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Rock in Rio comemora quatro décadas de existência como um dos maiores festivais do mundo
Evento abraça a diversidade e amplia o repertório que impregnou na memória episódios relembrados pelos jornalistas de O TEMPO
Comemorando 40 anos de história, o Rock in Rio 2024 chega à Cidade do Rock, no Rio de Janeiro, nesta sexta (13) e permanece até o dia 22, desfilando mais de 50 atrações durante uma semana de festival. Os números superlativos que sempre acompanharam o evento, atualmente um dos mais conhecidos do mundo, dão uma medida da proporção que a iniciativa do empresário carioca Roberto Medina tomou ao longo dos anos.
Se em 1984 – quando Medina ligou para a Rádio Fluminense FM solicitando uma enquete sobre as atrações internacionais prediletas do público –, o plano parecia uma ousadia, hoje pode-se dizer, com segurança, que o sonho de um festival “maior do que o Woodstock”, em suas próprias palavras, se concretizou.
Aproveitando a data, quatro jornalistas de O TEMPO relembram suas experiências em diferentes edições do Rock in Rio, que, em 2024, abraça de vez a diversidade e amplia seu repertório com shows de Travis Scott, Ludmilla, Evanescence, Deep Purple, Ed Sheeran, Will Smith, Gloria Groove, Cyndi Lauper, Ivete Sangalo, Chitãozinho & Xororó, Tati Quebra Barraco, e etc.
“O pequeno metaleiro empolgado, o adulto arrependido”, por Gláucio Castro
“Se a vida começasse agora, se o mundo fosse nosso outra vez, e a gente não parasse mais de cantar, de sonhar…”. Lá se vão exatos 40 anos, mas os versos e a melodia da música tema do Rock in Rio, que tocava insistentemente nas possantes caixas de som da Cidade do Rock, ainda reverberam na minha mente como se tivesse sido há quarenta minutos. Eu tinha apenas 12 anos, talvez não entendesse direito o que aquele momento representava, talvez muita gente que estivesse ali naquele janeiro de 1985 também não tivesse essa noção.
Tudo aconteceu por acaso. Estava ando férias no Rio com minha família na casa de uma tia. Cansado dos meus insistentes pedidos, meu pai resolveu me levar, apesar da minha pouca idade. Fomos (eu, ele e uma prima uns dois anos mais velha) em um ônibus especial exclusivo para o evento: lotado e em pé. Meu pai, sempre preocupado com a nossa segurança, tentava nos proteger de qualquer incidente. Compramos ingresso na hora e entramos naquele espaço gigantesco.
Era janeiro, dia 19, e chovia muito. Tivemos que comprar capas de chuva para os três. Mesmo assim, era como se estivéssemos sem elas, pois ficamos ensopados da cabeça aos pés. Lembro também do lamaçal que se transformou o lugar, que era um enorme gramado nos primeiros dias. Já estávamos no penúltimo dia do evento.
Incentivado por dois primos um pouco mais velhos, me sentia o verdadeiro metaleiro “comedor de morcegos”, mesmo que alguns anos depois ainda fosse me transformar em um autêntico baixinho da Xuxa. Escolhi o dia mais pesado, com shows de Erasmo Carlos, Pepeu Gomes, Baby Consuelo, Ozzy Osbourne, Scorpions, Whitesnake e AC\DC. Isso mesmo. O pequeno metaleiro quis, de qualquer maneira, ir ao dia mais metal daquele ano.
Erasmo Carlos preferiu nem entrar em cena de tanta lata de cerveja que era arremessada no palco pela plateia ávida por ouvir o som pesado das guitarras das bandas internacionais. A essa altura, meu pai já não sabia mais o que fazer para nos proteger de qualquer incidente. Muitas vezes tivemos que sair correndo naquela lama toda para longe de vários tumultos que se formaram. No fim, o palco era apenas uma porção de luzinhas pequenas que víamos de muito longe.
Mas foi histórico assistir a todos aqueles shows, de uma magnitude nunca vista no Brasil, principalmente para um garoto de 12 anos, alucinado com um sino de duas toneladas que descera do teto do palco na hora do show dos australianos do AC\DC. Saí em êxtase, me sentindo um roqueiro de verdade. Foi praticamente um batismo.
Quarenta anos depois, carrego uma frustração impossível de ser corrigida. Naquela época, meu pai tentou a todo custo me convencer a ir um dia antes para assistir ao show do Queen, uma banda muito “calma” para meus padrões na época. Pena não tê-lo ouvido.
“O dia em que fui ver uma boy band no Rock in Rio”, por Paulo Henrique Silva
Um line-up com Prince, George Michael, INXS, Carlos Santana, Billy Idol, Joe Cocker, Information Society e Guns N’Roses era tudo que um garoto de 17 anos que não saía do lado do rádio poderia desfrutar em termos musicais naquele ano de 1991. Mal tinha começado um trabalho como office boy e não pensei duas vezes antes de abandoná-lo para embarcar na primeira grande viagem de minha vida, em direção ao Rock in Rio.
Mas não estava sozinho nessa jornada rodoviária e, por isso, pela via da votação democrática, fui vencido por meus três amigos, que optaram pela pior data entre as nove possíveis. Movidos pelas espinhas no rosto, imaginávamos que um show com New Kids on the Block nos faria sentir como os garotos do pedaço, com uma proporção razoável de interesses do sexo oposto presente no Maracanã.
Eu mais parecia aquela hiena pessimista do desenho “Lippy e Hardy”, lamentando perder algumas apresentações que jamais teria novamente a chance de ver ao vivo – como foi o caso de Prince, que não colocaria mais os pés no Brasil. Mas me senti vingado quando chegamos ao estádio e meus amigos constataram o insucesso após notarem um público formado, em sua maioria, por garotinhas acompanhadas dos pais.
Assim, diante da cara de decepção dos meus companheiros, pude cantar, em tom zombeteiro, as músicas “Adelaide” e “Uma Barata Chamada Kafka”, do Inimigos do Rei, banda nacional que abriu a programação. Em seguida, foi a vez do Roupa Nova, que, se não estava entre as minhas preferidas, pelo menos conhecia algo do repertório. Estávamos na década de 1990 e a house music era o estilo dominante em casas dançantes, como Hippodromo e Olímpia, em Belo Horizonte.
As minhas expectativas estavam todas depositadas nessa parte dedicada à música eletrônica surgida nos clubes underground de Chicago. E o Run-D.M.C, de grande importância para o desenvolvimento do hip-hop dos anos de 1980, não me decepcionou. Só não sabia que alguns integrantes do grupo ficariam mais tempo no palco. É que a aparelhagem do Snap!, sensação na época, com “Rhythm is a Dancer” e “The Power”, ficou retida na Alfândega. Coisas de Brasil, né? Mas, de toda forma, provocou uma fusão, creio eu, inédita até então.
Em relação ao New Kids on the Block, que fechou a noite, o show não fugiu ao esperado em se tratando de boy bands. Musicalmente, o resultado deixa a desejar quando se tem que cantar e realizar diversos os de dança ao mesmo tempo.Não me lembro se os cinco rapazes se valeram de playback. O fato é que nunca mais voltei ao Rock in Rio. Trauma? Comodidade mesmo. Até porque Belo Horizonte ou a entrar na rota dos grandes shows.
“Minha estreia na multidão”, por Ana Clara Brant
Janeiro de 2001 e o assunto do verão era a volta do Rock in Rio após um hiato de dez anos. E aquela edição aconteceria onde tudo começou: na Cidade do Rock, em Jacarepaguá, na zona Oeste do Rio de Janeiro. Eu, assim como boa parte dos mineiros, estava de férias em Cabo Frio, na Região dos Lagos fluminense. Pela proximidade com a Cidade Maravilhosa (Cabo Frio está a cerca de 155 km de lá), alguns primos e amigos se animaram a ir pela primeira vez a um dos maiores festivais de música do planeta.
Minha irmã e uma prima cismaram de ir na “noite teen”, com direito a Sandy & Júnior, NSync e Britney Spears, que, aliás, foi bastante criticada pelo uso excessivo de playback e chegou até a ser vaiada por parte do público quando exibiu a bandeira dos Estados Unidos, durante a performance de “Lucky”. Era um line-up que não me atraía nenhum pouco, e chegou a rolar certa pressão familiar para que eu, primogênita, acompanhasse (e cuidasse, risos) da caçula da família, então com 15 anos. Sem contar que eventos dessa magnitude nunca me atraíram. Até brinco que, pelo fato de ser torcedora do América, nunca fui fã de multidão. Muito pelo contrário. E Rock in Rio nunca esteve no meu radar de desejos.
Mas, como a repercussão dos shows e dos artistas estava causando frisson, sobretudo entre os jovens e adolescentes – na época eu tinha 20 anos –, vários amigos e parentes acabaram se animando e foram conferir as atrações da Cidade do Rock, principalmente as internacionais, como Guns N’Roses, R.E.M., Oasis, Foo Fighters, Sting. E todos voltavam deslumbrados e contando maravilhas: “Sensacional”. “Incrível”. “Indescritível”. “De outro planeta”.
O festival caminhava para a reta final, e os dias na praia também. Um “comichãozinho” começou a despertar dentro de mim. Na sexta, 19 de janeiro, retornei para Belo Horizonte. Mas a vontade de ver a história acontecendo diante dos meus olhos acabou batendo mais forte. Dei meu braço a torcer e, assim que cheguei a BH, fui atrás de uma agência de turismo em busca de um pacote para curtir o Rock in Rio. O ônibus partiu na noite do sábado, 20 de janeiro, do Terminal JK. E lá fui eu, de novo, rumo ao Estado do Rio de Janeiro. Numa excursão bate e volta, consegui conferir o domingo (21 de janeiro), último dia do festival, que tinha como atração final justamente uma das minhas bandas favoritas: o Red Hot Chili Peppers.
Como celular naquela época era luxo para poucos, me lembro de descer do ônibus na entrada do Barra Shopping e ir atrás de um orelhão para dar notícias aos meus pais de que tinha chegado bem ao Rio. O mais curioso é que, como o Rock in Rio tinha e ainda tem vários palcos com diversas atrações musicais, eu acabei conferindo pela primeira vez artistas do “meu quintal”: os mineiros do Tianastácia e do Uakti. Inacreditável, não é? E foram shows memoráveis.
Mas a cereja do bolo foi realmente o Red Hot. Nunca vou me esquecer daquela multidão pulando ao som de “Give It Away”. Eu me empolguei tanto que nem liguei para a poeira que subia ao longo de toda a apresentação. O pó impregnou tanto no meu corpo e na minha roupa que tive que jogar fora a camiseta que estava usando naquele dia, que, aliás, até hoje é o que registrou um dos maiores públicos da história do Rock in Rio: 250 mil pessoas. Para quem detesta muvuca, até que foi uma estreia bem feliz!
“Perdi… ou ganhei?”, por Fabiano Fonseca
Eu queria mesmo era ir na segunda edição Rock in Rio, em 1991! Naquela época, o Guns N’Roses era minha banda predileta, e como eu desejava ver aquele show. Não rolou. Afinal, eu tinha 13 anos e claro que meus pais não iam liberar.
Vinte anos depois dessa frustração, em 2011, o Rock in Rio “caiu no meu colo”. Naquele ano, o festival voltava a tomar conta da Cidade do Rock, após novo hiato de uma década – ada a edição histórica do Maracanã que eu não fui, ele só voltaria a ser realizado em 2001.
Recebi um convite sensacional para conferir um dia do evento. Ingresso, hospedagem, transporte... o pacote completo. Era um sábado e fui conferir o line-up: entre tantas atrações, era dia de Red Hot Chili Peppers. “Caramba, vou ver o Flea tocar”, pensei na hora.
Pois então... perdi o voo! Não dá pra gastar lábia aqui para justificar. Vacilei e perdi o voo – e a oportunidade de ver o Flea e o Red Hot tocar. Liguei desesperado, cheio de vergonha, para a assessora que me fez o convite. “Dá a real, Fabiano, nem pense em inventar desculpas esfarrapadas”, falei comigo mesmo.
Do outro lado da linha, uma pessoa tão generosa e compreensiva me fez sentir um alívio tremendo. E mais: “Temos uma data extra do evento, na quinta-feira. Se puder vir, vai ser ótimo”, anunciava a interlocutora, refazendo o convite para participar do Rock in Rio. Agora era questão de honra, e mesmo sem Red Hot embarquei nessa. O pacote era o mesmo, já o line-up...
Cheguei na Cidade do Rock e Joss Stone brindava o público ao pôr-do-sol no Palco Sunset. Caminhei em direção ao Palco Mundo e vi um show incrível de uma Janelle Monae ainda desconhecida para mim. Em seguida, matei a curiosidade de ver o Jamiroquai ao vivo. Mas o filé, ah esse eu jamais vou esquecer. A data extra do Rock in Rio 2011 tinha ninguém menos que Stevie Wonder! Amigos e amigas, foi f*#*. Inevitável, até hoje, pensar: perdi ou ganhei? Ganhei, e muito. Que forma de viver o Rock in Rio.