RECUPERAÇÃO

Bolsonaro precisa suspender agenda política; pós-operatório deve durar até três meses

A informação foi dada pela equipe médica do Hospital DF Star, em Brasília, na manhã desta segunda-feira (14), durante coletiva de imprensa

Por Renato Alves
Atualizado em 14 de abril de 2025 | 12:07

BRASÍLIA – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não tem previsão de alta médica nem muito menos de retomada da agenda política. O pós-operatório será longo. Com isso, o Partido Liberal deve suspender a chamada “Rota 22”, um roteiro de viagens para fortalecer a sigla de olho nas eleições de 2026.

Bolsonaro é a grande atração do tour. A previsão era que, em um giro pelo Nordeste, visitaria três cidades do Rio Grande do Norte, em 11, 12 e 13 de abril. Mas o ex-presidente ou mal justamente no primeiro dia de viagem, na manhã de sexta-feira (10).

Ele participava de um evento em favor da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, em Santa Cruz (RN), quando reclamou de fortes dores. Foi atendido às 11h15 em um hospital local. Seguiu de helicóptero para Natal (RN). Na noite de sábado (12) foi transferido para Brasília em um avião com UTI.

Bolsonaro foi internado no DF Star, hospital particular localizado no fim da Asa Sul, em Brasília. No domingo, a instituição divulgou nota dizendo que o ex-presidente foi submetido a “cirurgia de grande porte” para remoção de aderências no intestino e reconstrução da parede abdominal. Na manhã desta segunda, integrantes da equipe médica deram uma entrevista sobre a intervenção. 

Eles disseram que o pós-operatório exige atenção e cuidados específicos, sobretudo nas primeiras 48 horas. “Ele tem uma agenda bastante intensa e é difícil segurar ele. Eu vou tentar segurar, na medida do possível, mas ele tem o ritmo dele”, afirmou o chefe da equipe cirúrgica, Cláudio Berolini.

Em um primeiro momento, o ex-presidente será mantido com nutrição na veia, ainda sem previsão de quando voltará a se alimentar por via oral. A alimentação regular só será retomada quando o intestino voltar à vida fisiológica normal, segundo os médicos.

Bolsonaro está consciente, estável, mas não tem previsão de alta, nem mesmo de sair da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O procedimento durou 12 horas. Essa foi a sétima e mais longa cirurgia abdominal de Bolsonaro desde a facada sofrida na campanha eleitoral de 2018, durante caminhada em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. 

“Vimos que a distensão não diminuía, o que indicou o tratamento cirúrgico. A grosso modo, o abdômen dele é um ambiente hostil, pelas cirurgias prévias e a facada recebida. Para se ter ideia, foram necessárias duas horas de cirurgia só para ar a parede abdominal dele”, contou Berolini. 

“O intestino dele estava sofrido, o que nos leva a crer que ele já estava com este quadro há meses. Isto contribuiu para a decisão de intervenção cirúrgica. Esperamos que ele não precise de uma nova cirurgia nas próximas horas. Novas aderências vão se formar, isto é esperado” acrescentou Berolini.

Mas o especialista destacou que muito provavelmente essa seja a última cirurgia abdominal de Bolsonaro. “Não tem expectativa de nova cirurgia, essa foi feita para ser definitiva”, afirmou o chefe da equipe cirúrgica.  

“Expectativa é que Bolsonaro tenha uma vida sem restrições, mas o pós-operatório deve durar de dois a três meses. Nossa expectativa é que ele fique pelo menos duas semanas internado. É uma previsão que será reavaliada com a evolução”, concluiu o cirurgião.

O cardiologista Leandro Echenique, que também participou da cirurgia, disse que ela foi “extremamente complicada, mas exitosa. “A cirurgia foi extremamente complicada, havia muitas aderências. O procedimento terminou muito bem, com resultado excelente”, ressaltou. 

“É claro que isto implica com alguns cuidados de pós-operatório, que será acompanhado nos próximos dias. Não houve complicação, era um procedimento complexo”, prosseguiu o médico. 

“O organismo do paciente tem uma resposta inflamatória, é comum, e pode levar a intercorrências, como infecções e aumento de pressão. Ele precisa de medidas específicas pelo aumento do risco de trombose. Vai ser um pós-operatório delicado e prolongado. Não há qualquer previsão de alta”, completou.

Bolsonaro e outros sete réus têm até sexta para apresentar defesa

Bolsonaro e outros sete réus do chamado núcleo 1 da suposta trama golpista têm até sexta-feira (18) para apresentarem defesa prévia.  

O prazo foi estabelecido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na última sexta (11), mesmo dia em que a Corte publicou a decisão da Primeira Turma que tornou Bolsonaro e sete aliados réus por uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022.

Em 26 de março, a Primeira Turma concluiu o julgamento em que os cinco ministros aceitaram por unanimidade a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). 

Já a abertura do prazo para a manifestação das defesas é a primeira medida assinada pelo ministro na ação penal aberta oficialmente na sexta-feira contra os acusados. 

Moraes, que é o relator do caso, disse na notificação aos advogados que seus clientes poderão alegar “tudo o que interesse à sua defesa”, além de indicar provas pretendidas e arrolar testemunhas, que deverão depor por videoconferência.

Moraes também confirmou que Bolsonaro e os demais acusados deverão prestar depoimento ao final da instrução. A data ainda não foi definida.

O ministro acrescentou que vai indeferir a inquirição de testemunhas “meramente abonatórias”, ou seja, de pessoas sem conhecimento dos fatos e que são convocadas apenas para elogiar os réus. Nesses casos, os depoimentos deverão ser enviados por escrito pela defesa.

Veja abaixo quem são os réus do núcleo 1:

  • Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
  • Walter Braga Netto, general de Exército, ex-ministro e vice de Bolsonaro na chapa das eleições de 2022;
  • Augusto Heleno, general, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
  • Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência - Abin;
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal;
  • Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
  • Paulo Sérgio Nogueira, general do Exército e ex-ministro da Defesa;
  • Mauro Cid, delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Com a abertura da ação penal, os acusados am a responder pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.

A ação penal também marca o início da instrução processual, fase na qual os advogados poderão indicar testemunhas e pedir a produção de novas provas para comprovar as teses de defesa. Os acusados também serão interrogados ao fim dessa fase. 

Após o fim da instrução, o julgamento será marcado, e os ministros vão decidir se o ex-presidente e os demais acusados serão condenados à prisão ou absolvidos. Não há data definida para o julgamento.