Carnaval de Belo Horizonte não está à venda
Prefeitura endossa o monopólio de venda de bebidas da Ambev
Amigos, amigos, negócios (e leis) à parte. Agora a direita (aquela do livre mercado) quer escolher a cerveja que você vai tomar. E ainda prejudicando trabalhadores. Aqui, não. Nosso Carnaval é livre, de luta e não está à venda. Seguimos com o povo, o único dono da festa que vai seguir escolhendo o que consumir com o dinheiro suado do seu trabalho.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) firmou contrato de patrocínio com a Ambev, e as duas têm tratado o edital como um aval para monopolizar a venda de bebidas da cervejaria durante o Carnaval. A notícia desceu quadrada e amargou a boca da população. Como pode um contrato que afeta direitos da coletividade e não consultar o povo? Além de autoritário, rompe com a gestão democrática da cidade.
É como dizia Cazuza: “Não me convidaram/ pra esta festa pobre/ que os homens armaram/ pra me convencer/ a pagar sem ver/ toda essa droga/ que já vem malhada/ antes de eu nascer”. A retomada do Carnaval de BH foi construída pelo povo, e ele deve, no mínimo, ser ouvido.
Trabalhadores ambulantes, donos de bares e restaurantes e foliões nos procuraram, e movi uma ação judicial contra a prefeitura, acompanhada pelas vereadoras Iza Lourença e Cida Falabella, para impedir o monopólio. A primeira instância negou a liminar, mas vamos recorrer.
BH tem um decreto (16.825/2018) que prevê a divulgação da marca do patrocinador, o que não deve ser confundido com a exclusividade de venda do produto da empresa. Há outro decreto (18.590/2023) que regulamenta eventos no município, mas anteontem (18), na canetada, ele foi alterado por um novo decreto (19.005/2025) do Poder Executivo, que ite a promoção de marcas e produtos vinculados a seu financiamento em todo o seu território municipal durante o evento. A pergunta que fica é: além de tratar a contrapartida (divulgação da marca) como exclusividade comercial da Ambev, a prefeitura quer expandir o monopólio da cervejaria (de dez regiões) para toda a cidade de BH?
Soubemos que fiscais da prefeitura expulsaram ambulantes que vendiam outras marcas de bebidas e apreenderam ombrelones. A PBH agora trabalha para a Ambev? Não vamos permitir que ajam dessa forma e desconsiderem a diversidade da economia e da cultura popular do Carnaval de BH, privilegiando uma única e megaempresa.
E outro absurdo: a prefeitura vai entregar a reciclagem nas mãos de uma empresa privada no Carnaval, precarizando cooperativas de materiais recicláveis e a limpeza urbana de BH. E ainda não há garantia da realização do programa ReciclaBelô, que sustenta mais de 450 famílias de catadores autônomos.
Além dos prejuízos para comerciantes locais, foliões, ambulantes e catadores, as consequências desse contrato ainda são difíceis de calcular. O que sabemos é que a Ambev pagou menos de R$ 6 milhões para patrocinar o Carnaval, e a festa movimenta mais de R$ 1 bilhão. Qual é a vantagem desse contrato? Vamos seguir em luta para questionar esses abusos.