O embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, reiterou o convite do presidente eleito Javier Milei para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participar da posse, em Buenos Aires, no próximo dia 10 dezembro. Nesta segunda-feira (27), ele se reuniu com o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, no Palácio do Planalto, onde reforçou o aceno do político da ultradireita ao governo brasileiro.  

Paulo Pimenta afirmou à reportagem que Milei está dando sinais de que desceu do “palanque” político. “Achei um gesto de respeito e disposição para o diálogo. São vários os sinais que querem descer do palanque. Que bom para a Argentina, já que nós temos interesse em ter a melhor relação institucional possível”, declarou Paulo Pimenta à reportagem, após encontro com Daniel Scioli.

Durante a corrida eleitoral, o futuro presidente argentino proferiu várias ofensas ao presidente Lula. Entre os ataques, ele chamou o petista de “comunista” e de “ladrão”. Além disso, anunciou medidas extremas, como retirar a Argentina do Mercosul, fechar o Banco Central do país e romper relações bilaterais com o Brasil.  

Um dia após os argentinos confirmarem a vitória do político sobre o governista e ministro da Economia daquele país, Sérgio Massa, o chefe da Secom disse que Lula não deveria ligar para o presidente eleito da Argentina - como manda a tradição da diplomacia brasileira - antes de um pedido de desculpas de Javier Milei. 

A reportagem apurou que o embaixador da Argentina no Brasil sinalizou que vai continuar no cargo durante o governo de Milei e que quer fortalecer relações com o Brasil. Na conversa, que durou cerca de 20 minutos, Daniel Scioli reiterou a importância de Lula comparecer à posse do novo presidente. Ele teria insistido para ter a agenda desta segunda com Pimenta. 

Fontes do Palácio do Planalto descartam a possibilidade de Lula viajar para a posse de Milei. O mais provável é que o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, represente o Brasil. A possibilidade de o vice-presidente Geraldo Alckmin compor a comitiva brasileira ainda é incerta.  

Diplomatas argentinos fazem peregrinação em Brasília 

Políticos e representantes da Argentina no Brasil fazem peregrinação em Brasília para mostrar que o presidente eleito baixou o tom de campanha. Daniel Scioli voltou ao Palácio do Planalto em menos de três dias. Na última sexta-feira (24) ele se reuniu com o chanceler Celso Amorim, que é assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais

A agenda dele nesta segunda-feira ocorreu um dia após a futura ministra de Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, se encontrar com Mauro Vieira no Palácio do Itamaraty em pleno domingo. Scioli estava na reunião, assim como o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli.  

Na oportunidade, Mondino entregou a carta de Milei endereçada a Lula convidando-o para a posse. No texto, o presidente eleito da Argentina fala em “construção de laços”. Após entregar a missiva, a futura chanceler falou positivamente sobre o Mercosul, o que foi visto como um sinal claro sobre o recuo de Milei de sair do bloco econômico.

Mauro Vieira, por sua vez, durante coletiva de imprensa no domingo, minimizou as críticas feitas pelo argentino ao petista durante a campanha eleitoral no país vizinho. O  chanceler brasileiro disse que campanha e governo são coisas distintas.   

“O que foi dito durante a campanha é uma coisa, e o que acontece durante o governo é outra. Eu não sei se o presidente poderá ir ou não (à cerimônia de posse), ele estará chegando de uma longa visita ao exterior e terá a Cúpula do Mercosul no Brasil. O que eu posso dizer é que existe entre o Brasil e Argentina uma relação muito forte, muito importante, que foi criada a partir dos entendimentos na década de 80”, disse.