BRASÍLIA - O general da reserva Walter Braga Netto tentou obter informações sigilosas da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A informação foi apontada pela Polícia Federal (PF).
A delação de Cid contribuiu com a investigação sobre a tentativa de plano de golpe de Estado em 2022. O acordo, no entanto, prevê sigilo das informações. Até o momento, 40 pessoas foram indiciadas no âmbito desse inquérito, incluindo Braga Netto, Bolsonaro e Cid.
Braga Netto foi preso neste sábado (14) por obstrução à Justiça no inquérito que trata sobre o assunto. Ele também foi alvo de um mandado de busca e apreensão em sua casa em Copacabana, no Rio de Janeiro.
A PF identificou que Braga Netto manteve contato telefônico com Mauro Lourena Cid, pai do ex-assessor direto de Bolsonaro, para "obter dados sigilosos, controlar o que seria reado à investigação, e, ao que tudo indica, manter informado os demais integrantes da organização criminosa”.
Além disso, em 8 de fevereiro de 2024 foi apreendido na sede do PL, na mesa de Flávio Peregrino, assessor de Braga Netto, um documento com perguntas e respostas sobre a colaboração premiada de Mauro Cid. As perguntas eram sobre o que foi delatado e sobre figuras que estavam na mira da investigação.
“O documento apreendido pela Polícia Federal indica terem sido feitas perguntas por WALTER SOUZA BRAGA NETTO sobre o conteúdo do acordo de colaboração premiada firmado por MAURO CÉSAR BARBOSA CID com a Polícia Federal, as quais teriam sido respondidas pelo próprio colaborador, ressaltando-se que as respostam estão grafadas em vermelho no documento apreendido”, escreveu o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes na ordem de prisão do militar.
Em depoimento concedido em 5 de fevereiro de 2024, Cid contou à PF que Braga Netto tentou conseguir informações da delação com seu pai, Lourena Cid.
“Basicamente isso aconteceu logo depois da minha soltura, quando eu fiz a colaboração naquele período, onde não só ele como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado. Isso fazia um contato com o meu pai, tentavam ver o que eu tinha, se realmente eu tinha colaborado, porque a imprensa estava falando muita coisa, ele não era oficial, e tentando entender o que eu tinha falado. Tanto que o meu pai na resposta, que é aquela de terceiro, disse não, o CID falou que não era”, disse Cid no depoimento.
O militar foi preso no início da manhã deste sábado pela Polícia Federal (PF) por obstrução à Justiça na investigação sobre a tentativa de golpe de Estado. Na prática, de acordo com a instituição, ele agia para atrapalhar o andamento da apuração.
Ele foi preso em sua casa em Copacabana, no Rio de Janeiro. Depois da prisão, foi levado para a Superintendência da PF no Rio e, por ser militar, será entregue ao Comando Militar do Leste para ficar sob custódia do Exército. No mesmo local, agentes fizeram busca e apreensão.
Braga Netto foi candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022. De acordo com as investigações, a trama consistia em um decreto para manter Bolsonaro no poder.
Dessa forma, impedir a posse da chapa eleita no pleito: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB). Antes das eleições, Braga Netto foi ministro da Defesa e da Casa Civil do governo Bolsonaro.
Ao todo, foram cumpridos, neste sábado, quatro mandados. Além da prisão preventiva de Braga Netto, há dois de busca e apreensão e uma medida cautelar, que tem ações restritivas diferentes da prisão, "contra indivíduos que estariam atrapalhando a livre produção de provas durante a instrução processual penal".
O outro alvo foi o coronel da reserva Flávio Peregrino, assessor de Braga Netto desde o governo Bolsonaro. Os mandados foram autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A PF informou que "as medidas judiciais têm como objetivo evitar a reiteração das ações ilícitas" apontadas no inquérito. Os mandados foram cumpridos nas cidades do Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF), com o apoio do Exército Brasileiro.