CULTURA AFRO

Trilogia literária “O Legado de Orïsha” expõe luta por mais justiça

A romancista Tomi Adeyemi, filha de nigerianos, desvela o poder da magia

Por Ana Elizabeth Diniz Especial para O TEMPO
Publicado em 18 de fevereiro de 2025 | 03:00

A jovem norte-americana Tomi Adeyemi, 31, filha de nigerianos, se transformou em um fenômeno mundial com a trilogia “O Legado de Orïsha”: “Filhos de Sangue e Osso”, “Filhos de Virtude e Vingança” e “Filhos de Aflição e Anarquia” (editora Rocco), uma aventura épica que resgata o poder da magia, da união, da lealdade e da luta pela liberdade e igualdade em um mundo marcado pela opressão e discriminação. O que move os personagens é a crença no mundo espiritual. 

A romancista Tomi é formada pela Universidade de Harvard, e seu livro de estreia, “Filhos de Sangue e Osso”, ocupou a primeira posição da lista de best-sellers de capa dura para jovens adultos do “New York Times” e recebeu o prêmio Andre Norton de Ficção Científica e de Fantasia para Jovens Adultos. Em 2020 ficou entre as cem pessoas mais influentes do mundo, na tradicional lista da “Time”, revista norte-americana. 

A escritora está agora cuidando da adaptação do livro “Filhos de Sangue e Ossos” para o cinema. “Devemos começar a filmar em breve no formato Imax, pela Paramount, e a estreia está prevista para 15 de janeiro de 2027”, anuncia. 

Tomi revela que o insight para a trilogia aconteceu em um encontro fatídico em Salvador, na Bahia, no verão de 2015. “Eu tinha ganhado uma bolsa de estudos (na capital baiana) após me formar na Universidade de Harvard. Havia programado visitar um museu, mas ele estava fechado para reforma, e, como estava chovendo e eu não queria molhar o cabelo, acabei entrando em uma loja de presentes para evitar o aguaceiro”. 

E prossegue: “Fiquei impressionada com uma série de pratos de cerâmica com pinturas em aquarela de Ọxum, Oxóssi, Xangô e Ôyá (Iansã). Desse momento mágico, vivido há dez anos, surgiram a trilogia e o maior contrato de livros para jovens adultos da história, três best-sellers número 1 do ‘New York Times’”. 

A escritora mostra de onde veio a inspiração para criar Orïsha, a terra da magia, habitada pelos maji e que desapareceu por ordens de um rei cruel e sanguinário. “Foi uma jornada selvagem. Zélie e Amari, as protagonistas, são como minha luz e minha sombra. Ambas as personagens aram diferentes aspectos do meu coração, que ei a viver em minha jornada pessoal ao longo da trilogia. Fiquei profundamente tocada e surpresa com o desfecho de suas jornadas”, diz. 

Ela observa que também “foi especial trazer à tona o ponto de vista de Tzain nesse último capítulo da trilogia. Durante anos, Tzain foi um dos personagens favoritos dos fãs. Certa vez fui visitar uma escola, e os alunos chegaram a escrever capítulos sob seus pontos de vista porque eles o amavam muito. Fiquei feliz em oferecer isso aos meus leitores e ver quais personagens ficaram mais próximos de seus corações ao longo dos anos”. 

Tomi destaca os principais fatos sobre a herança ancestral de seu povo que estão no livro. “Minha ancestralidade está presente em toda a trilogia. Os locais de nascimento dos personagens no romance têm o mesmo nome dos locais de nascimento de meus pais e avós. Os personagens, as florestas e as cadeias de montanhas têm os nomes de minhas tias, tios e primos. O nome da mãe de Zélie, Akpa, é o nome de minha avó materna. Vejo este livro como uma celebração da minha linhagem nigeriana e uma alegoria da experiência negra moderna”. 

Pergunto como ela vê a magia e a espiritualidade em sua cultura. “A espiritualidade baseada nos orixás é uma conexão direta com nossa herança e nossos amados ancestrais. Uma das maiores magias de estar vivo é o vínculo que temos com os milhares de gerações que vieram antes de nós – as vidas que foram vividas, as canções que foram cantadas, as divindades que foram louvadas”. 

“Minhas histórias vêm da minha alma” 

A escritora Tomi Adeyemi considera os orixás “seres poderosos, sagrados e profundamente mágicos”. “Infelizmente, eles foram amplamente demonizados na esteira da colonização em nossas próprias culturas. Espero que, coletivamente, possamos aprender a honrar nossas origens tanto quanto honramos a espiritualidade de outras origens e culturas”, comenta. 

Representação, luta pela liberdade, justiça, fé e espiritualidade estão na história narrada por Tomi. “As histórias que compartilho com o mundo vêm da minha alma, do meu coração e de tudo que está girando em minha mente. Elas encapsulam minha jornada e amadurecimento e estão entrelaçadas com meus encontros místicos com o divino. Eu diria que os principais ingredientes de uma história de Tomi Adeyemi são eu mesma, minha alma e o estado atual da sociedade”. 

Tomi envia uma mensagem para os leitores brasileiros. “Vocês são os leitores mais queridos do meu coração. Obrigado por me inspirarem, me abraçarem e me apoiarem durante todos esses anos. Mal posso esperar para continuar compartilhando mais histórias e novas memórias com vocês”. (AED) 

Trilogia  

 “Filhos de Aflição e Anarquia” 

Tomi Adeyemi 

Editora Rocco 

368 páginas 

R$ 89,90 

  

“Filhos de Sangue e Osso” 

Tomi Adeyemi 

Editora Rocco 

560 páginas 

R$ 69,90 

“Filhos de Virtude e Vingança” 

Tomi Adeyemi 

Editora Rocco 

432 páginas 

R$ 74,90