O ócio criativo é muito conceituado e transmite a ideia de que, para criar algo, precisamos de momentos de ócio, a fim de que o cérebro tenha tempo para pensar, refletir. Essa teoria pode nos levar a pensar que, antigamente, quando víamos aquela vida lenta do interior, com velhinhos na praça jogando damas ou senhoras sentadas na varanda tricotando ao final do dia, teríamos pessoas mais criativas do que as de hoje. Será?

As cidades tornaram momentos de ócio cada vez mais raros – parar se tornou um raro prazer. Hoje, a vida nos empurra, às vezes nos atropela; dormimos pensando na lista de tarefas, acordamos correndo e emendamos um problema no outro. Quando o cérebro exige uma parada, criamos um raro momento de fuga, muitas vezes olhando as redes sociais, o que nos tira das nossas atividades diárias, mas não dá uma pausa para a nossa mente. Se levássemos em conta a ideia do ócio criativo, seria impossível criar. Mas ainda há novas criações, e são muitas!

Quando falo que por si só não acredito que o ócio criativo seja algo tangível, sempre me perguntam como, então, podemos nos tornar mais criativos. Na minha concepção, para criar, precisamos, principalmente, reinventar. Mais do que construir algo novo, vejo a criação como uma reinvenção, ampliação ou readequação de ideias. Tesla, por exemplo, criou a corrente alternada usando geradores movidos a vapor – diga-se de agem, o motor a vapor já era extremamente utilizado na época. Hedy Lamarr, a mulher que criou o Wi-Fi, aproveitou os sinais de radiofrequência, que já eram conhecidos na época com o objetivo de guiar torpedos durante a guerra, e revolucionou o mundo.

Inúmeras criações são reinvenções de algo que já existia e foram adaptadas a um novo uso.

Para conseguir fazer isso, precisamos ir muito além do simples ócio. Precisamos ter o a informações e observar o que existe para depois criar novidades. Acredito que algo que ajuda é desenvolver o que alguns chamam de “pensamento arbóreo” ou “ramificado”. 

Mas o que é isso? Para tudo há uma ideia central conhecida, e, a partir dessa ideia, criamos outras, isto é, aproveitamos uma ideia central em novos ramos que vêm do mesmo tronco.

A criação é a união de vários fatores. Precisamos ter o a novos conhecimentos e culturas, que nos levem a novos ares, a novas ideias; isso, porque quem tem o tem mais chance de criar. Mas, para isso, precisamos realmente do tal ócio, ou seja, do tempo para pensar e, principalmente, precisamos já ter um foco de criação – um tema sobre o qual queremos criar algo ou um problema que queremos resolver. A solução criativa para um problema só vem para quem está antenado ao problema em si.

Não acredito que as pessoas que tenham uma vida tranquila estejam mais prontas para a criação, como também não acredito que quem corra o dia todo esteja necessariamente criando. Só sei que criar é um projeto complexo e que exige esforço, como qualquer outro. E você, o que deseja criar?