INVESTIGAÇÃO

Bolsonaro nega participação em trama golpista: 'golpe só existe em autoridade constituída'

Polícia Federal indiciou Bolsonaro e outras 36 pessoas, na quinta-feira, por tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito

Por Lara Alves
Publicado em 25 de novembro de 2024 | 21:26

BRASÍLIA — Indiciado há quatro dias, Jair Bolsonaro (PL) desembarcou em Brasília nesta segunda-feira (25) e negou participação na trama golpista identificada em inquérito da Polícia Federal (PF). A investigação entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) constatou a existência de um plano para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), à época recém-eleito presidente do Brasil — matando-o e também executando o ministro Alexandre de Moraes e o vice-presidente Geraldo Alckmin. 

"Uma loucura falar em golpe, uma loucura. Golpe com um general da reserva e cinco oficiais? E outra coisa, golpe existe em cima de uma autoridade constituída, que já tomou posse. O Lula tinha tomado posse? Ninguém tinha tomado posse. Só se fosse em cima de mim o golpe", declarou Bolsonaro na chegada à capital, contrariando o inquérito da Polícia Federal. O documento concluiu que ele e 36 de seus aliados arquiteram um plano golpista para mantê-lo no poder. 

O inquérito deve chegar às mãos do procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco, nesta terça-feira (26). Caberá a ele decidir o futuro dos 37 indiciados pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Gonet Branco pode denunciá-los ao STF, arquivar o inquérito ou pedir à Polícia Federal que mais investigações sejam feitas. O Ministério Público Federal (MPF) terá 15 dias para se manifestar. 

Ao longo de 40 minutos de declarações, ainda no Aeroporto de Brasília, Bolsonaro negou saber de intentonas golpistas e também minimizou os atos preparatórios organizados por militares das Forças Especiais. "A palavra golpe nunca esteve no meu dicionário", disse. "Sempre joguei nas quatro linhas da Constituição", repetiu. "Ninguém vai dar golpe com meia dúzia de oficiais", exclamou. 

Ele itiu ter se reunido com os militares tratados pela Polícia Federal com partícipes da trama golpista, mas declarou que eles sempre trataram sobre o futuro do Brasil e assuntos correlatos às Forças Armadas. Bolsonaro também negou ter assinado qualquer documento para impedir a posse de Lula. 

Operação Contragolpe e indiciamento por golpe de Estado 

A Polícia Federal prendeu quatro militares na última terça-feira (19), entre eles um general da reserva, e um agente da própria PF que teriam planejado um atentado contra o Estado Democrático de Direito. O grupo queria matar Lula e Alckmin para impedir a posse da chapa vitoriosa na eleição presidencial. O terceiro alvo do grupo era o ministro Alexandre de Moraes. 

Foram presos na operação Contragolpe: 

  • Mário Fernandes: general reformado que atuou como secretário-executivo da presidência da República na gestão Bolsonaro; também trabalhou no gabinete de Eduardo Pazuello na Câmara dos Deputados como assessor. 
  • Rafael Martins de Oliveira: militar das Forças Especiais do Exército — integrava o grupo dos "Kids Pretos". 
  • Rodrigo Bezerra de Azevedo: compartilhava formação nas Forças Especiais com Rafael Martins de Oliveira e também pertencia aos "Kids Pretos". 
  • Hélio Ferreira Lima: com formação nas Forças Especiais, era também dos "Kids Pretos". 
  • Wladimir Matos Soares: único policial federal que integrava o grupo. 

O inquérito da PF indica que Mário Fernandes era o mentor do plano "Punhal Verde e Amarelo". Ele previa o uso de armas pesadas, como metralhadoras, fuzis e granadas, para dar cumprimento aos planos. O grupo planejava a instalação de um gabinete de crise, que assumiria a gestão dos conflitos após a execução do plano. 

Dois dias após a operação Contragolpe, a Polícia Federal remeteu ao STF o inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado no país. A investigação constatou a existência de uma organização criminosa que atuou para manter Bolsonaro no poder apesar da derrota nas eleições.