PAUTA CONSERVADORA

Em votação-relâmpago, Câmara acelera projeto que equipara aborto a homicídio

Projeto vale para gestações a partir da 22ª semana, inclusive para casos de estupro; pena pode chegar a 20 anos de prisão

Por Levy Guimarães
Atualizado em 12 de junho de 2024 | 20:02

BRASÍLIA. A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (12) um pedido de urgência para o projeto de lei que equipara abortos realizados após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples, cuja pena pode ser de 6 a 20 anos de prisão. Com isso, o texto não precisa ar por comissões nem cumprir prazos regimentais.

A votação aconteceu de maneira simbólica, sem que os parlamentares tenham de registrar o voto no sistema, e de forma relâmpago. Após a aprovação da urgência para o projeto “anti delação”, Lira não chegou a informar qual o item a ser deliberado, mas segundos depois, anunciou a aprovação

De autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), o projeto propõe alterações no Código Penal e também estabelece que, em casos de viabilidade fetal, mesmo resultantes de estupro, o aborto não será permitido. O governo Luiz Inácio Lula da Silva é contra a proposta.

Esse item pode fazer, por exemplo, com que uma vítima de estupro tenha uma pena maior do que o estuprador, já que o crime de estupro tem uma pena máxima de 12 anos, enquanto o de homicídio simples, de 20 anos.

O avanço do projeto também é uma resposta a uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele emitiu uma liminar anulando uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que dificulta o aborto decorrente de estupro. Também fica proibida a abertura de novos procedimentos baseados na mesma norma.

A resolução do CFM proíbe a utilização de uma técnica clínica, chamada assistolia fetal, para a interrupção da gravidez com mais de 22 semanas oriunda de estupro. O órgão chegou a suspender o exercício profissional de médicas que realizaram o aborto nesses casos, fato que chegou a gerar manifestações na sede do Conselho Regional de Medicina, em São Paulo.

Atualmente, o aborto é permitido no Brasil em três situações: gravidez decorrente de estupro, risco à vida da mulher e anencefalia do feto.