PARCERIA ACADÊMICA

Mediunidade pode estar associada à genética

Estudo desvendou genes específicos encontrados nos médiuns

Por Ana Elizabeth Diniz Especial para O TEMPO
Publicado em 25 de fevereiro de 2025 | 03:00

As experiências espirituais são muito comuns em várias culturas desde os primórdios, mas até hoje elas carecem de uma explicação científica. Essa realidade pode mudar. Pela primeira vez, uma investigação científica concluiu que a mediunidade por ser determinada, entre outras coisas, pela carga genética. 

O estudo publicado pelo “Brazilian Journal of Psychiatry”, uma revista científica, foi realizado entre 2020 e 2021, por meio de parceria entre o Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) e o Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e investigou o exoma (sequenciamento de todos os genes que expressam proteínas) de 54 médiuns experientes e os comparou com o de seus parentes de primeiro grau que não possuem a habilidade mediúnica. 

A pesquisa identificou possíveis bases genéticas associadas à mediunidade. “Foram pesquisados 54 médiuns, sendo 33 mulheres. Se confirmada em estudos futuros, a identificação de mecanismos genéticos correlacionados à mediunidade pode trazer implicações significativas, como a detecção precoce dessa habilidade e o seu desenvolvimento adequado, e pode ampliar nosso conhecimento da relação mente-cérebro, assim como dos mecanismos de nossa percepção do mundo ao nosso redor”, comenta Wagner Farid Gattaz, professor titular de psiquiatria da Universidade de São Paulo, presidente da Gattaz Health e um dos autores da pesquisa. 

Os resultados identificaram 33 genes que apresentam variações em pelo menos um terço dos médiuns estudados e não foram detectados entre seus familiares não médiuns. “Isso significa que há genes candidatos para novas pesquisas para esclarecer o seu papel nos fenômenos mediúnicos. A maioria deles estava ligada a processos imunes e inflamatórios. Um deles está mais expresso na glândula pineal, que há tempos é tida por filósofos e pesquisadores como a interface entre mente e cérebro”, observa Gattaz. 

Ele enfatiza que “esses genes surgem como possíveis candidatos para investigações mais aprofundadas sobre os fundamentos biológicos que permitem experiências espirituais, como a mediunidade. Essa abordagem abre novos caminhos para o entendimento científico de fenômenos tidos por muitos como exclusivamente espirituais”. 

Pesquisa recente realizada pelo grupo mostrou que 94% dos brasileiros relataram ao menos uma experiência espiritual profunda em suas vidas, como sentir conexão com o divino ou experiências fora do corpo. 

Gattaz considera que “a evidência científica atual sugere que a mediunidade não pode ser explicada por motivos triviais, como fraude, obtenção indireta de informações etc. Estudos mostram que o grau de acerto de informações obtidas por médiuns é maior do que se poderia esperar pelo simples acaso”. 

E mais: “Pesquisas populacionais mostraram que 11% da população geral já relatou ter tido ao menos uma experiência de mediunidade, como, por exemplo, ter-se comunicado ou ouvido mensagens de pessoas já falecidas. Assim, se o dom da mediunidade existe, testamos a hipótese de que esse dom está ancorado ou determinado pelo nosso DNA, pelos nossos genes”.  

E finaliza: “O próximo o da pesquisa será a identificação do papel de cada um dos genes mais expressos em médiuns, entendendo melhor os mecanismos biológicos envolvidos”. 

Link para o artigo: https://www.bjp.org.br/details/3591/en-US 

Percepção distinta da realidade  

Afinal, os médiuns possuem genes ligados à mediunidade? “Como o professor Wagner Gattaz costuma dizer, talvez os médiuns tenham a capacidade de perceber aspectos da realidade que outras pessoas não percebem. Nosso cérebro é um filtro sobre a realidade”, comenta Alexander Moreira-Almeida, professor titular de psiquiatria, fundador e diretor do Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora e um dos autores da pesquisa. 

Segundo ele, “não conseguimos ouvir todos os tipos de som, não ouvimos o ultrassom nem o infrassom. Com a luz é a mesma coisa, enxergamos o espectro de cor visível, mas existem vibrações da luz que não conseguimos perceber. Será, então, que existem outros aspectos da realidade que são percebidos apenas pelos médiuns?”. (AED) 

Filtro mais poroso 

As proteínas que compõem nosso organismo são determinadas pelos genes. “Pode ser que os genes dos médiuns tragam o código de algum tipo de proteína que permitam que o cérebro seja mais permeável, mais sensível para perceber outros aspectos da realidade”, comenta Alexander Moreira-Almeida. 

E emenda: “É claro que o achado da relação desses genes com a mediunidade tem que ser replicado com outros grupos de pessoas que têm experiências espirituais. Outros pesquisadores devem repetir esse trabalho. Se esse resultado for confirmado, vai demonstrar que os genes identificados na pesquisa podem capacitar os médiuns a terem um filtro mais poroso que permitiria a captação de aspectos da realidade que o não médium não percebe”. (AED) 

Lançamentos 

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