Thiago Arancam chega a Belo Horizonte com o espetáculo “Uma Viagem pela Itália”

Quando Giorgia Meloni foi eleita primeira-ministra da Itália, em 2022, uma das promessas de sua política conservadora e nacionalista era restringir a imigração legal no país, dificultando a obtenção de cidadania, objetivo cumprido nesta semana com a aprovação de uma lei pela Câmara italiana que estabelece novos critérios para a naturalização de estrangeiros.

A medida tem se alastrado pela Europa com a ascensão de partidos de extrema direita. Formado pelo Teatro alla Scala de Milão, “um dos templos mais sagrados da ópera mundial”, o paulistano Thiago Arancam, que se encantou com a arte antes de qualquer distinção geográfica, acredita “no poder da música para unir as pessoas e criar pontes, independentemente de barreiras políticas”.

O espetáculo que ele apresenta nesta sexta (23) em BH, “Uma Viagem pela Itália”, ao lado do pianista Yacoce Simões, propõe justamente isso. “A arte transcende fronteiras e fala uma linguagem universal, capaz de promover entendimento e empatia”, confirma, sem negar que a Itália “vive um momento de transformações políticas e sociais”. 

“A questão da imigração é particularmente sensível, dado o grande número de pessoas que chegam ao país em busca de uma vida melhor”. Afinal, foram os imigrantes italianos que, há mais de um século, fugindo da crise econômica e social em seu país, levaram para bairros populares de São Paulo tanto canções folclóricas quanto o sotaque inconfundível que comparece nos clássicos de Adoniran Barbosa (1910-1982).

Narrativa cinematográfica 

“A canção italiana tem uma capacidade única de transmitir emoções profundas com simplicidade e beleza. Melodias envolventes, letras carregadas de sentimento e uma narrativa quase cinematográfica fazem com que o público se identifique e se emocione”, afirma Arancam, que arrisca um motivo para o sucesso do cancioneiro provindo da Bota nesse país tropical. 

“O brasileiro é um povo que sente intensamente, e essa entrega emocional da música italiana ressoa de forma muito natural por aqui”, sustenta. Ao longo de sua trajetória, Arancam atuou em quase duas dezenas de óperas, gênero surgido na Itália no século XVII. No musical “O Fantasma da Ópera”, ele se destacou como protagonista do romance gótico de Gaston Leroux (1868-1927).

Toda essa história começou quando, em 2004, ele venceu o Concurso Internacional de Canto Erudito Bidu Sayão, aporte para a academia de canto lírico italiana. “A Itália foi um marco na minha carreira. Foi lá que aperfeiçoei minha técnica vocal e participei de importantes produções de ópera. Além de me proporcionar oportunidades únicas, a Itália me conectou às minhas raízes e solidificou minha paixão pela música clássica e pela interpretação lírica”, ressalta.

No atual espetáculo, Arancam aborda “desde clássicos da ópera até canções populares que marcaram gerações”. “Os critérios para a escolha foram simples, cada música precisava contar uma história e trazer consigo uma carga emocional autêntica, capaz de criar um vínculo imediato com o público”, diz.

Temas universais 

No repertório, as irresistíveis “‘O Sole Mio”, “Dio Come Ti Amo”, “Volare” e “Bella Ciao”, dentre outras, exploram essa conexão “por meio de melodias que falam de amor, saudade e celebração da vida, temas universais que aproximam os dois povos”. “A imigração italiana deixou um legado cultural profundo no Brasil, que se reflete em costumes, gastronomia e, claro, na música”, salienta Arancam.

Ele tem se animado com “a fusão de estilos que tem acontecido de forma muito natural” no cenário contemporâneo. “A música lírica tem encontrado espaço no mainstream, e isso é um movimento importante para democratizar o o ao gênero. Vejo isso como um caminho positivo para mostrar ao público que a música clássica pode ser apreciada em diferentes contextos, conectando-se aos gêneros populares sem perder sua essência”.

 

 

 

 

 

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No horizonte, Arancam mira novas turnês, tanto no Brasil quanto no exterior, além de “projetos especiais que unirão música clássica e popular de forma inovadora”, enquanto mantém conversas adiantadas acerca de participações em outras óperas e musicais que ele prefere não revelar no momento. “O foco é continuar expandindo esse diálogo musical e emocional com o público, levando essa viagem musical a cada vez mais pessoas”, arremata esse brasileiro que encontrou na Itália o berço de sua música.

Serviço

O quê. Espetáculo “Uma Viagem pela Itália”, com Thiago Arancam

Quando. Nesta sexta (23), às 21h

Onde. Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537)

Quanto. A partir de R$80 (meia) na bilheteria ou pelo site www.eventim.com.br