Bernardo Ribeiro é diplomata de cidades e mestre em relações internacionais

Uma das principais marcas do século XXI é o extenso conjunto de acordos e compromissos que foram sendo celebrados e ratificados pela sociedade diante da crescente importância de nos organizar diante de muitos desafios da vida contemporânea. Mesmo que isso tenha começado com a grande preocupação com as repentinas e agressivas mudanças de “comportamento” do clima, logo as fragilidades da sociedade atual também vieram à tona.

Mentes muito brilhantes e atentas perceberam a oportunidade de aproveitar o movimento de mudanças do modo de vida na direção do desenvolvimento limpo para incluir também a justiça social e a melhoria da qualidade de vida das pessoas que mais precisam.

A visão de que as metas técnicas e infra estruturais do desenvolvimento limpo precisavam ser unidas a avanços socioeconômicos gerou diversos acordos internacionais, como a Agenda 2030, a Nova Agenda Urbana, as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os princípios de justiça climática e vários outros. E com tudo isso também foi definido o ponto culminante: a ano de 2030.

Prestação de contas

Isso quer dizer que estamos a pouco menos de cinco anos dos dias em que as autoridades globais se encontrarão em uma série de conferências e encontros multilaterais, cujo objetivo será de analisar as metas acordadas frente aos resultados obtidos.

Essa prestação de contas pode tender a duas possibilidades de resultados: os indicadores e marcos de desenvolvimento sustentável serão apresentados em patamares muito próximos aos indicadores de metas e objetivos, ou o exato oposto disso. Do primeiro resultado a comunidade internacional sai esperançosa de que conseguimos percorrer o caminho certo para um mundo mais sustentável, justo e próspero e que poderemos traçar novas metas e marcos para continuarmos a implementar as soluções e iniciativas que nos levaram até lá.

Contudo, o segundo resultado poderá provocar uma crise mundial histórica que afetará a confiança nas instituições, nas metodologias, em todos os nossos processos econômicos e políticos voltados à governança socioambiental. O impacto negativo certamente atingiria a crença de que essas metas e compromissos são capazes de nos conduzir à justiça e ao progresso econômico, social, ambiental e político. Seria uma grande decepção.

Ponto de inflexão

O mundo inteiro tem se organizado em torno dos conceitos, metodologias e melhores práticas que vão sendo considerados eficazes na consecução desses objetivos. A crescente priorização dessas pautas na ação pública e privada, faz com que o ano de 2030 se configure como um dos mais importantes anos desse século e, talvez, da nossa geração. 

Será um ponto culminante, onde o mundo decidirá se deverá continuar e seguir em frente, ou se será feita uma inflexão com profundas revisões em todos estes regimes.

Encontros multilaterais

É possível imaginar que será um ano de muita movimentação, com fóruns, conferências, assembleias; nas regiões, continentes, em todo o globo. Nas múltiplas organizações internacionais, regionais, de governos locais. O setor privado também deverá promover suas atividades de prestação de contas da ESG. Neste século, 2030 será o ano mais importante do G-20, das COPs, da Assembleia Geral da ONU, da União Europeia, do Mercosul, Asean, União Africana, enfim, de todas as instituições que se debruçam de uma forma ou de outra sobre o desenvolvimento sustentável e a governança sócio ambiental.

A certeza é que muitos de nós chegarão até lá, e a vida a partir dali dependerá do que tem sido construindo. 2030 será, portanto, o ano da grande esperança ou da grande decepção.

(*) Especialista em cooperação internacional de governos locais com foco em desenvolvimento e ESG.