Peregrinação

Ministros começam romaria para ajudar na interlocução com lideranças evangélicas

Auxiliares do Palácio do Planalto estão dando sinais - especialmente em ano de eleições municipais - de que é necessário adotar uma postura mais flexível

Por Manuel Marçal
Publicado em 21 de março de 2024 | 07:10

Enquanto o governo federal patina para estabelecer uma comunicação efetiva para fazer chegar na ponta os feitos da atual gestão entre o público evangélico, os responsáveis pela articulação política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já entraram em campo.

Embora o petista evite reconhecer publicamente a importância dos acenos aos líderes religiosos, auxiliares do Palácio do Planalto estão dando sinais - especialmente em ano de eleições municipais - de que é necessário adotar uma postura mais flexível.

Nesse sentido, depois de um ano de diálogo, o governo aceitou avançar nas tratativas da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que concede isenção tributária aos templos religiosos - desejo antigo de congregações evangélicas.

Apelidada de PEC dos Evangélicos ou PEC dos Templos, a matéria teve avanços dentro do Ministério da Fazenda após uma reunião, na terça-feira (19), da equipe econômica com o relator do projeto, Fernando Máximo (União Brasil - TO), o autor do texto, o deputado federal Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), e outras lideranças religiosas.

Com aprovação dada como certa na Câmara dos Deputados, os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) se anteciparam para selar um acordo sobre a matéria com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Na última quarta-feira (20), Padilha também se encontrou com lideranças da bancada evangélica na Casa e ficou acertado que o texto será votado após a Semana Santa na Câmara dos Deputados. Desse encontro, ninguém saiu reclamando. 

O messias do governo Lula

Ligado à Igreja Batista, o advogado-Geral da União, Jorge Messias, é o ministro mais proeminente na tarefa de aproximação dos evangélicos com Lula. Ele tem conversado com lideranças religiosas para “limpar ruídos”, segundo palavras dele próprio.

Messias está costurando um encontro entre Lula e pastores evangélicos para abril. No mês ado, o petista foi convidado para participar de um culto da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional e mandou Jorge Messias como representante. 

Um interlocutor do governo contou que a Esplanada dos Ministérios é repleta de evangélicos na composição do governo. Ele lembrou que no alto escalão, além do próprio Jorge Messias, há a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas. De acordo com esta fonte, dentro dos ministérios da Saúde e Educação há muitos fiéis do segundo e terceiro escalão atuando como técnicos e tocando a máquina pública.

Segundo disse, explorar essa informação pode ser algo que a cúpula mais próxima de Lula poderá decidir, como eventual estratégia de melhorar a imagem do governo para uma parcela religiosa da população.

A mudança começou

Fato é que o clima tem mudado na Esplanada. O vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), por exemplo, usou as redes sociais na noite de quinta-feira (14) da semana ada para mostrar que teve encontro com pastores e lideranças evangélicas na área de comunicação.

“As comunidades evangélicas confortam e informam sobre amor e acolhimento”, escreveu. Na sequência usou uma agem bíblica. “A verdade deve ser expressa em amor (Efésios 4:15)”. Coincidência ou não, ao falar em verdade, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) citava o Evangelho de João (8.32). “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará João 8:32”.

Horas antes da agenda, questionado pela reportagem de O TEMPO Brasília sobre estratégia do governo para os evangélicos, Alckmin saiu pela tangente e explicou que o tema continuará sendo tratado dentro do Ministério de Relações Institucionais, comandado por Alexandre Padilha. “Receber lideranças religiosas, a gente sempre recebe”, desconversou o vice. 

Já o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, responsável por tocar uma das vitrines do governo federal, o Bolsa Família, cumpriu agenda no Rio de Janeiro na última sexta-feira (15). Entre os compromissos, Dias, que é católico, teve encontro com mais de mil participantes de congregações evangélicas em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

A cidade é comandada pelo prefeito Waguinho (Republicanos), que ao lado da esposa, a deputada federal e ex-ministra do Turismo, Daniela Carneiro, foram importantes apoiadores de Lula com os evangélicos em um dos principais colégios eleitorais do Rio de Janeiro.