ACÍLIO LARA RESENDE

Esconder a doença tornou-se hábito entre político 235a1t

Experiência brasileira de Tancredo a Bolsonaro 3r2uj

Por Acílio Lara Resende
Publicado em 17 de abril de 2025 | 07:00
 
 
Jair Bolsonaro é levado para hospital, após ar mal em ato político no Rio Grande do Norte Foto: José Aldenir/AFP

Nem sempre, em situações difíceis por que a qualquer um de nós, que envolvam a saúde, o bom senso ou o juízo falam mais alto. Mas esconder a doença tornou-se hábito entre políticos. A maioria deles esconde do eleitor o seu real estado de saúde. O ex-presidente Tancredo Neves deixou para depois a sua saúde. Entre o país (que vivia momentos delicados) e a sua saúde, optou pelo primeiro.

Seu médico particular o viu algumas vezes em Belo Horizonte, mas as providências só foram tomadas quando a família foi alertada pelo médico Francisco Pinheiro da Rocha, em Brasília, falecido há dias, aos 95 anos. 

Ouvi do Dr. Pinheiro, na véspera da posse do Dr. Tancredo, em um jantar do qual participamos, além de muitos outros convidados, que a situação de saúde do presidente eleito era delicada, exigia cuidados especiais e providências imediatas. Justiça seja feita ao notável cirurgião: o Dr. Pinheiro fez tudo que poderia fazer. Transferido para São Paulo, e já em condições precárias, Tancredo foi operado pelo Dr. Henrique Walter Pinotti mais de uma vez. Foi trágico o final dessa história. Tancredo, infelizmente, veio a óbito no dia 21 de abril de 1985.

O que ocorreu, há dias, com o ex-presidente Jair Bolsonaro é que me trouxe à memória o episódio de Tancredo Neves – um dos mais trágicos episódios da nossa história recente. Todavia, Jair Bolsonaro e sua família não só não esconderam o seu estado de saúde – proveniente da facada que levou, ainda em campanha pela Presidência da República, na cidade mineira de Juiz de Fora –, como aceitaram as providências, depois de ouvido o seu médico particular, para que se submetesse, em Brasília, no último domingo, a uma longa e complexa cirurgia, que se iniciou às 10 horas e só terminou depois das 21 horas.

O estado de saúde de um ex-presidente sempre desperta especulações. No caso de Jair Bolsonaro não foi diferente. Surgiram, especificamente, especulações sobre o PL da Anistia, que pretende abrir brecha para beneficiá-lo, usando até mesmo artifícios sentimentais, e sobre as eleições de 2026. Ambas ganharam fôlego, mas não chegarão a bom termo. 

Bolsonaro dificilmente será candidato a qualquer cargo em 2026. Além do episódio do 8 de Janeiro, cuja ação está em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), e por uma hipótese absurda, que é a de não ser por ele apenado como um dos responsáveis pela tentativa de golpe de Estado, já está condenado à inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até 2030, por abuso de poder político e pelo uso indevido dos meios de comunicação na reunião com embaixadores, em Brasília, no Palácio da Alvorada, ocasião em que criticou as urnas eletrônicas. Crítica, aliás, que agravou a sua situação.

A tentativa de obstrução da pauta do Congresso Nacional e a pressão sobre o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta, para que ponha em votação, em regime de urgência, o PL da Anistia, que seria ampla, geral e irrestrita (e esse talvez seja o seu principal defeito), segundo alguns analistas, estão com os dias contados.