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'Saneamento Básico' traz Fernanda Torres e Wagner Moura no elenco
Filme de Jorge Furtado está sendo relançado nas salas de exibição, junto com o curta 'Ilha das Flores'
Jorge Furtado é um predestinado. Em dezembro, a distribuidora Vitrine resolveu relançar “Saneamento Básico, o Filme”, comédia de 2007 assinada pelo diretor gaúcho, sem saber que ganharia um plus com as premiações da dupla de protagonistas nos principais festivais de cinema do mundo. Um mês após a definição, Fernanda Torres se consagrou no Globo de Ouro como Melhor Atriz em Drama, por “Ainda Estou Aqui”. E, o mais incrível, “Saneamento Básico” chega nesta quinta-feira (29) aos cinemas, poucos dias depois de Wagner Moura levar a Palma de Ouro por “O Agente Secreto”.
“Eles (a distribuidora) que escolheram. Não fui eu que decidi”, explica Furtado. “Foi antes de a Fernanda ter sido indicada (ao Oscar), se não me engano. Agora, claro, o filme ficou mais quente. Uma prova disso é que, se tu entrar no Letterboxd (rede social de cinéfilos), vai ver que, nos comentários de ‘Saneamento’, de repente começou a aparecer um monte de comentários em inglês, de americano vendo o filme para saber quem é essa Fernanda Torres. O filme tem um elenco absurdo, né? Não sei de ninguém que tenha conseguido reunir um time daquele”, afirma.
Além de Fernanda Torres e Wagner Moura, o filme conta ainda com Camila Pitanga, Lázaro Ramos e Paulo José, “comediantes que se divertiam em cena e estavam muito entrosados” para mostrar a história de um grupo que, residente em uma cidade do interior, resolve aproveitar os recursos de um edital de cinema para resolver um problema de saneamento básico. E, como já dá para imaginar, será logo mordido pelo “bichinho” de fazer filme. “É um tema bastante atual, né?”, aponta Furtado, ao comentar o fato de, no Brasil, sempre colocarem a cultura como algo dispensável.
“O assunto continua sendo se o Brasil, um país que não tem saneamento básico em grande parte das casas, pode se dar o luxo de gastar dinheiro produzindo algo tão sofisticado quanto o cinema. É essa pergunta que a gente se faz a todo momento, e o filme a faz e responde que sim. Claro que sim! Tem que se fazer cinema, tem que se fazer ópera, tem que ter livraria, tem que ter arte e tem que ter museu, assim como tem que ter indústria, comércio, saúde e educação. Tem que ter tudo ao mesmo tempo. E o cinema é parte fundamental de qualquer civilização, de qualquer país”, assevera.
Esse dilema acompanha o realizador desde quando fundou a Casa de Cinema de Porto Alegre, há 40 anos, uma das primeiras fora do eixo Rio-São Paulo a ganhar projeção, especialmente após o lançamento do curta “Ilha das Flores”, em 1989, numa época em que a cinematografia brasileira vivia um de seus piores momentos, com a extinção da estatal Embrafilme. O curta ganhou o Festival de Berlim, na Alemanha, e abriu as portas para produções como “O Homem que Copiava” e “Real Beleza”. Ele também foi escolhido para voltar ao cartaz juntamente com “Saneamento Básico”.
Entre os 100 melhores curtas-metragens do mundo
Desde a última década do século ado, “Ilha das Flores” ganhou status de unanimidade, frequentando as listas dos melhores curtas-metragens já realizados – e não só no Brasil. Jorge Furtado lembra da vez que, numa edição do Festival Internacional de Clermont-Ferrand, na França, o filme, que pode ser definido como um documentário satírico, entrou no top 100 dos melhores produzidos no mundo no formato.
]"No ano do centenário do cinema (em 1995), fizeram uma mostra de cem curtas que começava com ‘Saída da Fábrica Lumière’ (um dos primeiros filmes a serem exibidos em público) e terminava no ‘Ilha das Flores’. Eu fiquei, uau, chocado. Tinha ‘Cão Andaluz’, Charles Chaplin... E o ‘Ilha’ era o último em cem anos. Fico feliz que ele esteja lá”, comenta Furtado, impressionado com o fato de o filme chegar a tantos públicos.
“Vou muito em escola que trabalha o filme. Ele é usado em sala de aula para falar de economia, para falar de ecologia... Eu acho que ele possibilita bastante debate”, assinala. Com narração acelerada e montagem fragmentada, o curta denuncia com humor ácido as desigualdades sociais e os absurdos do sistema de consumo, ao acompanhar a trajetória de um tomate até chegar a um lixão frequentado por pessoas famintas.
“O filme fala de uma desigualdade terrível. Nós somos o país mais desigual do planeta. A gente continua vendo, na esquina de casa, todo dia, gente se alimentando a partir do lixo, catando coisas para comer”, diz. Sobre suas escolhas estéticas, ressalta que “foi um filme que, de alguma maneira, antecipou um pouco o que a internet tornaria usual, que é aquela palavrinha azul que tu clica e vai para outro texto”. “Parece um filme dessa nova era de imagens curtas".
Furtado salienta que "Ilha das Flores" segue uma tradição que vem de "A Velha a Fiar", filme de Humberto Mauro lançado em 1964, cujas imagem ilustram uma canção popular interiorana. "É essa questão de uma coisa levar a outra. O filme de Mauro não foi uma referência para mim, mas me dei conta de uma relação tão direta quando alguém fez a exibição dos dois curtas juntos numa mostra, no Rio de Janeiro, e eu vi que um era neto do ouftro".
Outro paralelo pode ser feito com "Todas as Mulheres do Mundo" (1966), de Domingos Oliveira. "Eu só o vi nos anos 90, quando tive um o ao DVD. E eu disse para o Domingos: "Tu copiou o 'Ilha' vinte anos antes. No início de 'Todas as Mulheres' tem umas colagens ali", pontua. Após lançar "Ilha", o diretor viu uma enxurrada de filmes se inspirar no seut trabalho, mas ele não se incomoda. Foi a Patty Smith quem disse que maior ogulho de um artista é inspirar outros a fazer as coisas", congratula-se.