ZONA LESTE

PH x Gordo: entenda guerra do CV com o PCC que aterroriza população no Taquaril

Dois integrantes da facção carioca morreram em troca de tiros com a PM; dupla se preparava para executar rival quando policiais chegaram

Por José Vítor Camilo
Publicado em 02 de maio de 2025 | 13:41

Após a ruptura nacional entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), anunciada em "comunicados" das organizações criminosas que aram a circular nos últimos dias, crimes envolvendo a disputa entre as facções estouraram em Belo Horizonte. Além dos moradores do Morro das Pedras, comunidade localizada na região Oeste de BH e comandada pela facção carioca, vivenciarem um suposto toque de recolher, agora, é a população do bairro Taquaril que está com medo de sair de casa após uma série de crimes violentos ligados à disputa entre as maiores organizações do Brasil

Na noite da última quinta-feira (1º de maio), dois membros do CV morreram após tiroteio com a Polícia Militar (PM) no momento em que se preparavam para executar um rival na divisa entre o Taquaril e o bairro Castanheiras, no que a corporação chamou de uma tentativa de assumir o tráfico de drogas na região. 

Em entrevista a O TEMPO, o tenente Arthur Dickel, da 123ª Companhia do 22º Batalhão da PM, que participou da operação que terminou com dois mortos, deu detalhes sobre a atual disputa existente na comunidade. "Um dos suspeitos, conhecido como PH, está tentando tomar para o Comando Vermelho aquele terreno, que, hoje, é chefiado por outro criminoso, conhecido como Gordo (do PCC)", detalhou. 

Ainda conforme a corporação, no ado "PH" teria chegado a atuar como braço direito de "Gordo", mas acabou desertando para a facção rival. "Desde que foi anunciado nacionalmente o rompimento das facções, na área do Gordo surgiram diversas pichações do PCC, em várias áreas do Taquaril", completou o tenente Dickel. 

No último sábado (26), um grupo de oito homens fortemente armados invadiu uma casa no Taquaril, arrancou um jovem de seu interior e o executou com 14 tiros. Após o crime, o grupo fez pichações nos muros com a sigla da organização carioca e, também, ameaças ao atual líder do local.

"Vai morrer baleado", dizia uma das inscrições que trazia, ainda, o nome "Gordo". "CV-MG", "PH" e "Bala" - apelido do traficante do Morro das Pedras que é apontado como número um do CV em Minas - foram outras das pichações que surgiram no local. Três dias depois, as gravações já tinham sido cobertas por tintas e substituídas por inscrições de "PCC" e "33", número que faz referência à facção paulista. 

PH assumiu morte do filho de Gordo

Ainda conforme apurado por O TEMPO, desde a ruptura entre os criminosos no ado, "PH" teria deixado a comunidade e ficado escondido no Rio de Janeiro. "O PH estaria no Rio de Janeiro, mas vem para o Taquaril em algumas ocasiões e tenta vitimar os rivais. Em uma destas vezes, ele teria assumido a morte do filho do Gordo e declarado guerra", detalhou o tenente da PM. 

O assassinato do filho do chefão do tráfico no bairro, registrado no dia 2 de novembro de 2024, aconteceu no cruzamento das ruas Domingues Rodrigues e Arco Íris, no Taquaril. O endereço, conforme a corporação, seria o mesmo onde os moradores acionaram a PM na noite de quinta denunciando a presença de criminosos armados com fuzis e granadas que ameaçavam a população. 

Guerra deixa população "tensa"

A reportagem de O TEMPO esteve no bairro nesta sexta-feira (2 de maio), constatando um clima de tensão entre a população local. Sob anonimato, um morador do Taquaril confirmou que a população está com medo. 

"Não está tendo toque de recolher, mas a vida para o trabalhador está tensa. Guerra é sempre ruim para todo mundo", disse. "Como homem negro, tenho mais receio das operações policiais que vem depois dos homicídios do que necessariamente com a guerra. Pelo que comentam, ela é entre bandidos que já se conhecem", pondera o morador da região. 

Segundo o tenente Dickel, da PM, a grande quantidade de ligações denunciando a presença dos criminosos no local, que acabaram levando ao tiroteio que deixou dois mortos, demonstra que a população está assustada.

"Eles falavam isso nas ligações anônimas, que estavam assustados, que não queriam ir para casa por causa dessa informação de indivíduos armados circulando pela região", completou o militar. 

Ruptura teria ocorrido por discordâncias sobre crimes

Segundo advogados ouvidos pela Folha de São Paulo, a cisão entre as duas facções criminosas teria ocorrido devido a disputas regionais pelo controle de rotas estratégicas para o tráfico de drogas, armas e lavagem de dinheiro, e, também, por discordâncias acerca de alguns crimes cometidos pelos cariocas, considerados "excessivamente violentos" pelo PCC. 

Em condição de anonimato, um advogado que mantém contato com lideranças presas em Bangu (no Rio) afirmou que o PCC tem priorizado a discrição e os negócios transnacionais. De acordo com ele, a facção paulista condena práticas como o esquartejamento de rivais e a exposição pública de crimes  - condutas recorrentes no CV.

Entre os episódios citados, o advogado mencionou homicídios de integrantes do Terceiro Comando Puro (T) - outra facção carioca que é rival do CV e aliada ao PCC -, além do caso de um turista de Brasília que, após ser sequestrado por supostamente ter fotos de criminosos rivais no celular, foi torturado e forçado a ingerir partes do próprio corpo, antes de ser incinerado vivo.