Belo Horizonte ganha hoje, no Dia Mundial do Meio Ambiente, o anúncio do seu Plano de Arborização, um instrumento que vai contar com a participação da sociedade para melhorar a política de gestão de plantio, podas e supressões de árvores em parques, praças, áreas verdes urbanas, ruas e avenidas no médio e longo prazo.
O anúncio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) vai ser feito juntamente com um balanço de ações que o município vem adotando para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, como a instalação de refúgios climáticos e obras contra inundações, e também para atingir a meta de carbono zero.
O Plano de Arborização é uma das 33 ações previstas no Plano Local de Ações Climáticas (Plac), lançado, em novembro de 2022, com o objetivo de mapear políticas e projetos voltados à ação climática. Propõe também estratégias de adaptação do território aos efeitos adversos do aumento global da temperatura. Segundo a SMMA, os planos foram elaborados com a participação da comunidade, por meio do Comitê Municipal de Mudanças Climáticas e Ecoeficiência.
Segundo o secretário municipal interino de Meio Ambiente e presidente da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica, Gelson Antônio Leite, o Plano de Arborização usará informações disponíveis no Inventário da Arborização de Belo Horizonte, um projeto iniciado em 2011, cuja coleta de dados ocorreu entre 2012 e 2016 e segundo o qual, de lá para cá, as atualizações feitas anualmente indicaram a presença de mais de 500 mil árvores no município.
Do total, cerca de 129 mil árvores foram revisadas até o início do mês de maio, processo por meio do qual os dados sobre a condição fitossanitária das espécimes são atualizados. A manutenção custa ao município R$ 800 mil por ano.
“Nossa intenção é que o Plano de Arborização seja construído de forma participativa, com a presença da sociedade civil, como organizações não governamentais e especialistas das universidades. Temos muitos desafios em Belo Horizonte com a manutenção das árvores, mas já temos um programa de manejo e agora vamos melhorá-lo”, diz Gelson.
Entre 2019 e 2023, foram plantadas 73.902 mudas em Belo Horizonte, mas a média de perdas gira em torno de 15% a 20%, segundo a SMMA. As principais razões para o insucesso do plantio são furtos e depredação de mudas e incêndios criminosos.
Para 2024, a estimativa da PBH é plantar 30 mil árvores. Na visão do médico e ambientalista César Pedrosa, 50, fundador e coordenador do grupo Bora Plantar, que promove mutirões voluntários de plantios de mudas de árvores em áreas degradadas de Belo Horizonte, os anúncios de plantio – como a recente polêmica envolvendo o evento de corrida de carros Stock Car, que cortou 63 espécimes na Pampulha e prometeu o plantio de 600 mudas – nem sempre refletem a realidade na cidade. Segundo ele, são necessários de dez a 20 anos para uma árvore alcançar seu tamanho natural.
Secretário de Meio Ambiente, Gelson Leite, afirma que o plano de plantio de árvores contará com a participação da sociedade - Foto: Divulgação/ Paulo Leonardo/ PBH
“Não é só colocar uma muda na terra – o pós-plantio é que faz toda a diferença. De forma geral, o plantio é deficitário em toda a cidade. Isso, porque, nos processos em que os plantios são via compensação ambiental, as empresas terceirizadas fazem a manutenção apenas por seis meses depois de plantar a muda, um período irrisório. Temos plantios pelos quais lutamos há três anos para a muda vingar”, argumenta o ambientalista.
É comum andar pela cidade e ver tocos de árvores espalhados na rua. O que acontece é que, quando uma árvore é retirada, nem sempre o toco é removido. “Depois do corte, tem que retirar o toco, mas, por questão de custo, os tocos têm ficado para trás. Isso é feito assim há anos e deixa uma impressão ruim, de que a PBH cortou e não replantou”, observa o ambientalista César Pedrosa, do projeto Bora Plantar.
Por isso, a iniciativa criada por ele, a Bora Plantar, quer apresentar uma proposta à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) de reposição imediata da muda, no estilo “cortou, plantou”. “A prefeitura não explica o motivo da retirada da árvore, o cidadão fica indignado. Acredito que o poder público possa autorizar o plantio na beirada da rua, onde há calçada estreita, seguindo o artigo 21 do Código de Posturas de BH, respeitando a estrutura local”.
Segundo o secretário municipal interino de Meio Ambiente, Gelson Leite, a SMMA está atenta ao processo de destoca. “Nesses tocos pode estar uma raiz imensa, e sua retirada pode demandar uma intervenção grande e demorada. Fora que esse processo é muito caro. Mas estamos trabalhando para melhorar isso e incrementar a avaliação das árvores com aparatos tecnológicos, como drones.”