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Paulo César de Oliveira

O jornalista e empresário escreve às terças-feiras

PAULO CÉSAR DE OLIVEIRA

Lição de um grande mineiro que buscou conciliação

Os 40 anos sem Tancredo

Por Paulo César de Oliveira
Publicado em 22 de abril de 2025 | 07:00

Ontem, 21 de abril, uma data emblemática na história política do país, marcou os 40 anos da morte de Tancredo Neves, que seria o primeiro presidente civil após duas décadas do regime militar implantado após o golpe que derrubou Jango, em 1964.

Tancredo venceu no Colégio Eleitoral, numa eleição indireta, Paulo Maluf, o candidato apoiado pelos militares. O mineiro tinha como vice José Sarney, senador que apoiou o regime militar, mas que acabou sendo de fundamental importância para a consolidação da democracia brasileira, graças à sua firmeza e capacidade de articulação.

Como jornalista, fui parte dessa história. Estava na missa em comemoração da eleição da chapa oposicionista, poucas cadeiras atrás, quando Tancredo sentiu-se mal e saiu para o hospital. Dias antes, acompanhei os então diretores dos Associados, Camilo Teixeira da Costa e Paulo Cabral, na casa de Brasília para convidá-lo para um jantar em sua homenagem, prontamente aceito. Paulo Cabral quis saber qual seria o traje, e ele foi rápido: “O que quiserem, mas eu sempre usei terno e gravata”.

Poucos dias antes da morte do presidente eleito, eu jantava no Piantella com o saudoso empresário Artur Sendas, na época um dos ícones do setor hipermercadista, quando a TV mostrou Tancredo de robe de chambre. Eu comentei: “Esta é uma foto montada, pois Tancredo nunca apareceria assim. Poucos dias depois, Tancredo faleceria, no dia 21 de abril, e o Sendas me ligou para dizer que eu sabia das coisas.

Sua morte foi uma comoção no Brasil. Vivemos uma enorme tensão até que prevalecessem o bom senso e a capacidade de articulação de Sarney, que teve apoio firme de antigos aliados de Tancredo, como o ex-governador de Minas Hélio Garcia. 

Apesar de enfrentar grandes crises econômicas que colocaram em risco o processo de redemocratização traçado por Tancredo, o país construiu um ambiente democrático firme, que resultou na convocação da Constituinte, que trabalhou no ambiente de debates intensos, mas livre, entregando ao país uma Constituição verdadeiramente democrática, como sonhava Tancredo.

Ontem, em São João del-Rei, terra natal de Tancredo e onde seu corpo foi enterrado, seu neto Aécio Neves organizou uma solenidade para homenagear o grande político que teve agem marcante na vida política do país.

Num momento em que o Brasil vive um processo de radicalização, fica a lição de um grande mineiro que soube buscar a conciliação para construir um país livre e democrático.