Vamos falar sinceramente, leitor? De minha parte, gostaria de escrever hoje sobre as potencialidades do nosso país. Sobre o seu futuro, que, a meu ver, não tem como dar errado. Sobre a política, em tom maior, mas, principalmente, sobre o regime democrático, que é o único sistema político capaz de desenvolver um país, preservando, ao mesmo tempo, o nosso inegociável e mais precioso bem – a liberdade.
Dói-me quando ouço alguém dizer que, se pudesse, deixaria o país. Dói-me mais quando quem diz isso é um jovem. Não raras vezes, muitos dos que dizem querer deixar o país têm tudo para conquistar aqui um lugar de relevo, pois, além de jovens, têm talento.
Infelizmente, porém, vou me referir ao autor da frase que deu título a estas linhas. E inicio dizendo que não compreendo, até hoje, como o ex-deputado Jair Messias Bolsonaro conquistou, em 2018, legitimamente, pelo voto livre e direto, a Presidência da República. Uma escolha da maioria dos brasileiros, mas, seguramente, pouco ou nada ciente da sua vida pregressa como político e como militar, quando teria sido “convidado” a deixar o Exército na patente de primeiro-tenente.
O convite para se desligar do Exército veio depois que publicou, em 1986, artigo na revista “Veja”, no qual criticava os baixos salários militares. Em razão do texto, chegou a ser preso. Em 1987, pela mesma revista, foi acusado de planejar a explosão de bombas em unidades militares e foi condenado em primeira instância. Um ano depois da acusação, foi absolvido pelo Superior Tribunal Militar (STM). Logo após, foi “convidado” a se transferir para a reserva na patente de capitão.
Livre da farda, pelo Partido Democrata Cristão (PDC), foi eleito, em seguida, vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Pouco depois, foi eleito deputado federal por seis mandatos consecutivos. Em 2019, assumiu a Presidência da República e nela permaneceu, teoricamente, até 2022. Não ou, por motivos já conhecidos, a faixa presidencial ao sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
O ex-presidente é, hoje, o mesmo tenente que “aprontou” no Exército; que, na Câmara dos Deputados, ficou conhecido pelos discursos de ódio, pela defesa da tortura e dos assassinatos durante a ditadura militar; e que, na Presidência da República, primou pelo combate às instituições democráticas, chegando a dizer, num desatino, que não mais cumpriria decisões do Supremo Tribunal Federal.
Bolsonaro é, enfim, uma triste figura que, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ficou proibido de disputar eleições até 2030, mas que, mesmo tendo sido denunciado, pelo procurador geral da República, Paulo Gonet, como líder de tentativa de golpe em 2022, mantém sua candidatura à Presidência da República para 2026. E, debochadamente, afirma que “não tem nenhuma preocupação com as acusações” feitas contra ele e mais 33 pessoas, entre militares e outros aliados.
A política e o mundo atual, com Donald Trump e companhia dando aulas sobre geopolítica, me trazem à lembrança esta frase genial do escritor e cronista Nelson Rodrigues: “Se os homens de bem tivessem a ousadia dos canalhas, o mundo estaria salvo”.