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Rafaela Lôbo

É mestre em análise do discurso pela UFMG, empresária, CEO da Scriptus Comunicação e idealizadora do Projeto Comunique-se Bem. Escreve quinzenalmente sobre comunicação em suas várias dimensões

RAFAELA LÔBO

Natal: O Espelho das Emoções Humanas

Dia de apenas ser

Por Rafaela Lôbo
Publicado em 27 de dezembro de 2024 | 19:26

25 de dezembro, Natal. Fiquei pensando se nesses 15 anos em que escrevo colunas, alguma vez eu já tinha tido o privilégio de publicar um artigo no dia do Natal e a resposta foi negativa. Mas o que esperar de um artigo publicado hoje?

Eu poderia pensar que meus leitores desejam saber que as pessoas nesta época estão mais amorosas porque alguns estudos da neurociência explicam que o ambiente festivo influencia a liberação de hormônios como a oxitocina, que está associada a sentimentos de amor e conexão.

Eu poderia pensar que, na verdade, os leitores querem saber que pesquisas da psicologia social indicam que a atmosfera festiva e os rituais associados ao Natal podem aumentar os sentimentos de felicidade, gratidão e unidade social.

Ou, ainda, eu poderia refletir com vocês sobre o fato de que antropologia pode nos explicar sobre como diferentes culturas incorporam tradições natalinas em seus próprios contextos, reforçando a ideia de comunidade e de família.

Mas não, estamos cansados disso! Hoje não é dia de análises profundas, é dia de apenas sentir, seja o cansaço do ano, a presença da família ou a solidão de quem não quer ou não tem ninguém.

O Natal provoca um caleidoscópio de emoções, isso porque enquanto muitos sentem pertencimento, outros sentem nostalgia, pressão social ou tristeza.

A lembrança de natais ados, especialmente para quem perdeu alguém, pode trazer melancolia. Além disso, para quem não consegue estar no padrão de felicidade e generosidade imposto pela sociedade, as pressões sociais podem ser esmagadoras, levando a sentimentos de insuficiência ou de estresse.

Ao mesmo tempo, há aqueles que trabalharam muito o ano todo e sentem que é o momento para relaxar e até dormir. Para outros é hora de trabalhar e ter um dinheiro extra nas festas, eu mesma tenho amigos que trabalham como papai-noel e é um bom dinheiro que entra no final do ano, fora os restaurantes que preparam ceias para as famílias.

Tem os que se dedicam à caridade e am o Natal em abrigos, casas de repouso ou apadrinham crianças nessa fase. Cada um tem seu caminho, tem seu sentir e por mais que possamos pesquisar isso, tudo vem do que somos dentro do que a sociedade nos permite.

Para além de um fenômeno individual, o Natal também traz curiosidades sociais, a que mais me atrai é o fato de que a diminuição de crimes na véspera e no dia de Natal é comprovada pelos dados de todas as delegacias e em todos os países cristãos. Acredito que isso possa ser atribuído ao fechamento de estabelecimentos e ao aumento do tempo ado em família, até criminoso tira folga.

Mas é Natal e o que tudo isso quer dizer para mim, que estou realmente sendo agraciada ao ter um espaço aqui, neste jornal, neste dia, é que há variadas tradições e significados nessa época, mas todas elas refletem o vasto espectro do sentir humano, desde a mais pura alegria até a introspecção profunda. Mais do que avaliar quem somos, hoje é dia de a gente apenas ser.