BRASÍLIA – Carla Zambelli (PL-SP) vive de extremos. Ela apareceu como militante de movimento feminista, de esquerda. Logo se inseriu nas manifestações contra a presidente Dilma Rousseff (PT). Eleita deputada federal sem ter concorrido a outro cargo, tornou-se ícone do bolsonarismo. Conseguiu ser reeleita, mas acabou apontada como uma das culpadas pela derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022. Recentemente condenada a 10 anos de prisão, se diz abandonada pelos outrora aliados políticos.

O Supremo Tribunal Federal (STF) sentenciou Zambelli a cumprir pena em regime fechado pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A decisão também atinge o hacker Walter Delgatti Neto, condenado a 8 anos e 3 meses de prisão. Ele confessou ter inserido documentos falsos no sistema. Entre eles um mandado de prisão contra Alexandre de Moraes – o documento tinha do próprio ministro. Disse ter sido contratado por Zambelli, que confirmou a relação com o hacker, mas negou cometimento de crimes.

Com 44 anos, Zambelli hoje demonstra fragilidade, comportamento distinto daquele dos tempos de militância e dos primeiros quatro anos de mandato. Diz que não “sobreviveria” à cadeia. Alega problemas de saúde. Por isso pedirá prisão domiciliar, caso não consiga reverter a sentença do STF. Afirma ainda que já foi internada duas vezes, enfrenta depressão e problemas cardíacos, desmaios e uma síndrome rara, chamada Ehlers-Danlos, que faz “todo o corpo sair do lugar” e causa transtornos de mobilidade.

“Ainda que seja injusta a decisão, eu sigo a lei. Se acontecer a prisão, vou me apresentar. Mas, hoje, não me vejo capaz de ser cuidada da forma que preciso [presa]. Estou pegando vários relatórios dos meus médicos e eles são unânimes em dizer que eu não sobreviveria na cadeia. Vamos apresentar isso também em momento oportuno”, disse a parlamentar em entrevista coletiva, um dia após a decisão da Primeira Turma do Supremo.

Perseguição com arma em São Paulo e cassação

O episódio que levou ao “abandono” de Bolsonaro e aliados, segundo a própria deputada, ocorreu em 29 de outubro de 2022, um dia antes da votação do segundo turno das eleições presidenciais. Após discutir com eleitores em uma rua no bairro dos Jardins, em São Paulo, Zambelli, que já estava reeleita, perseguiu um deles, apontando uma arma de fogo

Zambelli alegou ter sido agredida fisicamente, acusando seus opositores de usarem “um homem negro para vir em cima de mim”. No entanto, a alegação foi desmentida com a divulgação de vídeos que mostram o momento em que ela discute com os eleitores, tropeça sozinha e, armada, persegue um dos homens, acompanhada de seguranças pessoais dela. 

Em áudio, ouve-se o homem desarmado implorando pela vida. A legislação eleitoral proíbe o transporte de armas e munições, configurando porte ilegal de arma, na véspera de uma votação. O caso foi parar no STF, que em março de 2025 formou maioria de votos para condenar a deputada a cinco anos e três meses de prisão pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal. 

A maioria da Corte também se posicionou a favor da cassação do mandato dela. O julgamento foi suspenso por 90 dias devido a um pedido de vista do ministro Nunes Marques. Em meio a isso, Bolsonaro externou o que já falava reservadamente. Em entrevista, ele disse que Zambelli “tirou o mandato” de sua chapa nas eleições de 2022 após este episódio. Por isso, se afastou dela. Assim como os mais fiéis aliados de Bolsonaro. 

Um dia após ser apontada pelo ex-presidente como responsável pela derrota dele, Zambelli fez um desabafo nas redes sociais. Sem mencionar nominalmente Bolsonaro, ela afirmou ser “difícil aguentar o julgamento” de quem sempre defendeu. “Enfrentar o julgamento dos inimigos é até ável. Difícil é aguentar o julgamento das pessoas que sempre defendi e continuarei defendendo”, escreveu a parlamentar.

Em uma entrevista para o jornal Folha de S. Paulo, ela afirmou que se sentia abandonada por Bolsonaro. “Desde 2013 eu apoio o Bolsonaro. Antes como ativista, nas causas dele, ajudei na eleição de 2018. Durante todo o governo. Acho que eu fui uma das pessoas mais na linha de frente dentro do Congresso para poder defender o governo, o presidente”, disse ao jornal paulista. 

Em 14 de maio, Zambelli sofreu a maior derrota, com a condenação a 10 anos de prisão por invasão do sistema do CNJ e falsificação de identidade. O PL emitiu uma nota em apoio à deputada, mas os políticos mais proeminentes da sigla permaneceram em silêncio, repetindo o que ocorreu com ex-aliados, como Gustavo Bebianno, Sara Giromini, Daniel Silveira, Roberto Jefferson, Alexandre Frota, Joice Hasselmann e Abraham Weintraub.

Protestos feministas com Sara Giromini

Zambelli viveu momentos conturbados desde que começou a participar de atos do Femen no Brasil, há pouco mais de 10 anos. Foi identificada como fundadora e porta-voz do grupo de movimento feminista ucraniano em reportagens da época. Apareceu em fotos, de barriga de fora, punho cerrado, camiseta do Femen e cordão de flores na cabeça — marca registrada do grupo feminista —, ao lado de Sara Giromini, líder do coletivo conhecido por atos radicais que incluíam a nudez pública das integrantes.

Mas, tanto Sara quanto Zambelli deram um cavalo de pau ideológico, que começou com a saída do Femen e o abandono de pautas feministas, ando pelos protestos de rua contra Dilma e PT até chegar à defesa de pautas ultraconservadoras, que incluíam a fiscalização de livros didáticos e preocupação com vestimentas alheias. Ambas se reencontraram durante o governo de Bolsonaro. 

Entre o Femen e a eleição de Bolsonaro, Zambelli trabalhou como gerente de projetos na empresa KPMG Consultoria em 2015, ano em que o movimento Nas Ruas liderou as manifestação que contribuíram para o impeachment de Dilma, ficando conhecida por meio das redes sociais e ando a transitar pela Câmara dos Deputados. Chegou a se acorrentar no prédio do Legislativo em protesto pelo impeachment da petista.

Monarquista, ‘liberal na economia e conservadora nos costumes’

Com a queda de Dilma, a então ex-feminista Zambelli começou a se apresentar como uma “liberal na economia e conservadora nos costumes”. Em 2017 se declarou monarquista, após conversas com integrantes da família imperial Orleans e Bragança. Ainda à frente do Nas Ruas, ela se filiou ao PSL para tentar uma vaga na Câmara. Acompanhou o então deputado federal Jair Bolsonaro em viagens pelo país, tornando-se figurinha carimbada nas recepções ao parlamentar em aeroportos.

Alinhando ao bolsonarismo, Zambelli conseguiu ser eleita deputada federal por São Paulo em 2018. Naquele ano, além de eleger o presidente da República, o PSL teve alguns dos deputados federais mais votados do país. Compam a lista Janaina Paschoal, Joice Hasselmann, Alexandre Frota, Coronel Tadeu, Júnior Bozzella e o “príncipe” Luiz Philippe de Orléans e Bragança.

O PSL rachou ainda no primeiro ano do governo do Bolsonaro, inclusive com o presidente deixando o partido. A legenda ficou dividida entre fiéis aliados de Bolsonaro, com Zambelli entre eles, e aqueles que discordavam sobre como o presidente governava. Outro que logo demonstrou discordância do chefe do Executivo foi o secretário-geral da Presidência Gustavo Bebianno, um dos arquitetos da candidatura vitoriosa de Bolsonaro.

Tuíte polêmico sobre a morte de Bebianno e briga com Joice

Bebianno foi nomeado para assumir a Secretaria-Geral da Presidência da República em janeiro de 2019, deixando o cargo no mês seguinte após conflito com o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Bebianno morreu em 14 de março de 2020, vítima de um infarto fulminante. Na ocasião, Zambelli publicou um tuíte polêmico em alusão à sua morte. 

A parlamentar postou uma agem bíblica: “O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. Isaías 14:24. Todos que se colocarem contra o projeto de Deus serão flechados e voltarão, naturalmente, às suas origens.” Com a repercussão negativa, ela apagou o post. Alegou ter sido mal interpretada.

“Eu li que já estão fazendo conjecturas, ligando a morte dele (Bebianno) ao presidente Jair Bolsonaro. Eu só quis dizer que a morte foi natural”, afirmou a parlamentar. Ela confirmou que a publicação fazia referência à morte do ex-ministro e ex-aliado de Bolsonaro. Em seguida, Zambelli protagonizou uma briga com Joice Hasselmann.

Aborto, drogas, prostituição, Peppa Pig e fake news

Com o PSL já rachado, Carla Zambelli e Joice Hasselmann aram a trocar ofensas públicas. Zambelli chegou a liderar uma campanha com a hashtag #DeixedeSeguirAPepa. Era uma referência à personagem de desenho animado Peppa Pig, relacionando o sobrepeso da deputada à famosa porquinha rosa do desenho animado. A hashtag foi compartilhada por vários parlamentares bolsonaristas, ex-aliados de Joice.

Por outro lado, Joice acusou Zambelli de ser uma fraude, no que dizia respeito ao discurso conservador. Acusou a colega parlamentar de ser a favor da prática do aborto, ex-protistuta e usuária de drogas. O assunto chegou aos microfones da MI das Fake News, em dezembro de 2019, quando Joice contou conversa privada que teria tido com Bolsonaro. 

Em depoimento na MI, ela afirmou que Bolsonaro quis saber se Zambelli trabalhou como prostituta na Espanha. O assunto veio à tona após Zambelli acusar Joice de ter tentado desqualificá-la junto ao então presidente, inclusive entregando para ele um dossiê com informações falsas ainda durante as eleições de 2018. Tal dossiê, narrou Zambelli, “dizia que eu era abortista e drogada. Tive que fazer exame toxicológico para desmentir isso”. Bolsonaro não se manifestou.

Ainda na MI das Fake News, Joice contou sobre como funcionava suposta rede virtual de fake news comandada por Carlos Bolsonaro que, financiada com recursos públicos. Uma das deputadas fiéis ao núcleo bolsonarista, Bia Kicis (PSL-DF), ameaçou Joice. “Espere para ver as redes sociais hoje”, disse Kicis, citada no esquema exposto pela ex-aliada.

Briga com Sara Winter, reaproximação e nova briga

Enquanto acumulava desafetos entre antigos aliados eleitos em 2018, Zambelli se reaproximou de Sara Giromini, sua ex-aliada na causa feminista. Com a ascensão do bolsonarismo, Sara, que contou ter sido prostituta e abortado intencionalmente, adotou o discurso e as vestimentas conservadoras. Ganhou cargo de assessora no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, sob o comando de Damares Alves.

Na época de Femen, Sara e Zambelli dividiram palco e teto. Zambelli chegou a receber Sara em sua casa. Em vídeo no canal do Youtube Direto aos Fatos, publicado em julho de 2018, a parlamentar disse que expulsou a ativista após uma mudanças na pauta dos protestos do grupo feminista, que eram contra o turismo sexual e prostituição infantil e ariam a ter como alvo os católicos e manifestações a favor do aborto.

“A Sara Winter estava na minha casa e eu a expulsei por causa disso. Ela saiu e a gente nunca mais se falou. Inclusive naquela época tem uma reportagem dela dizendo que tinha saído da minha casa porque eu era tucana”, contou a deputada. Ela ressaltou que nunca integrou o Femen, pois nunca fez topless em protestos e afirmou que apenas trocou de camisa com Sara para fazer uma foto durante uma manifestação.

Tendo trabalhado na divulgação de bandas neonazistas em São Carlos (SP), sua cidade natal, na adolescência, Sara Giromini adotou o codinome Sara Winter após entrar para o Femen. A liderança do grupo na Ucrânia diz que ela foi expulsa por ter desviado dinheiro que deveria servir para realização de um protesto no Rio de Janeiro. 

A partir de então, Sara ou a participar do “grupo Pró-Mulher”, ao mesmo tempo em que começou a militar contra as pautas que outrora defendia, incluindo a construção social dos gêneros, o feminismo, e a legalização do aborto, defendendo desde então posições políticas ligadas à direita e ao conservadorismo.

Nomeada coordenadora nacional de políticas à maternidade do ministério de Damares, em abril de 2019, Sara pediu exoneração em novembro do mesmo ano. Ela havia apresentado um currículo falso para assumir o cargo, dizendo-se graduada em relações internacionais. Mas não deixou Brasília nem o bolsonarismo. Montou um acampamento na Esplanada dos Ministérios com um grupo intitulado “300 do Brasil”.

Com o apoio de parlamentares bolsonaristas, incluindo Zambelli, os “300” pregavam a desobediência civil, uma revolução. Sara deu diversas entrevistas proferindo ameaças contra Alexandre de Moraes e o STF. Ela liderou um protesto diante do tribunal em que seu grupo usou tochas e máscaras, ato que foi comparado com o movimento supremacista norte-americano Ku Klux Klan.

Sara seria presa dias depois, acusada de atentar contra a democracia. Na ocasião, Zambelli publicou no antigo Twitter que tinha pedido à Sara para que ela “baixasse a temperatura” do movimento. A deputada postou ainda que a ativista “tem uma personalidade explosiva, mas nem de longe é uma pessoa perigosa” e questionou: “Era pra tanto? Ela representa tanto risco? Outras medidas não seriam cabíveis, antes desta?”.

Curiosamente, antes do início do governo Bolsonaro, Zambelli entrou com ação na Justiça por calúnia, injúria e difamação contra Sara por ela afirmar em um vídeo em seu canal no Youtube que a parlamentar tinha realizado um aborto em 2012. A ação foi cancelada por Zambelli, em 2019, após o vídeo ser deletado pela ativista, que em outra gravação pediu desculpas à deputada.

Sara conseguiu habeas corpus para responder ações em liberdade. Mas logo deixou o país. Ela se mudou para o México. Disse ter se casado com um norte-americano. Antes, deu entrevistas reclamando de abandono de Damares e Bolsonaro. Disse ter desistido de militar pela direita brasileira.

Ataques à vacina e fake news sobre infecção por Covid-19

Ainda em 2019, a revista Veja divulgou que o filho de Carla Zambelli foi matriculado no ensino fundamental do Colégio Militar de Brasília sem ar pelo processo tradicional de seleção de candidatos. Nas redes sociais, a deputada alegou que seu filho de 11 anos sofria ameaças em São Paulo e que estaria seguro ingressando em uma escola militarizada.

Já durante a pandemia de Covid-19, Zambelli se tornou uma das maiores críticas de medidas de isolamento social. Ela minimizou os efeitos da doença, questionou a quantidade de mortes em todo o mundo, desacreditou as vacinas contra o coronavírus, afirmou que seu filho jamais seria vacinado e tentou impedir que todas as crianças brasileiras recebessem ao menos uma dose de imunizante. 

Em entrevista na Rádio Bandeirantes, a deputada sugeriu que o estado do Ceará estaria inflando o número de mortos por Covid-19, sem apresentar qualquer prova, “No Ceará, tem caixão sendo enterrado vazio, tem uma foto de uma moça carregando caixão com os dedinhos”, afirmou Zambelli.

Em 19 de agosto de 2020, Zambelli anunciou publicamente estar com Covid-19 e que faria uso da hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia cientificamente comprovada para tratar a doença. Dois dias depois, ela escreveu no Facebook que estava “sem conseguir dormir com dor no corpo” e pedia orações. 

A deputada deixou um comentário na mesma postagem desejando “força e muita força!” a si mesma, para concluir com o autoelogio “você é nossa representante”. Posteriormente, Zambelli responsabilizou uma assessora pelo comentário. Em 24 de agosto do mesmo ano, a deputada foi internada em Brasília para supostamente se tratar de Covid-19. 

Dois dias depois, ela postou no Twitter uma foto em que afirmava estar curada da Covid-19 graças à hidroxicloroquina. Mas, em 28 de agosto, o hospital divulgou uma nota para esclarecer que a parlamentar jamais havia sido infectada pelo vírus, tendo sido internada para o tratamento de endometriose.

Antecipação de operação da PF, Moro e indicação ao STF

Carla Zambelli voltaria a se envolver em polêmica do governo Bolsonaro em maio de 2020. Na época, vieram à tona acusações de interferência da presidência na Polícia Federal (PF), que levariam à saída do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça. 

O caso foi exposto com a divulgação de vídeo da reunião ministerial em que Bolsonaro aparece se queixando de que a PF não o antecipava informações e após o empresário Paulo Marinho revelar que a família Bolsonaro já recebera informações sigilosas de investigações da PF.

Zambelli, então uma forte aliada do presidente, declarou que haveria uma operação da PF contra governadores por investigações de corrupção e lavagem de dinheiro nas medidas de combate à Covid-19. 

“A gente já teve operações da Polícia Federal que estavam na agulha para sair, mas não saíam. E a gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar talvez de Covidão, ou de, não sei qual é o nome que eles vão dar, mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal”, disse a deputada à Rádio Gaúcha, em 25 de maio de 2020.

No dia seguinte, a PF deflagrou a Operação Placebo, no Rio de Janeiro, contra corrupção e lavagem de dinheiro em ações do governo estadual, em que foi realizadas ações de busca e apreensão contra o governador Wilson Witzel, rival político de Bolsonaro (ex-aliado do então presidente), e contra a primeira-dama do estado, Helena Witzel. 

Em mensagens reveladas no Jornal Nacional, fornecidas por Moro, Zambelli apareceu tentando manter o ex-juiz como ministro da Justiça em troca de buscar convencer Bolsonaro a indicá-lo a uma vaga para o STF. Moro tornou-se desafeto do ex-presidente, mas conseguiu se eleger senador em 2022 pelo Paraná. 

Ações e condenações por ataques a políticos e celebridades

Zambelli acumula condenações por acusações sem provas contra políticos e celebridades. A primeira veio em 2018, quando associação Brasil nas Ruas, presidida por ela, foi processada por danos morais ao publicar fake news insinuando que o deputado federal Jean Wyllys (PT) era pedófilo. A deputada foi condenada a pagar R$ 40 mil em indenização.

Já a apresentadora Xuxa Meneghel entrou com um processo de danos morais contra Zambelli por críticas da deputada ao livro Maya. Direcionado ao público infantil, ele conta a história de uma menina que está no Céu aguardando a família ideal para descer à Terra. Maya ou a ter uma família formada por duas mães e Xuxa mostrou como as crianças nascem puras e livres de qualquer tipo de preconceito. 

Zambelli publicou nas redes sociais críticas ao livro, que nem havia sido publicado. Em vídeo, ela alegou que poderia levar à “destruição de valores humanos das crianças”. Xuxa pediu indenização por dano moral fixada em R$ 150 mil, mas uma juíza da 15ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo julgou o pedido improcedente e extinguiu o processo.

Por outro lado, em 2022 o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul condenou Zambelli a pagar R$ 20 mil à ex-deputada federal Manuela d'Ávila (PCdoB-RS) por ter postado uma montagem de uma foto da ex-parlamentar com chifres em alusão ao diabo. Na legenda, Zambelli criticava a postura das colegas por terem celebrado a legalização do aborto na Colômbia. 

Em agosto de 2024, Zambelli e o também deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) foram condenados pela Justiça de São Paulo a pagar uma indenização por danos morais a uma professora após terem compartilhado o número de telefone da educadora nas redes sociais. O episódio ocorreu após a professora ter enviado uma mensagem privada a Zambelli, na qual a chamava de “fascista”. Em resposta, a deputada divulgou os prints da conversa em suas redes sociais, ação que foi reforçada por Gayer, que compartilhou o conteúdo durante uma live no Instagram.

A decisão que condenou os dois políticos bolsonaristas foi proferida pela juíza Camila Franco de Moraes Mariani, da 21ª Vara Cível, que fixou a indenização em R$ 3 mil. Zambelli chegou a pedir compensação por danos morais, alegando que a mensagem privada continha teor desrespeitoso. No entanto, a juíza argumentou que foi a própria deputada quem tornou a mensagem pública, expondo o conflito e agravando a situação. 

Inelegibilidade e condenações por ataques ao TSE e Lula

Carla Zambelli conseguiu ser reeleita em 2022, com 946.244 votos. Mas ela acumula pelo menos quatro condenações por fake news contra adversários políticos e o sistema eleitoral brasileiro. Principalmente naquele período eleitoral, o que pode lhe custar seu mandato.

Em dezembro de 2024, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) acatou uma ação movida pela deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) contra Zambelli por fake news contra o processo eleitoral. Em janeiro de 2025, o TRE-SP cassou os direitos políticos de Zambelli por 8 anos. Ela irá recorrer às instâncias superiores e permanecerá no cargo até que as possibilidades de recursos sejam esgotadas.

Antes disso, em setembro de 2023, Zambelli, Mara Gabrilli e Flávio Bolsonaro foram condenados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a pagar R$ 10 mil a a Lula por espalhar mentira que o petista pagou para não ser relacionado ao assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel (PT). 

No dia 25 do mesmo mês, Zambelli foi multada em R$ 30 mil por divulgar a notícia falsa sobre a manipulação de urnas eletrônicas, publicada nas redes sociais durante a campanha eleitoral de 2022. Já em 20 de fevereiro de 2024, o TSE multou Zambelli em R$ 30 mil por propagação de desinformação contra o então candidato Lula em 2022.

Agora, enquanto diz buscar forças para enfrentar as decisões judiciais, além dos recursos que serão apresentados à Justiça, Zambelli afirma ter outro trunfo: a Câmara. Diz que o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), deu “sinal verde” ao líder do PL, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), para apresentar pedido de suspensão da ação penal contra ela no caso da invasão ao sistema do CNJ. Além dos 10 anos de prisão, o STF impôs à deputada e ao hacker uma indenização de R$ 2 milhões por danos morais e coletivos.