“Perdi a pasta, mas não perdi a educação”
Lições de FHC e Getúlio para o caso da demissão de Nísia Trindade
A coluna de Elio Gaspari de quarta-feira ada se refere a dois episódios, um deles ocorrido num dos saudosos governos de Fernando Henrique Cardoso, em 1996, e o outro no governo de Getúlio Vargas, em 1953. Ambos fazem parte da nossa história política. No primeiro, FHC se viu obrigado a dispensar a ministra Dorothea Werneck do Ministério da Indústria e Comércio. Segundo Gaspari, FHC visitou a ministra em sua casa, comoveu-se e deixou em seu diário o seguinte registro: “Fui ficando com raiva de mim mesmo”.
O segundo episódio se deu quando Getúlio Vargas se viu na contingência de dispensar, por telefone, o então ministro da Educação, Ernesto Simões Filho, que se encontrava na Europa. “O governo começava a ir mal das pernas, e Simões se recusou a reclamar com uma frase que vale tanto para quem sai quanto para quem tira”, conta Elio Gaspari. A frase, além de oportuna, dá título a estas linhas.
Os episódios relatados pelo jornalista Elio Gaspari só vieram à tona em razão da demissão da ministra Nísia Trindade do Ministério da Saúde, depois de longa fritura. Aliás, outras frituras também se deram quando das dispensas, em 2023, da atleta Ana Moser do Ministério dos Esportes e, em janeiro deste ano, do “companheiro” Paulo Pimenta da Secretaria de Comunicação. Como afirmou o citado colunista, no título da sua coluna, substituir ministro “requer etiqueta”.
Esses episódios me lembraram, insisto, os saudosos governos de Fernando Henrique Cardoso, que, como não poderia deixar de ser, foram torpedeados pelo PT com a frase “fora FHC”. A verdade, porém, é que, com sua posse há 30 anos (1º de janeiro de 1995), o Brasil começou a mudar. Nessa época, FHC já contava com a aprovação do Plano Real, ainda no governo de Itamar Franco, responsável pelo envio ao Congresso Nacional da Medida Provisória 434, que, dentre outras coisas, instituiu a URV (Unidade Real de Valor). A partir daí, se iniciou o processo de desindexação da economia e o dólar chegou a valer menos do que R$1. Estava ganha a batalha contra a inflação.
Antes do Plano Real, a inflação penalizava, sobretudo, os mais pobres e protegia os mais ricos. Vivíamos sob um Estado monstro, burocrático e hipertrofiado, com estatais deficitárias e bancos estaduais que, além de ineficientes, eram submetidos ao poder político.
A quebra de monopólios, como aconteceu na área de petróleo e gás, bem como as privatizações dos bancos estaduais, foram fundamentais à modernização do Estado. O país avançou em áreas como as das comunicações, da educação e da saúde, que tinha à frente o ex-senador José Serra. Fortaleceu-se, com os genéricos e a quebra das patentes dos medicamentos, o Sistema Único de Saúde (SUS).
A convivência civilizada entre as instituições e a intransigente defesa da democracia, ao lado da modernização do Estado e do combate à inflação (além da capacidade de enfrentar e debelar as crises políticas) foram marcas importantes nos dois governos de FHC.