É golpe
Comunicação e psicopatia a serviço de enganar o outro
O artigo 171 da Constituição diz respeito ao crime de estelionato, que se refere a enganar alguém para obter vantagem. Esse artigo foi criado em 1940. Então, dar golpe não é novidade.
Entre os golpes mais famosos está o aplicado por Victor Lustig, que, em 1925, vendeu a Torre Eiffel para turistas alegando que o governo não tinha dinheiro para manutenção. Sempre achei divertido pensar que alguém foi a Paris e acreditou em um estranho aleatório. Se nem o governo conseguia manter a Torre, por que eu conseguiria?
Agora, com o advento da internet, tem tanto golpe na praça que parece que nunca vivemos algo parecido. Hoje tem golpe do boleto falso, da maquininha, do Pix, golpes amorosos, do presente falso, do motoboy, do telefone trocado, do sequestro...
Muitos fatores podem levar alguém a cair nesses golpes que podem acontecer com idosos que não acompanham as mudanças sociais, com pessoas endividadas ou desempregadas que tentam buscar soluções milagrosas para o que vivenciam, ou, ainda, com pessoas solitárias ou imaturas emocionalmente e até com pessoas comuns.
O que me chama atenção, no entanto, não é necessariamente pensar em quem sofreu golpe, mas no golpista, e tentar entender o porquê de o ser humano preferir ganhar a vida com fraudes, e não com trabalho. Alguns vão me responder, de imediato, que “o mundo é dos espertos”, que “é mais fácil dar golpe que trabalhar”. Mas eu discordo.
Imagina, por exemplo, ter de criar todo um sistema de comunicação com gravações simulando um banco ou uma empresa, contratar telemarketings, criar textos críveis, comprar informações de dados de quem receberá ligações... A logística, o investimento e a istração dessas organizações golpistas são complexos, então não me parece um dinheiro nada fácil.
Quem consegue usar toda a criatividade para criar um golpe, quem investe o dinheiro que tem para “ar o outro na cara” poderia facilmente empreender em outra área e se dar bem. Mas me parece que o jogo é mais interessante para essas pessoas. É uma questão de poder: “Sou superior às outras pessoas, por isso faço o que faço”. “A culpa não é minha, mas de quem caiu na minha lábia; ele é que é um bobo, e eu não tenho culpa disso”.
Para mim, muitos desses golpistas são psicopatas que jogam o tempo todo porque é divertido para eles, usam a inteligência para enganar porque lhes agrada. E é aí que a coisa fica complexa para quem é correto: uma lista gigante de dicas para evitar cair em fraudes não resolve muito quando escutamos o que nos parece real.
Acredito que a única forma de não cair em um golpe é desconfiar da perfeição. A comunicação desses golpistas é tão boa porque é “perfeita ou emocional demais”, e ninguém ou nenhuma empresa é tão perfeita. Um banco não vai me ligar para me ajudar, um namorado não vai dizer tudo o que quero, e ninguém vai ficar me enviando presentes aleatoriamente. Não, a sociedade não vai me ajudar, e nada vai cair do céu. Se está bom demais para ser verdade, é golpe!