REGIME SEMIABERTO

Suspeito de atirar em sargento de BH saía da prisão para trabalhar todos os dias

Associação dos Magistrados explicou decisão judicial por saída temporária

Por Isabela Abalen
Publicado em 07 de janeiro de 2024 | 12:36

O homem de 25 anos, investigado por atirar à queima-roupa na cabeça do sargento da Polícia Militar Roger Dias da Cunha, de 29 anos, durante perseguição policial na região Norte de Belo Horizonte, na sexta-feira (5 de janeiro), estava em regime semiaberto no momento do crime e, desde novembro de 2023, o acusado tinha direito de sair diariamente para o trabalho. As informações foram confirmadas pela Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis), que reforçou que “saída temporária”, como a que o preso estava, é benefício garantido por lei. 

Segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), o acusado é custodiado e entrou no Presídio Antônio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de BH, no dia 24 de agosto de 2023, há pouco mais de quatro meses. Em menos de três meses de pena, o homem ganhou a permissão de sair diariamente para trabalhar – o serviço que ele prestava não foi divulgado. 

Ainda, de acordo com a Amagis, não havia falta grave no atestado carcerário do investigado. Já uma acusação de furto fez com que ele perdesse a liberdade condicional no ano ado, mas “o Ministério Público não deu início à ação penal, resultando no relaxamento da prisão provisória”, informou a Associação. “Todas as decisões mencionadas foram proferidas de modo técnico, conforme farto entendimento do TJMG e do STJ”, continuou. 

A lei autoriza as saídas temporárias até cinco vezes por ano, por até sete dias cada uma. A Amagis garantiu que o calendário do sentenciado foi apresentado pela direção do presídio. 

Família pede por corrente de orações: 'milagre'

A esposa do sargento da Polícia Militar Roger Dias da Cunha, de 29 anos, pede que aqueles que se compadecem com o caso de seu marido se juntem a uma corrente de orações. A mulher, que preferiu não ser identificada, disse à reportagem de O TEMPO que o policial está “vivendo pelo milagre do Senhor”. 

“Ele está vivo, respirando, lutando! Peço a todos que creem no nosso Deus de amor, Deus misericordioso, que façam essa corrente de oração que interceda pela vida dele”, conta ela, que é mãe da bebê recém-nascida, filha do casal. O militar, em estado “irreversível”, segundo afirmou a porta-voz da Polícia Militar (PM), major Layla Brunnela, está seguindo os protocolos médicos para suspeita de morte cerebral

“Roger é uma pessoa maravilhosa, do bem, tem uma família linda que o ama mais que tudo. Não merece, jamais, perder a vida na mão desses que nada tem a perder. Orem por nós, incessantemente!”, lamentou e pediu a esposa. Duas psicólogas da Polícia Militar estão acompanhando a mulher e a filha do sargento Dias. Além disso, parte da equipe policial também pediu ajuda psicológica após o colega ser baleado.  

Suspeitos vão permanecer presos 

A Justiça decidiu por manter presos os dois homens suspeitos de envolvimento na perseguição que terminou com o sargento Roger Dias da Cunha, de 29 anos, foi baleado duas vezes na cabeça. O atirador de 25 anos e um comparsa dele, de 33, tiveram a prisão em flagrante convertida para preventiva em audiência de custódia neste domingo (7 de janeiro). 

A juíza Juliana Miranda Pagano considerou que as circunstâncias do crime são “gravíssimas”, argumentando que, além do sargento baleado, outros policiais teriam sido alvos da dupla, que atirou contra a viatura policial. "Foi necessária uma mobilização policial complexa e longa para captura dos autuados, os quais agiram em evidente violência real e direta contra os policiais militares", diz o documento. 

A magistrada usou do ado criminal de ambos os suspeitos para provar que há risco caso eles não fiquem em detenção, sendo que o atirador ainda está em cumprimento de pena. "Tudo isso corrobora para a necessidade da conversão da prisão em flagrante em preventiva para a garantia da ordem pública", decidiu. 

Suspeitos têm várias agens por crimes

No sistema do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), O TEMPO encontrou algumas condenações do suspeito. No dia 18 de julho de 2023, ele foi preso após furtar, usando uma chave micha, o carro de uma pessoa que trabalhava no bairro Monsenhor Messias, na região Noroeste de BH. Após o dono do veículo flagrar o crime de dentro da empresa, o suspeito foi seguido e acabou detido.

Na decisão que converteu em preventiva a prisão do rapaz, a juíza Juliana Beretta Kirche destacou a reincidência do suspeito, que já tinha sido condenado anteriormente por "roubo simples, roubo majorado, corrupção de menores e identidade falsa".

Também foi possível encontrar outra condenação do suspeito que atirou no policial, desta vez por roubo a mão armada. O crime ocorreu no dia 07 de setembro de 2017, em plena luz do dia, às 13h, na avenida Antônio Carlos, no bairro Cachoeirinha, também na região Noroeste de BH.

Comparsa já foi preso por tentar matar policiais

Ainda conforme o sistema do TJMG, o segundo suspeito preso pela PM após o policial ser baleado, um homem de 33 anos, também possui diversas agens pela polícia. Em uma das últimas, ele foi preso no dia 2 de março de 2023 por tentativa de homicídio, também contra policiais, quando o carro em que estava com outros dois jovens fugiu da PM e houve uma troca de tiros. Na ocasião, com o trio foram apreendidos uma pistola calibre 380 e toucas-ninja.

Na decisão, a justiça também ponderou que o suspeito já tinha três condenações, todas pelos crimes de roubo. No dia da prisão, ele estava em liberdade condicional, mas ainda cumprindo pena por um dos crimes ados. Ele também possui agens por receptação e tráfico de drogas.