Além da vulnerabilidade
Diagnóstico não é destino final
A vulnerabilidade e a inexorabilidade da vida já bateram em minha porta algumas vezes. Precisamente 18 vezes eu me vi em uma cama de hospital em um pós cirúrgico, fora outros momentos. Os motivos foram diversos, 1 hérnia, 4 cistos, 6 abortos e 7 cirurgias para ar as dores que a endometriose me causa, na prática realizei uma cirurgia a cada 2,5 anos.
Aos 19 anos, eu desmaiei de dor devido à endometriose pela primeira vez. Nesse dia, perguntei ao médico em quanto tempo eu morreria. Ele disse que minha doença geraria dor, muita dor, mas não me mataria, eu viveria o mesmo tempo que qualquer outra pessoa. Até ali eu acreditara que morreria cedo, foi desesperador pensar que eu viveria sentindo dor. Era um tipo raro de endometriose e nem os médicos sabiam bem o que fazer. Tornei-me depressiva e anoréxica, queria morrer.
Poucos anos depois, cansado de me ver desmaiando, o médico me orientou a entrar no INSS com pedido de aposentadoria por invalidez. Eu tinha apenas 22 anos, 22!
Eu disse não, eu prometi a mim mesma naquele dia que nenhuma doença iria me segurar, eu aprenderia a conviver com a dor. Comecei a me dedicar cada vez mais ao trabalho, rapidamente crescia em todo local que eu começava a trabalhar, tornei-me coordenadora aos 25 anos, palestrei, ministrei treinamentos, trabalhei em instituições públicas e privadas, fiz pós e mestrado, hoje sou empresária.
Há dias em que me pergunto o que teria sido de mim se não fosse o desafio que a vida me impôs, a gente tem que tomar decisões e, muitas vezes, é quando a gente está na berlinda que a gente decide. “No pain, no gain”, comigo foi assim sempre. Quem nos vê trabalhando, estudando, conquistando, não sabe o quanto a gente fez e faz para chegar aonde deseja.
Rubem Alves, quando escreveu o texto “A pipoca”, metaforizou a vida explicando que somos milho de pipoca e que ali, na a, quando a gente está pensando que vai morrer devido ao calor externo e à pressão interna, a gente tem uma escolha, virar uma flor, que é a pipoca, ou se recusar a mudar e virar piruá e o destino do piruá é o lixo. Como uma boa paulistana, eu não sabia o que era um piruá, descobri aqui em Minas, mas a verdade é que eu escolhi ser pipoca.
Todos os dias eu acordo para ser uma flor branca única, quero deixar uma marca latente na sociedade em que vivo quando me for. Por isso, eu faço o que amo com dedicação, o mediano não me serve. A inexorabilidade da vida é a morte, o corpo é a máxima vulnerabilidade, mas a minha mente não é vulnerável.
Minha jornada, embora única, carrega a lição de que um diagnóstico não é um destino final, mas um ponto de partida para redefinir limites. Escutei de uma amiga com câncer que é possível transformar a dor em propósito, a fragilidade em força.
Cada desafio é uma oportunidade de crescimento e cada superação é uma história que pode inspirar e fortalecer outros em suas próprias jornadas. Descobri que não só a morte é inexorável, mas o que levaremos da trajetória, isso não teremos como mudar