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Reginaldo Lopes

Deputado federal pelo PT-MG

REGINALDO LOPES

O papa Leão XIV e sua mensagem de esperança

Desafio de defender os pobres nos novos tempos

Por Reginaldo Lopes
Publicado em 13 de maio de 2025 | 07:00

Nos últimos dias, os olhos do mundo voltaram para o Vaticano. Mais precisamente para a Capela Sistina, onde um conclave de cardeais escolhia o novo papa. Até o anúncio, muitas histórias, informações, estudos foram apresentados sobre os dois milênios vividos pela Igreja Católica, que tem no Brasil o maior número de seguidores. Para os que acreditam na verdadeira vocação do catolicismo, a torcida era para o líder escolhido seguir o caminho trilhado por Francisco, com o mesmo compromisso com os pobres, com o diálogo inter-religioso, a luta pela paz no mundo e o cuidado com a Casa Comum.

Nossos desejos e orações foram atendidos, e o escolhido traz muitas semelhanças com aquele que em seu pontificado aproximou a Igreja do povo. Robert Francis Prevost foi eleito como o 267º pontífice da Igreja Católica. Apesar de nascido nos Estados Unidos, o cardeal não é estranho à nossa América Latina. Missionário por muitos anos no Peru, ele conhece de perto a realidade do continente marcado por profundas injustiças sociais, mas também por uma resistência histórica dos povos, especialmente indígenas, negros e camponeses. Já esteve no Brasil, tomou cerveja e experimentou nossa comida na agem por Minas Gerais. Tem proximidade com lideranças pastorais progressistas brasileiras e um olhar atento para os desafios enfrentados por milhões que vivem à margem do sistema econômico excludente.

Prevost deixa claro o rumo do seu papado ao escolher usar o nome de Leão XIV. Faz uma referência direta ao papa Leão XIII, conhecido por sua emblemática encíclica “Rerum Novarum”, publicada em 1891, que tratava da situação dos trabalhadores na Revolução Industrial. Aquele documento histórico marcou o início da Doutrina Social da Igreja e foi decisivo para que o catolicismo deixasse de lado a ividade diante da exploração do trabalho e assumisse uma postura crítica e comprometida com a justiça social.

Inteligência artificial e Igreja Católica

Hoje, enfrentamos um momento semelhante. A inteligência artificial, os algoritmos, o avanço tecnológico nas comunicações e no mundo do trabalho têm mudado não apenas a forma como produzimos, mas também como vivemos, nos relacionamos e nos organizamos socialmente. As desigualdades aumentam, os direitos trabalhistas são desafiados por novas formas de exploração, e os vínculos comunitários enfraquecem diante da lógica do individualismo digital. A eleição de Leão XIV é, portanto, um sinal de que a Igreja quer – e precisa – estar nesse debate.

No seu discurso no Congresso dos Cardeais, Leão XIV falou da escolha do nome e como entende ser o novo desafio do catolicismo: “Nos nossos dias, a Igreja oferece a todos o tesouro da sua doutrina social em resposta a mais uma revolução industrial e aos desenvolvimentos no domínio da inteligência artificial que colocam novos desafios à defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho”.

Ao assumir o Dicastério para os Bispos e a Pontifícia Comissão para a América Latina antes de ser eleito papa, Robert já vinha desempenhando um papel importante na descentralização da Igreja e na valorização das comunidades locais – algo que ressoa muito com nossas lutas de base aqui no Brasil.

Justiça social e abertura ao novo

Do ponto de vista político e espiritual, a eleição de Leão XIV oferece uma janela de oportunidade para avançarmos em pautas fundamentais, como a defesa da democracia, a redução da jornada de trabalho, o combate às desigualdades e à violência estrutural. É simbólico e inspirador que uma figura religiosa tão importante se apresente ao mundo com um programa de justiça social e de abertura ao novo.

Se Leão XIII foi o papa que buscou compreender a Revolução Industrial e intervir nela com os instrumentos da fé e da justiça, Leão XIV parece disposto a fazer o mesmo diante da Revolução Digital. Cabe a nós, enquanto sociedade civil, movimentos populares e agentes públicos comprometidos com os mais pobres, caminhar ao lado dessa nova liderança religiosa e garantir que essa aliança entre fé, razão e justiça social produza frutos concretos para os que mais precisam. 

Que Leão XIV seja um farol para esse tempo novo que começa – não só para os católicos, mas para toda a humanidade