O velório do torcedor José Victor Miranda, de 30 anos, foi marcado por grande comoção e homenagens. Ele foi morto em uma emboscada arquitetada pela torcida organizada do Palmeiras, a "Mancha Verde", no último domingo (27).

Na despedida, realizada nesta terça-feira (29) no Centro Esportivo de Sete Lagoas, na região metropolitana de Belo Horizonte, familiares e amigos da torcida organizada do Cruzeiro, a "Máfia Azul", vestiam a camisa do time e seguravam balões brancos. Todos optaram pelo silêncio e não quiseram conversar com a imprensa.

Homenagem marcante

No entanto, o silêncio foi quebrado no momento em que um grande bandeirão azul e branco com o desenho do rosto de Victor foi erguido. Em meio à dor, amigos e parentes entoaram hinos e cantos que exaltavam o torcedor, que deixa um filho de 10 anos. Sob lágrimas e aplausos, o corpo do eterno cruzeirense seguiu em cortejo para o Cemitério Parque Boa Vista, também em Sete Lagoas, onde foi sepultado.

O caso

Uma emboscada de integrantes da torcida organizada do Palmeiras Mancha Alviverde - antiga Mancha Verde - contra um ônibus da Máfia Azul, do Cruzeiro, deixou uma pessoa morta e outras 17 feridas na madrugada deste domingo (27 de outubro). 

O atentado aconteceu por volta das 5h na altura do km 65 da BR-381, rodovia que é conhecida como Fernão Dias. Os cruzeirenses seguiam em direção a Belo Horizonte na volta do Paraná, após a derrota do Cruzeiro por 3 a 0, para o Athletico, quando os coletivos foram interceptados. 

Ataque documentado

A confusão, que envolveu mais de 100 torcedores dos dois times, foi toda documentada por câmeras de celulares, parte deles de integrantes da torcida palmeirense. Nos vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver torcedores com camisas verdes nos rostos e barras de ferro nas mãos espancando os mineiros, muitos deles já desacordados ou implorando pelo fim das agressões.

Nos vídeos, também é possível ouvir os autores da emboscada falando "Aqui é a Mancha, p#$%" e "Aqui é a tropa do Moacir", fazendo referência ao presidente da torcida organizada. Imagens também mostram uma verdadeira "chuva" de foguetes, com dezenas de fogos de artifício sendo lançados contra o ônibus da torcida do Cruzeiro, que acabou incendiado. 

Revanche

Nas redes sociais, torcedores dos dois clubes indicam que a emboscada foi uma "revanche", após uma ação semelhante armada pela Máfia Azul também na BR-381, em setembro de 2022, na altura de Carmópolis de Minas, na região Centro-Oeste. Na ocasião, o presidente da torcida rival do Palmeiras foi um dos mais agredidos pelos cruzeirenses. 

Pregos na estrada 

Indícios colhidos no local do atentado apontam que ele pode ter sido planejado com antecedência pelos membros da Mancha Alviverde. Na rodovia, os policiais encontraram os chamados "miguelitos", dispositivos feitos com pregos entrelaçados que são usados para furar pneus de veículos. 

Além dos dispositivos feitos de pregos, normalmente utilizados por criminosos da modalidade conhecida como "Novo Cangaço", com o objetivo de atrasar a ação da polícia, no local da confusão também foram apreendidas bombas caseiras utilizadas pelos palmeirenses no confronto. 

Morto era de Sete Lagoas 

O torcedor do Cruzeiro que teria sido carbonizado no ônibus foi identificado como José Victor Miranda, de 30 anos, que é da cidade de Sete Lagoas, na região Central de Minas Gerais. A morte foi confirmada a O TEMPO por familiares do homem, que preferiram não dar entrevista por estarem muito abalados.  

Nas redes sociais uma prima se despediu do familiar. "Descanse em paz meu primo...Cara, vou sentir saudade demais desse menino", lamentou. O torcedor morto, que se identifica como membro da Máfia Azul Sete Lagoas no seu perfil no Instagram, deixa um filho de 10 anos. 

Hospital mobilizado

Segundo as autoridades paulistas, todas as vítimas são torcedores do Cruzeiro, sendo que 15 delas foram levadas ao Pronto-Socorro Anjo Gabriel, em Mairiporã, e outras três encaminhadas ao Hospital de Franco da Rocha. Sete dos 17 feridos sofreram traumatismo craniano e um deles sofreu uma lesão por arma de fogo no abdômen, mas não corre risco de morrer.

Sem presos 

Até o momento, nenhum suspeito de envolvimento no crime foi preso. Por nota, a Polícia Civil de São Paulo informou que investiga a briga de torcidas, chamada pela própria instituição policial de "emboscada". 

"O Corpo de Bombeiros e equipes de resgate da concessionária socorreram os feridos a hospitais da região, um deles faleceu. A perícia esteve no local e apreendeu rojões, fogos de artifício e barras de ferro e madeiras. O caso foi registrado como homicídio, incêndio, associação criminosa, lesão corporal e promover tumulto, praticar ou incitar a violência em eventos esportivos na Delegacia de Mairiporã, que apreendeu imagens de monitoramento e solicitou exames de IML às vítimas", informou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.

Cruzeiro lamentou morte 

O Cruzeiro Esporte Clube lamentou a morte do torcedor do clube por meio de uma nota publicada em suas redes sociais. 

"O Cruzeiro lamenta profundamente mais um episódio de violência entre torcedores, desta vez durante a madrugada, na rodovia Fernão Dias, que culminou com a morte de um cruzeirense e vários feridos. Não há mais espaço para violência no futebol, um esporte que une paixões e multidões. Precisamos dar um basta a esses atos criminosos”, escreveu o clube.

Rodovia interditada por "segurança"

Procurada, a Arteris Fernão Dias, concessionária que istra o trecho da rodovia, informou por nota que a rodovia ficou interditada entre 5h14 e 6h30 "para manter a segurança de usuários e colaboradores".