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Acílio Lara Resende

Acílio Lara Resende é jornalista e escreve às quintas-feiras

ACÍLIO LARA RESENDE

‘Não é a minha prioridade agora’

Impacto da baixa aprovação no plano de reeleição de Lula

Por Acílio Lara Resende
Publicado em 20 de fevereiro de 2025 | 07:00

A recente pesquisa Datafolha de avaliação – e não de sondagens eleitorais, em que o pesquisado compara um nome com outro ao responder – desabou como uma bomba sobre as pretensões do presidente Lula de ser eleito presidente da República pelo voto em 2026 e pela quarta vez, um acontecimento quase impossível em qualquer parte deste mundo. A sua aprovação caiu muito e foi a pior de todas em seus três mandatos. A avaliação positiva ou de 35% para 24%, e a negativa subiu 7 pontos, atingindo 41%. E poderá subir ainda mais.

Essa pesquisa levou Lula a afirmar que é muito cedo para falar em eleição de 2026: “Se eu vou ser candidato ou não, tem uma discussão com muitos partidos políticos, com a sociedade brasileira. Eu tenho 79 anos. Se eu estiver legal e achar que posso ser candidato, eu posso ser candidato”, repetiu. “Mas não é a minha prioridade agora”.

A idade e a saúde contribuíram para o resultado da pesquisa Datafolha, mas foi só mais uma causa, entre outras. O criador do PT e responsável pela sua existência até hoje, além de não ter mais ninguém ao seu lado que lhe diga, pelo menos, o que não deve dizer, vem cometendo falhas uma atrás da outra. Sugerir às pessoas, por exemplo, que não “comprem algo no supermercado se acharem caro”, como se isso fosse um meio de se combater o aumento dos gêneros alimentícios, é, sem dúvida, uma piada de mau gosto. O povo não é bobo e sabe que essa sugestão, feita no início deste mês, está fora de qualquer contexto.

Nas declarações dirigidas ao Ibama sobre a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas, ocasião em que defendeu, mais uma vez, a pesquisa na região, Lula foi também incisivo e claro: “Não é que vou mandar explorar”, afirmou, e, sem saber que escorregava outra vez nas palavras, acrescentou a seguinte frase: “Eu quero que seja explorado... O que não dá é ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão do governo e está parecendo que é um órgão contra o governo”.

O mais preocupante para Lula, na pesquisa Datafolha, talvez esteja na aprovação do seu governo no Norte e no Nordeste. São segmentos fiéis ao presidente e incluem os que ganham até dois salários mínimos. Ou seja: sua aprovação também caiu entre os pobres.

A providência, já tomada, de nomear um especialista na matéria para responder pela comunicação social do governo nunca será suficiente para enfrentar narrativas falsas provenientes da oposição, como a da taxação do Pix. O governo sofreu aí um nocaute, num processo – como disse o cientista político Eduardo Grin, da Fundação Getulio Vargas (FGV) – “que mostrou que a oposição tem bala na agulha para construir narrativas sobre algo que importa para as pessoas”.

Acreditar, como disse Lula, que o país vai crescer com a ajuda que darão os presidentes do Senado e da Câmara à aprovação de uma agenda prioritária para 2025 é um sonho de uma noite de verão.

Tudo depende, na verdade, do Lula e do seu governo.