BRASÍLIA – O senador Rogério Marinho (PL-RN) afirmou nesta segunda-feira (2), em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que Jair Bolsonaro (PL) não tinha intenções golpistas após a derrota nas eleições de 2022. Segundo ele, a principal preocupação do então presidente da República era garantir uma transição “com ordem e civilidade”.
“Havia uma preocupação grande de que não houvesse excessos, que houvesse civilidade na transmissão do poder”, disse Marinho, ouvido como testemunha de defesa do ex-presidente e do general da reserva Walter Braga Netto.
Marinho afirmou ainda que Bolsonaro desejava evitar episódios, como bloqueio de estradas, que pudessem prejudicar a economia ou agravar a crise institucional provocada por seus apoiadores, inconformados com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Para que não fosse colocado sobre ele a pecha de que queria atrapalhar a mudança de comando do país”, afirmou o parlamentar, que evitou interação com o condutor da oitiva, ministro Alexandre de Moraes, e manteve um tom de voz baixo e introspectivo, diferente no adotado no seu dia a dia no Congresso Nacional.
Bolsonaro assiste ao depoimento
Apesar das declarações do senador, os autos do inquérito mostram que Bolsonaro protagonizou uma série de ataques ao sistema eleitoral e ao Supremo Tribunal Federal nos meses que antecederam o pleito.
Após a derrota, o ex-presidente incentivou os acampamentos golpistas, manteve silêncio por semanas e, segundo delações, discutiu com militares e assessores próximos formas de interferir no TSE e anular o resultado das eleições.
Ao final do interrogatório, transmitido a jornalistas credenciados no plenário da Primeira Turma do STF, a imagem de Bolsonaro aparece rapidamente em destaque, como uma das pessoas que assistia o depoimento.
Tristeza nos encontros e transição como única pauta de discussão
Marinho contou ter se encontrado com Bolsonaro cerca de dez vezes após o segundo turno de 30 de outubro de 2022 e que todos estavam muito tristes e incrédulos com a derrota. Nas reuniões, disse, os temas eram políticos:
“O tempo todo ele falava a respeito da eleição do Congresso Nacional, da importância de ter presença no Senado e do crescimento do PL”. Com Braga Netto, as conversas foram informais sobre a derrota e ocorreram duas vezes.
Oitivas encerram com 52 testemunhas ouvidas
Com a oitiva de Marinho, o STF conclui a fase de depoimentos do núcleo 1 do inquérito que apura a tentativa de golpe para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Ao longo das últimas duas semanas, foram ouvidas 52 testemunhas – 5 indicadas pela acusação e 47 pelas defesas. Outras duas juntaram declarações por escrito. No total, o relator Alexandre de Moraes homologou 29 desistências de depoimentos.
A investigação agora avança para a fase dos interrogatórios dos réus, incluindo o próprio Bolsonaro, Mauro Cid, Braga Netto, Anderson Torres, Augusto Heleno e outros ex-integrantes da cúpula do governo. As audiências começam na segunda-feira (9) da semana que vem.