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Rafaela Lôbo

É mestre em análise do discurso pela UFMG, empresária, CEO da Scriptus Comunicação e idealizadora do Projeto Comunique-se Bem. Escreve quinzenalmente sobre comunicação em suas várias dimensões

RAFAELA LÔBO

Velhice e senilidade

A diferença começa em uma escolha que fazemos

Por Rafaela Lôbo
Publicado em 19 de março de 2025 | 07:00

Já escutou a expressão “velho senil”? Desde criança lembro-me dela como uma espécie de xingamento, como a denúncia de que alguém está ficando incapaz. Porém, com o tempo, tenho separado muito as duas coisas. “Velho” é um termo muito diferente de “senil”.

A velhice está relacionada à idade documental que temos. O tempo a, a idade chega, o corpo muda, as rugas surgem, e, mesmo que as pessoas pintem o cabelo, façam plásticas ou exercícios físicos, a idade está lá, marcada no RG. Porém, a idade mental não é necessariamente a física de uma pessoa, e, hoje, ter idade de aposentadoria não significa que a pessoa vai parar de produzir. Além disso, ser velho pode significar, também, que a pessoa raciocina, tem experiência, pensa antes de fazer (o que evita muitos problemas). A velhice é para pessoas safas e experientes.

Já senilidade é decrepitude, relaciona-se àquela outra expressão comum, “velho decrépito”. É um abatimento físico e mental, uma incapacidade de pensar e de reagir às situações do dia a dia; é quando a pessoa, de tão incapaz, a a se parecer com uma criança novamente. Cheguei à conclusão de que nem todo velho é senil, e muito menos posso afirmar que ser velho é ser decrépito.

Há pouco tempo, tive a grande oportunidade de assistir à palestra de Ozires Silva. Para quem não o conhece, ele é simplesmente a pessoa que, com jovens colegas, criou a Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. (Embraer), em 1969. Engenheiro de formação militar, o homem foi presidente da Petrobras, é ex-ministro da Infraestrutura, trabalhou na Philips, no World Trade Center (ainda bem que não foi em 2001), no banco Barclays… Claro, ele fala de forma mais pausada, as rugas e o tom de voz denunciam a idade, mas estou fascinada, o homem cria e inova até hoje. É velho, não é senil!

No entanto, tenho ido a muitas empresas para ministrar treinamentos, e, ao falar em inovação, sempre bate alguém de frente alegando fazer a mesma coisa há 20 ou 30 anos. “Faço isso há 30 anos e sempre deu certo, não vou mudar”. Meu caro, sinto te contar, mas tudo muda! Há 30 anos não havia telefone em todas as casas, quanto mais celulares com o à internet, fora a Inteligência Artificial (IA), que está mudando o mundo!

Isso mesmo, meus caros, mantenham-se os mesmo, cantem as mesmas músicas que fizeram sucesso em sua carreira 30 anos atrás, façam suas tarefas da mesma forma, resolvam tudo como sempre resolveram, para que vocês vão mudar? 

Conheço gente senil de 40 anos. São pessoas incapazes, que fazem sempre a mesma coisa, não inovam. Eu posso ser velha porque penso no futuro como se tivesse muita idade, planejo cada o de minha vida, almejo cada degrau. Nunca pensei como um adolescente que acha que tem de viver o agora, nunca fui santo Agostinho (354-430 d.C.), filósofo católico que queria viver o presente, aproveitar a vida, para só depois se tornar santo. Vivo o presente almejando o futuro, produzo. 

Ser velho ou senil, muitas vezes, começa em uma escolha que fazemos. Ser produtivo ou repetir a mesma coisa é decisão de cada um. Afinal, ser velha pode não ser problema, pode até ser solução – não quero é ser senil.