Gabriela Curi é professora de Educação Física do Colégio Bernoulli

Brincar é coisa séria e o tempo é agora. O tempo de ser criança e de brincar acompanha a existência de um ser que “já é” e de um ser em estado permanente de devir. A criança não é apenas um tornar-se, ela já se apresenta ao mundo como um ser completo, existente, que possui sua essência, suas características, sua subjetividade. O tempo de brincar nasce com este ser presente, que tece suas histórias brincando, como um ser que atua em sua própria vida e desenvolvimento. 

A criança incorpora, por meio do brincar e da brincadeira, o mundo em que vive, sua cultura, seus saberes, organizando-se como um ser social. O brincar é sapiência, conhecimento propriamente dito. É na manifestação deste saber que a criança constrói sua trama de mundo, experienciando, descobrindo, redescobrindo, criando, recriando, crescendo como um indivíduo repleto de potencialidades.

Brincar como aprendizado

Valorizar o brincar como saber e como aprendizado é entender que as crianças aprendem enquanto brincam. Desenvolvem habilidades motoras, cognitivas, sociais e emocionais. Experimentam, descobrem, acertam, erram e aprendem com seus erros. O brincar é uma maneira potente e prazerosa de aprender a ser, de conhecer-se, de reconhecer-se, de identidade.

Ao compreendermos a brincadeira como saber corporificado da infância entendemos nossas pedagogias e existências em educação como movimentos que promovem o brincar em relação com o mundo. 

E assim nossas crianças tem a oportunidade de vivenciar e explorar a riqueza das interações junto ao mundo, às coisas e junto ao outro como elementos essenciais para o desenvolvimento da autonomia, da empatia e da criatividade.

O tempo de brincar

Estamos atentos ao tempo presente do brincar, ando um tempo/espaço necessário para a exploração autônoma, a fruição do lúdico e a invenção da vida. A essência do brincar resiste. Precisamos proporcionar às crianças oportunidades para a fantasia e a experimentação, reinventando suas concretudes, transformando-as em brinquedos. O brincar contemporâneo reivindica esse tempo atento, de afeto, de escuta, de acolhimento às infâncias.

Quando falamos de brincar precisamos confiar na capacidade da criança de se divertir, compartilhar saberes. E, na consciência desta criança em nós, convidá-la a ser criança novamente. Ao entender seu papel como território aberto ao brincar, a escola não só resguarda uma parte essencial da infância, mas investe no desenvolvimento integral.

Não podemos nos esquecer de que o brincar é a linguagem natural da infância, a forma como as crianças exploram o mundo, tornam-se vivas, aprendem sobre si mesmos e sobre os outros, desenvolvem a autonomia e a capacidade de se conectar. Vamos celebrar o poder transformador do brincar, da brincadeira