MÚSICA

O poder ancestral dos cantos nativos, rezos e mantras

Daniel Namkhay Pasun fará encontro em Moeda

Por Ana Elizabeth Diniz Especial para O TEMPO
Publicado em 11 de fevereiro de 2025 | 03:00

Numa época em que as pessoas não param e não desaceleram a mente para ouvir, o silêncio, a meditação, o canto e as ervas podem ser um bálsamo para a sanidade mental. Esta é a proposta do curso imersivo de cantos nativos, rezos e mantras com Daniel Namkhay e Magdala Ferreira Guedes, a Magui, que acontecerá em Moeda (ver agenda). 

“Como praticante da meditação, vivências com a espiritualidade e estudioso das tradições milenares, trabalho com a música como parte de nossa essência. Somos ‘música corporificada’, ou seja, nosso corpo reverbera música, uma vez que a respiração e o coração têm seu próprio som. O som do sangue circulando em nosso corpo é grave, e nosso sistema nervoso produz um som muito agudo”, diz Namkhay, que é músico, multi-instrumentista, compositor e autor de 20 álbuns de músicas nativas e étnicas. 

Nascido na Argentina, neto de uma indígena do Norte daquele país e de imigrantes italianos, o músico mora desde 1991 no Sul do Brasil, pesquisando as culturas, os mitos, a espiritualidade e as músicas das tradições nativas da terra, em especial dos povos nativos das Américas, Japão, China, Indonésia, Mongólia e Tibete, de onde vem a maior parte dos seus mestres e professores.         

“Fui aluno e sou filho espiritual do ancião nativo Nelson Turtke (da tribo Cheyenne). Fui profundamente tocado pelos ensinamentos de muitos povos nativos, em especial dos Hopis, que falam que temos que nos unir às quatro raças: amarela (corresponde à direção leste na cosmologia nativa americana), vermelha (indígenas), preta (África), conectadas à direção oeste, e a tribo branca (direção norte), para semear uma cultura de paz, irmandade e mais amor entre os seres e todas as formas de vida”, comenta o músico. 

A música de Namkhay é intuitiva, visceral, propiciando paz, bem-estar e desaceleração interior, ao mesmo tempo em que traz a energia da natureza e reverência diante do poderoso milagre da vida. 

Sobre a imersão musical, ele diz que não há teorias, teoremas. “Não uso metodologias tradicionais, mas meditação, respiração e sons de instrumentos indianos incríveis e meditativos para unificar a mente. amos muito tempo cantando e entrando em conexão com o poder do som”, enfatiza o músico. 

E prossegue: “Coloco as pessoas para cantar comigo, um tipo de improvisação coletiva. O canto do coração é uma vivência em que ofereço uma síntese de tudo que fiz em minha vida, trago as pessoas para a realidade, para o momento presente, sem fantasias. Não romanceio essa experiência. O grupo se entrega para explorar e ouvir sons diferentes, como uma chuva caindo e vários instrumentos. O som te leva para dentro. A pessoa vive a sensação de estar entrando em um templo sagrado. Os pensamentos ficam esperando do lado de fora”. 

Ele ressalta que considera limitada a ideia de que “cada um tem a sua canção, porque somos música pura se criando o tempo todo. As músicas que toco são da minha alma, são rítmicas, tem tambores africanos, trompete, flauta, violão e tambor. Exploro ritmos mais enérgicos e outros de outro mundo. Uma fusão de sons. No curso pretendo tirar o foco do intelecto, de forma que as pessoas se conectem com o poder da música orgânica, dos elementos água, ar, madeira, fogo e terra. É a forma que encontrei de apresentar o som sob a ótica das tradições ancestrais nativas indígenas”. 

O músico observa que, quando o indivíduo está afinado com o universo, “seus ouvidos estão conectados com seu coração e sua garganta e, ele estando ao lado de outras pessoas, há uma resposta coletiva harmônica, o som se torna uma catedral. Todas as pessoas são capazes de cantar”. 

Namkhay compartilha um mantra muito poderoso de uma deidade pacífica do budismo do Tibete chamada Tara Verde, um buda feminino que tem o poder de trazer conforto e proteção espiritual e nos oferece bênçãos: “om tare tuttare ture soha”. 

Ele tem dois livros publicados: “Assoprando Preces”, um mergulho no poder curativo do som e com partes de autobiografia, e “Mente Serena, Coração Tranquilo”, com textos sobre a música como uma porta para a meditação. Em março vai lançar uma escola de cantos nativos e mantras, a Coração Aberto. 

AGENDA: O curso imersivo com Daniel Namkhay e Magui acontecerá nos dias 14, 15 e 16 de fevereiro, no sítio Sertãozinho, em Moeda. Informações e inscrições: (31) 99616-2815 (WhatsApp). 

Seres humanos inteiros

O curso imersivo de cantos nativos, rezos e mantras vai contar com a participação de Magdala Ferreira Guedes, a Magui, guardiã de uma montanha e erveira. “Daniel traz o canto ancestral com conexão com os povos originais e com seus ritos. Meu trabalho também está focado nesse religare por meio da música, da fogueira, das danças e das ervas que são queimadas. Estaremos juntos, eu com meu tambor, meus cantos e minha chanupa (cachimbo)”, diz Magui. 

Atuando publicamente com rituais desde 1994, Magui conta que, desde sempre, teve “um pé nesse lugar do religare, fora da religião, mas com a religiosidade”. “Enquanto sociedade, perdemos os ritos, os rituais de agem, como nascimento, batizado, adolescência, idade adulta, casamento, morte. Tudo foi perdendo a essência daquilo que era e nos tornamos pobres de ritos”, assinala. 

Para ela, a música que toca o coração “nos relembra um tempo em que você e natureza eram um”. “Perdemos isso. Nesse encontro, as pessoas vão fazer essa reconexão da sua essência com a mãe terra e com o pai céu. Nossa proposta é nos tornar seres humanos mais inteiros e conectados com a terra, a água, o fogo e o ar. Achamos que isso está fora de nós, mas está dentro de nós, assim como a galáxia. Olha a riqueza que é o ser humano”. (AED)