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Bella Gonçalves

Deputada Estadual de Minas (PSOL)

BELLA GONÇALVES

Impulso para o fortalecimento da democracia

Fim da escala 6x1 pode adiar o fim do mundo

Por Bella Gonçalves
Publicado em 26 de dezembro de 2024 | 07:00

A luta pelo fim da jornada 6x1, que prevê seis dias de trabalho e um dia de descanso, será uma das prioridades da luta em 2025 no Brasil. Seguiremos fortalecendo o movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que foi idealizado pelo vereador e amigo Rick Azzevedo (PSOL-RJ) e transformado em Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pela nossa líder Erika Hilton (PSOL-SP).

Essa bandeira representa simbolicamente muitos outros desejos, pelos quais trabalhamos há mais de 15 anos, nos meus mandatos e na minha atuação como militante e ativista de direitos humanos.

Conquistarmos o fim dessa escala abusiva pode ser também um marco de fortalecimento para a democracia e a busca por direitos para os trabalhadores, que poderão contar com mais tempo para participar das decisões sobre a cidade e sobre as políticas que influenciam diretamente o seu cotidiano.

O modelo de vida capitalista e consumista está derretendo junto com as geleiras. Precisamos resistir e construir novos modos de viver, um novo mundo, enquanto a areia desce pela ampulheta das mudanças climáticas, das guerras anunciadas e das guerras silenciosas e cotidianas com as quais convivemos por falta de opção. A felicidade não cabe na escala 6x1. Precisamos reconquistar o nosso tempo.

Vários países já experimentam este modelo com redução de jornada, enfrentando os rumores da direita, que sempre evoca o “Deus” mercado para dizer que o país vai quebrar diante de possíveis avanços sociais. Foi assim em 1888, com a abolição da escravidão; em 1936, com a instituição do salário mínimo; em 1962, com a conquista do 13º salário; em 1988, com a redução de 48 para 44 horas de trabalho semanais; em 2013, com a PEC das Domésticas; e, agora, o mercado está dando chilique diante da tentativa de Lula de taxar os super-ricos e partilhar pelo menos uma fatia do bolo com quem produz seus ingredientes.

Ao contrário do que dizem os banqueiros e especuladores, acabar com essa escala adoecedora pode fortalecer a economia, com melhora da produtividade, criação de mais vagas de trabalho, redução do desemprego e aumento da formalização por meio do fortalecimento da CLT e da arrecadação do sistema de Previdência. Além disso, especialistas também preveem a ampliação da capacidade de compra da população, com mais gente consumindo nos comércios e tendo mais lazer, mais cultura e mais tempo para cuidar da saúde e prevenir adoecimentos, para refletir e mudar a própria vida. E, para isso, necessitamos de tempo e de mobilização.

Precisamos rediscutir, com Lula e o Congresso, a reforma trabalhista que foi aprovada durante o governo de Michel Temer, em 2017. Ela enfraqueceu o movimento sindical e reduziu significativamente o número de pessoas sindicalizadas. Além disso, desde então temos trabalhado pelo mínimo e pelo básico. Mas também merecemos o máximo e, a curto prazo, queremos, pelo menos, a garantia do justo. E o Estado precisa assumir sua responsabilidade nisso.

Em Tóquio, no Japão, foi aprovada a escala 4x3, com quatro dias de trabalho e três de descanso. Os trabalhadores suecos têm garantia de pelo menos cinco semanas de férias, e mais de 70% dos cidadãos são sindicalizados, ou seja, dedicam tempo para debater seus direitos trabalhistas – talvez porque tenham mais tempo e muito mais do que o básico para sobreviver.

Já no Brasil e em Minas, a situação é grave. Nosso Estado está no topo da lista suja dos casos de trabalho análogo à escravidão, e é também por isso que os deputados federais mineiros têm a obrigação de votar a favor dos trabalhadores na PEC pelo fim da escala 6x1 que vai tramitar em 2025 no Congresso. Além disso, vivemos tempos de ajuste fiscal. Zema é contra o fim dessa jornada abusiva e ainda quer privatizar nossas estatais Cemig e Copasa sem consultar o povo.

Nosso país é considerado um dos dez piores do mundo para trabalhar, segundo dados do Índice Global de Direitos. O estudo foi realizado em 2022 pela Confederação Sindical Internacional (CSI) e analisa o respeito aos direitos dos trabalhadores em 148 países do mundo. Temos uma das maiores jornadas de trabalho do planeta.

E como alterar essa realidade? A questão é que precisamos mudar nossa forma de viver, com ações transformadoras a curto, médio e longo prazo. Vai ser desafiador? Vai. Já está sendo. Vai dar trabalho? Vai. Mas estamos no caminho certo: precisamos apostar mais no coletivo e menos no individual. Precisamos resistir à colonização das nossas subjetividades e dos nossos desejos. Vamos seguir lutando juntas e juntos, por uma Minas Gerais mais justa, com mais direitos para a população, em especial os mais vulneráveis, como as mulheres, a comunidade LGBTQIAPN+, as pessoas em situação de rua, os ambulantes, os indígenas, os quilombolas, os povos de terreiro e comunidades rurais e tantos outros que precisam da nossa escuta e do nosso olhar atento e presente.

É assim que conseguiremos estabelecer outros modos de vida, focando o bem-viver e a harmonia com as nossas naturezas. 

BELLA GONÇALVES
Deputada Estadual de Minas (PSOL)