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Lady Gaga em Copacabana
O que o Rio ensina a Belo Horizonte?
Amanhã (3/5), Lady Gaga fará um show gratuito na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Mais do que entretenimento, o evento representa uma estratégia consolidada de marketing urbano, política cultural e ativação econômica. Enquanto o Rio atrai os olhos do mundo, Belo Horizonte, com infraestrutura, público e tradição musical, permanece fora da rota das grandes turnês internacionais. A pergunta é inevitável: por que o Rio consegue – e nós não?
O caminho carioca começa com decisão política. Desde os anos 1980, com o nascimento do Rock in Rio, a cidade consolidou sua marca como capital de grandes eventos. Em 2023, lançou o projeto “Todo Mundo no Rio”, uma parceria entre a prefeitura, a produtora Bonus Track e a Live Nation, maior empresa de shows do mundo. A proposta é simples e ambiciosa: realizar um show internacional gratuito por ano até 2029. O modelo é viabilizado por um arranjo entre patrocínio público, apoio institucional e marcas privadas como Itaú, Ambev, C&A e Corona.
Os resultados não tardaram. Em 2024, o show de Madonna em Copacabana atraiu 1,6 milhão de pessoas, gerou R$ 500 milhões em movimentação econômica, lotou 96% da rede hoteleira do bairro e trouxe R$ 1,4 bilhão em retorno de mídia espontânea. Agora, é a vez de Lady Gaga. A expectativa é de 1,2 milhão de pessoas, 200 mil turistas estrangeiros, mais de R$ 600 milhões injetados na economia local, milhares de empregos temporários e transmissão global. A prefeitura investe R$ 10 milhões em patrocínio institucional. O retorno é 50 vezes maior. 50 vezes!
Infraestrutura e cultura
O sucesso desse modelo não é apenas artístico – é político e técnico. O Rio combina infraestrutura testada (estádios, arenas, transporte), vocação turística, apoio governamental, previsibilidade institucional e agilidade para parcerias. É uma cidade que entendeu que cultura é vetor de desenvolvimento, inclusão e imagem internacional. E transformou isso em projeto de cidade.
Belo Horizonte, por sua vez, tem ativos valiosos:
Um estádio icônico, o Mineirão, com capacidade para mais de 60 mil pessoas. Boa oferta hoteleira. Público jovem e consumidor. Uma cena musical viva, com tradição no rock, no pop e no hip hop. Todavia, não tem um projeto articulado de atração de grandes shows. A capital mineira está fora do circuito das grandes turnês: Coldplay, RBD e Taylor Swift não aram por aqui em 2023. Quando vem algum grande nome, é exceção – e não política pública.
Estratégia em sete os
A lição do Rio para nossa cidade é clara. Se queremos transformar shows internacionais em motor de desenvolvimento, precisamos de estratégia. Vamos a ela.
Primeiro, criar uma estrutura institucional dedicada: um gabinete de grandes eventos que integre cultura, turismo e desenvolvimento econômico, funcione como ponto focal de licenciamento, e articule marcas e produtores. Conheço bem a prefeitura e não funciona assim.
Segundo, lançar editais públicos para apoiar financeiramente espetáculos de alto impacto, com critérios objetivos de retorno social, turístico e econômico. E isso não impede o cuidado com cultura local. Pelo contrário…
Terceiro, construir um calendário de atrações com previsibilidade, para atrair patrocinadores com antecedência.
Quarto, mapear locações potenciais além do Mineirão – como Praça da Estação, por exemplo – e estruturá-las para eventos abertos.
Quinto, oferecer incentivos fiscais e institucionais para atrair investimentos do setor privado.
Sexto, atrelar cada evento a campanhas de turismo e posicionamento de imagem.
E, por fim, garantir inclusão: cotas de ingressos gratuitos, áreas íveis, eventos paralelos nos centros culturais da cidade.
Nada disso exige cifras mirabolantes. Exige decisão política, continuidade de gestão e articulação com o ecossistema criativo. O que o Rio fez foi transformar a força simbólica de um show de Lady Gaga em projeto urbano. Enquanto isso, BH assiste da grade. De longe…
Ainda dá tempo de virar o jogo. Contudo, é preciso sair da plateia e ocupar o palco. Lady Gaga já disse certa vez: “Don’t be a drag, just be a queen”. Para Belo Horizonte, o recado serve com outra tradução: não espere aplausos. Construa o espetáculo. O mundo está assistindo