceria nos dias 7 e 8 e que um informe da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) esperava a chegada em Brasília de 43 ônibus interestaduais com 1622 ageiros no decorrer do dia.

No momento, já havia sido constatada a presença de alguns ônibus na Granja do Torto, região que abriga a residência de campo da Presidência da República, mas tem outras áreas de atribuição do governo local. O mesmo informe trazia a percepção de “uma movimentação de pessoas chegando ao acampamento” no QG do Exército.

O aviso começou a apontar uma maior movimentação às 13h45 do dia 7. “Já foi constatada a chegada de 50 ônibus em Brasília para compor o movimento de ‘resistência patriótica’”, dizia. No QG, o público presente já havia subido de 300 - como no aviso anterior - para 1,5 mil pessoas, com o anúncio de uma marcha em direção à Esplanada dos Ministérios.

“Há uma percepção de que os manifestantes que chegaram em caravana estariam com ânimos mais exaltados e dispostos, inclusive, a confronto com as forças de segurança”, frisava o informe.

Às 21h55 ainda de 7 de janeiro, já eram 80 ônibus de caravanas e público de 2,5 mil pessoas no QG do Exército. Havia, ainda, cerca de 25 ônibus na Granja do Torto, mas presença de poucas pessoas no local. No primeiro boletim divulgado em 8 de janeiro, às 5h30 , já eram 87 ônibus chegados em Brasília e 2,8 mil na área do QG.

“Sem animosidade no interior do acampamento do QGEx. A maioria dos acampados ainda recolhida nas barracas dormindo. Manifestantes que chegaram durante a madrugada desembarcaram com materiais de camping e até um gerador”, dizia o boletim.

Às 9h18, o ex-secretário-executivo da SSP enviou um informe ao governador afastado Ibaneis Rocha (MDB) sobre a situação do movimento. O texto dizia que 99 ônibus já haviam chegado ao DF e que o público oriundo de caravanas era de 2,5 mil pessoas com alimentos, água e material de higiene.

“Bom dia, Governador! ando pro senhor as últimas notícias...da madrugada e do início do dia...não houve nenhuma intercorrência relacionada aos manifestantes. Tudo bem tranquilo, eles estão lá no...a maioria no QG, mas de forma pacífica e tranquila”, disse Fernando em áudio enviado a Ibaneis logo em seguida ao boletim.

Outras mensagens periciadas pela PF mostram autoridades preocupadas com a situação e Ibaneis minimizando os alertas sobre os planos de ataques às sedes dos Três Poderes da República, mesmo já com o começo dos atos de bolsonaristas radicais em Brasília em 8 de janeiro.

Ibaneis só itiu a gravidade quando os prédios já haviam sido tomado por extremistas que tentavam derrubar Lula. O chefe do Executivo do DF chegou a pedir o acionamento do Exército, o que não foi acatado e era visto pelas autoridades federais como estratégia para instalação de uma intervenção, com o afastamento do petista.

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