CONUPES 2025

Espiritualidade em nossas vidas

No encontro serão abordados os aspectos clínico, pedagógico, cultural, histórico e filosófico do tema

Por Ana Elizabeth Diniz Especial para O TEMPO
Publicado em 18 de março de 2025 | 03:00

Quais são os elos entre espiritualidade e desenvolvimento cognitivo, aprendizagem formal, saúde física e mental, bem-estar e educação no núcleo familiar?  
As respostas serão apresentadas durante o 6° Congresso Internacional de Ciência, Saúde e Espiritualidade, o Conupes 2025, que acontecerá em Juiz de Fora (ver agenda) e que este ano aborda o tema “Espiritualidade no ciclo da vida”, sob os aspectos clínico, pedagógico, cultural, histórico e filosófico. 

Provavelmente a maior referência atual em pesquisas sobre espiritualidade na infância e adolescência, a psicóloga Lisa Miller, autora do best-seller – do “The New York Times” – “The Spiritual Child”, Ph.D., professora do Programa de Psicologia Clínica do Teachers College, da Universiade de Columbia, vai falar sobre as crianças que têm um relacionamento positivo e ativo com a espiritualidade. 

“No livro ‘A Criança Espiritual’ compartilho nossa jornada em um laboratório há 25 anos na Universidade de Columbia para entender a espiritualidade natural em crianças e adolescentes. Em geral, as crianças cujos pais e a comunidade nutrem a espiritualidade têm relacionamentos mais próximos e duradouros, maior significado e propósito, melhor saúde mental e maior potencial para alcançar seus objetivos de vida. Acima de tudo, elas veem a vida como um evento assustador e sustentam um relacionamento próximo de Deus”, comenta a pesquisadora.  

Lisa vê a espiritualidade como “a capacidade de perceber e vivenciar a presença de Deus, um relacionamento transcendente, e essa presença sagrada se manifesta em toda a vida, em outros seres humanos e seres vivos. A ciência mostra que todos nós somos seres inerentemente espirituais, mas esse dom se mostra como 1/3 inato e 2/3 cultivado ambientalmente pela família, comunidade religiosa, escola e pelos professores”. 

Para ela, “à medida que nos engajamos, desenvolvemos nossa consciência espiritual, que chamo de ‘consciência desperta’. Existem até mesmo correlatos neurais no cérebro de cada pessoa, desenvolvidos para receber o sagrado transcendente. Mas precisamos cultivar e desenvolver nosso cérebro espiritual. Como? Com orações, meditação, contemplação, envolvimento com a natureza, outros seres vivos e cuidado com os animais, as árvores, as plantas, o serviço e a ação correta”. 

Lisa ensina que a espiritualidade é o maior fator de proteção contra a depressão, o vício e até mesmo o suicídio entre crianças e adolescentes. Uma forte espiritualidade pessoal está associada a uma redução de 80% na probabilidade de dependência, 75% na probabilidade de depressão e, em meio à epidemia global de suicídio, ela traz o benefício protetor de 82% quando compartilhada com outras pessoas”.   

E finaliza: “A espiritualidade como sede da consciência muda tudo na vida. Somos mais saudáveis e temos grande força de caráter: otimismo, coragem, perdão – qualidades que têm virtude e nos dão poder para servir, atingir nossas metas e ajudar outras pessoas”.  

AGENDA: O 6º Congresso Internacional de Ciência, Saúde e Espiritualidade acontecerá nos dias 4 e 5 de abril, no Trade Hotel Juiz de Fora. Informações e inscrições: https://www.conupes.com/ 

Conceito de Deus é multifacetado

“A natureza íntima de Deus” será o tema da palestra de Humberto Schubert Coelho, professor de filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora e do Programa de Pós-Graduação da Universidade de Brasília. “Há os que defendem que Deus só se revela em determinada religião, de determinada forma; outros defendem que Deus é incognoscível, só podendo ser sentido, nunca pensado; outros defendem que Deus coincide com a razão, pois é o que há de mais básico e universal; outros, por fim, defendem que não existe Deus nenhum e que a natureza seria incompatível com esse conceito”. 

O professor ensina que, em primeiro lugar, “precisamos distinguir esses conceitos e mostrar que cada grupo está falando de uma coisa totalmente diferente, de modo que não há necessariamente contradição alguma em suas posições”. 

Em segundo lugar, “temos que fazer escolhas filosóficas do tipo: queremos ou não desenvolver um conceito de Deus? Como esse conceito pode ser mais consistente ou menos contraditório? Qual é o melhor conceito possível, no sentido de envolver menos problemas e estar sujeito a menor número de críticas?” (AED) 

Na velhice há a percepção de abertura de um portal

“Espiritualidade e geriatria” será o tema da palestra de Fábio Nasri, endocrinologista e geriatra do Hospital Albert Einstein e coordenador do Grupo Médico Assistencial de Religiosidade e Espiritualidade do mesmo hospital. “Na velhice as pessoas começam a perceber que estão se aproximando de um portal. Boa parte delas, seja qual for sua formação religiosa, tem certa crença de que a vida não termina aqui. Acredita na continuidade de vida, mas essa crença não as leva a incorporar atitudes condizentes em seu cotidiano”. 

O que ocorre na prática “é que boa parte de nós acredita que nossa alma vai para algum lugar após nossa morte, mas não questiona onde é esse lugar”. “Vivemos mais preocupados com nossa sobrevivência do que com questionamentos transcendentais”, afirma Nasri. 

Quando envelhecemos, analisa ele, “e o fim se aproxima, as pessoas começam a ficar incomodadas e muitas não têm a menor ideia para onde vão. É nessa hora que muitas começam a se questionar e se movem em direção a crenças que carregam desde a infância ou àquelas pessoas que têm mais chances de responder a suas questões existenciais”. 

O médico observa que muitos indivíduos chegam à velhice muito angustiados e depressivos porque não encontram respostas para essas perguntas, revisam suas vidas e reveem suas atitudes. “São pegas na culpa, na tristeza, na ausência dos netos e acabam muitas vezes mergulhando em quadros depressivos”. 

Nasi considera que “os idosos que têm incorporados os valores de religiosidade e da espiritualidade entendem que a morte é uma agem, se preparam para ela e tendem a sofrer menos na fase final. Poucos de nós, ao longo da vida, se preparam para essa agem e farão mudanças importantes no seu modo de pensar e agir. A maioria vive no modo ‘levanta, come e dorme’”, finaliza. (AED)