BRASÍLIA - Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) retoma, a partir deste sábado (1º), o cargo de presidente do Congresso Nacional e do Senado para um mandato de dois anos, com ares de quem nunca perdeu o reinado que conquistou. Aliás, esse tem sido o tom da sua atuação política nos últimos anos e se explica pelo placar da votação: ele angariou 73 dos 81 votos.
Com a vida política construída no Amapá, Alcolumbre escalou para o posto de comando do Parlamento em 2019, na metade de seu primeiro mandato como senador, com uma votação apertada. Ele conseguiu 42 votos, apenas um a mais do que o mínimo necessário.
O senador ficou no cargo por dois anos e não se reelegeu por uma restrição regimental, que proíbe a recondução na mesma legislatura, mas é visto como favorito desde então. Na época, fez campanha para Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que ficou no cargo por quatro anos antes de devolver a coroa ao “padrinho”.
A frase sobre o "reinado" de Alcolumbre descreve um período em que, oficialmente, ele não tinha todo o poder. Mas, nos bastidores, a influência dele nunca desapareceu. É comum alguém cumprimentá-lo com um “meu presidente” enquanto ele circula pelo Senado - mesmo ao lado de Pacheco.
O amapaense também virou uma espécie de conselheiro nos bastidores do Senado nos últimos dois biênios. Sempre com os apertados pelos corredores da Casa, não costuma decisões, mas está por trás de praticamente todas elas - especialmente quando tratam sobre emendas parlamentares.
Alcolumbre presidiu, nesses quatro anos, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), tida como a mais importante, e manejou projetos sensíveis para o governo. Nesse período, articulou a liberação de emendas parlamentares, atuou por acordos políticos e teve trânsito livre tanto na Presidência do Senado, quanto na Residência Oficial, localizada no Lago Sul, bairro nobre de Brasília (DF) - ambos ocupados por Pacheco.
De volta agora ao gabinete da Presidência, Alcolumbre terá que fazer ajustes mínimos na equipe. Isso porque Pacheco manteve até mesmo parte de seus assessores, que continuarão agora no gabinete mais importante do Senado com o amapaense.
À primeira vista, o perfil político de Alcolumbre pode parecer confuso. Ele foi vice-líder do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tido como inimigo da esquerda, mas não esconde a atual proximidade com o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), que é líder do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso.
Antigos adversários, Randolfe e Alcolumbre apareceram em um vídeo publicado no Instagram do novo presidente do Senado, em janeiro. Abraçados, eles cantaram juntos a música Coração Partido, versão em pagode da clássica Corazón Partío de Alejandro Sanz.
“Se ouvir uma sofrência já é bom, imagina com uma galera reunida. Te mete com esse coro de Coração Partido com os alunos da Escola Estadual Munguba, em Vitória do Jari!”, escreveu Davi Alcolumbre sobre o momento em uma agenda oficial que tinha, ainda, o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes.
Também é no Amapá que o presidente do Congresso direciona seu foco para manter seu nome relevante no cenário regional e assim, sofrer menos riscos em eleições futuras. Na capital federal, a atuação é majoritariamente nos bastidores, o que o mantém com influência.
Não à toa, costurou um acordo em torno de seu nome com a máxima tranquilidade de uma negociação política. Seus únicos opositores foram os outros candidatos ao cargo. O resultado foi uma consolidação expressiva, com um aumento significativo de votos em relação a 2019 e o apoio até de senadores com quem nunca tinha conversado.
Quem é Alcolumbre
Davi Alcolumbre começou a cursar, ainda na juventude, ciências econômicas em uma instituição de ensino superior em Macapá, mas não chegou a concluir o curso. Ele foi comerciante em negócios fundados por sua família e entrou para a política em 2001, aos 24 anos, quando foi eleito vereador da capital amapaense.
Dois anos depois, foi eleito para o cargo de deputado federal. Ele ocupou um gabinete na Câmara por três mandatos consecutivos, até chegar ao Senado em 2015. Hoje, aos 47 anos, exerce o segundo mandato como senador.
Em 2019, Alcolumbre foi eleito o presidente do Congresso Nacional mais jovem da história. Na época, tinha 41 anos. Ele também foi o primeiro judeu a assumir a cadeira de comando do Senado Federal.