KADU NIEMEYER

O Palácio Capanema

Parte do patrimônio histórico nacional e de minha memória familiar

Por Artigo de Opinião
Publicado em 30 de maio de 2025 | 07:00

Kadu Niemeyer é do escritório de Arquitetura
e Urbanismo Oscar Niemeyer e fotógrafo

Fui acumulando memórias durante 54 anos, (desde 1971), trabalhei com meu avô Oscar Niemeyer (1907-2012) fotografando as maquetes dos seus projetos. Pincei uma das inúmeras histórias que ele me contava sobre os bastidores dos seus projetos.

O Palácio Gustavo Capanema, no Centro do Rio de Janeiro, construído entre 1937 e 1945 e considerado um dos maiores símbolos da arquitetura moderna no mundo, após seis anos de reforma, acabou de ser reinaugurado, na terça-feira (20), e assim devolvido ao povo brasileiro.

Em 1936, a convite do mineiro Gustavo Capanema (1900-1985), então ministro da Educação e Saúde, o arquiteto suíço Le Corbusier (1887-1965) fez a consultoria do projeto da sede do referido ministério. O time de notáveis convidados para a empreitada era liderado por Lúcio Costa e tinha Carlos Leão, Affonso Reidy e Niemeyer. O edifício foi projetado sob elementos da nova arquitetura preconizada por Le Corbusier, com jardins e pilotis liberando o solo para que o térreo fosse uma praça de livre circulação. O interior é um museu, com azulejos de Cândido Portinari, pinturas de Alberto Guignard e José Pancetti e, no exterior, esculturas de Bruno Giorgio e jardins de Burle Marx.

Na ocasião, Oscar era recém-formado, e ele me contava que, sem saber o porquê, alterou as medidas dos pilotis, propostas por Le Corbusier. Achou que a primeira versão era melhor. Ele fez um croquis utilizando esse projeto, mas “atravessou o terreno com uma rua”. Originalmente com 4 m de altura, ele mudou para 10 m de altura. Quando o Lúcio Costa chegou à sala de desenho, o Carlos Leão disse para ele: “O Oscar fez um projeto aí, e ficou muito bom”. Lúcio pediu para ver o desenho, mas Niemeyer o havia amassado e jogado pela janela. Lúcio pediu que ele fosse buscá-lo. Essa foi a primeira coisa que o impressionou na personalidade de Lúcio Costa, (“a sua grande generosidade”), pois, após ver o projeto, ele disse: “Vamos fazer esse”.

Porém, ao longo de diferentes governos, essa joia arquitetônica foi se deteriorando, com os elevadores interditados, vidros quebrados e obras de arte necessitando de restauração. Em 2021, durante o governo Bolsonaro, foram realizados protestos contra a inclusão do Palácio Capanema na lista de imóveis a serem vendidos à iniciativa privada, e, com a repercussão negativa, o Poder Executivo federal recuou. Em 2016, o térreo do Palácio Capanema foi ocupado por manifestantes contrários ao fim do Ministério da Cultura pelo governo de Michel Temer, movimento que ficou conhecido como “Ocupa Minc”.

Enfim, o governo federal investiu R$ 84,3 milhões para concluir a reforma, incluindo a renovação de toda a instalação elétrica, hidráulica e de combate a incêndio.

Agora o prédio vai abrigar instituições como Funarte e setores da Biblioteca Nacional e da Fundação Casa de Rui Barbosa, com a promessa de ser aberto à visitação pública. Esse importante restauro da estrutura e a preservação do patrimônio histórico me emocionam duplamente, como brasileiro e como este neto de Oscar Niemeyer com o peito carregado de orgulho e saudade.