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Fila de espera por órgãos ainda é extensa em Minas
Em dezembro do ano ado, 8.026 pessoas aguardavam por um transplante
Cinco anos. Esse é o tempo que o escritor e professor Erick Candeias, de 34 anos, espera por um novo rim. Por causa da morosidade no processo de transplante, ele sofre de ansiedade. “É muito angustiante pensar que a minha vida depende de algo tão incerto”, relata.
"A projeção de uma solução em um órgão que pode não vir é muito dolorosa e angustiante. Me dá gatilhos de ansiedade. Eu sigo vivendo minha vida e esperando, mas não me movo em função dele (a necessidade do transplante), diz.
Desde 2020, ele enfrenta uma doença renal chamada “nefropatia grave”. “Os médicos desconfiam que ela é consequência de uma hipertensão não tratada”, conta. No caso de Candeias, o transplante seria o tratamento mais viável, pois proporcionaria maior qualidade de vida mesmo que a doença não seja 100% curada.
Infelizmente, a realidade dele é comum a outras milhares de pessoas no Estado. Dados do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) mostram que Minas Gerais não atingiu a meta de doações de órgãos em 2024. O número estabelecido para o território no ano ado foi de 18 doadores por milhão de pessoas (pmp). No entanto, o Estado alcançou 15,8 – abaixo dos 22,2 na região Sudeste e dos 19,2 no Brasil.
O órgão mais requisitado é a córnea, com 19.133 pessoas na fila e 17.089 transplantes feitos no último ano. Para o rim, caso de Candeias, a fila no Brasil chega a 36.985 pessoas e, em Minas, a 3.737. “Em 2020 eu estava na casa dos 800, e hoje estou perto de 300”, conta o professor.
Mitos. Segundo Omar Cançado, diretor do MG Transplantes, a doação de órgãos depende de uma série de fatores, e ainda há muitos mitos que permeiam a questão. Ele afirma que muitas famílias têm medo de autorizar o processo por acreditar que haverá mutilações e que o corpo não ficará apresentável para o velório. No entanto, diz ele, isso não acontece. “O corpo é reconstituído, e não fica nada visível”.
Além disso, conforme Cançado, faltam conversas sobre o tema. Como doação de órgãos não costuma ser um assunto discutido no dia a dia, quando alguém morre, muitas vezes, os familiares não sabem qual era a vontade do ente falecido em relação à doação. “É importante conversar para que, em caso de morte, a família possa tomar a decisão”, afirma.
Outro fator que contribui para esse cenário é o desconhecimento do que é morte encefálica. Muitos familiares, por ver a pessoa respirando, ainda que por aparelhos, ainda acreditam que ela pode ficar bem – o que, conforme lembra o especialista, não vai acontecer. “A pessoa pode estar respirando, mas aquilo é artificial. Quando o cérebro morre, a pessoa está morta”, explica. (Com Juliana Siqueira)
Diálogo é essencial
Coordenador de Transplante de Fígado da Santa Casa BH, Agnaldo Lima chama atenção para mais um fator: é preciso investir na comunicação com as famílias para que o número de doadores se expanda.
“Se o médico não souber conversar direito com a família, pode colocar tudo a perder. É um momento difícil. As principais causas de morte encefálica são derrame ou acidente. Em muitos casos, a pessoa estava conversando com a família de manhã, vai para a rua, tem um acidente de moto, e vem o diagnóstico de morte encefálica. É uma dor muito aguda para a família, e ter o desprendimento para doar nesse momento é muito delicado. Não pode só dizer: ‘Está morto. Quer doar os órgãos?’”.
O trabalho de conscientização tem sido uma das frentes de atuação do MG Transplantes, que oferta cursos para que profissionais da saúde possam identificar os potenciais doadores e conversar com as famílias. “É preciso saber comunicar uma situação crítica. Os treinamentos focam como acolher melhor essas pessoas”, diz.
Lista criteriosa. De acordo com informações do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), responsável pela realização dos transplantes de órgãos, tecidos e células, no Brasil a fila de espera depende da compatibilidade e do nível de gravidade de cada caso. A lista funciona por ordem cronológica de cadastro, mas também considera fatores técnicos e clínicos para priorizar os casos mais urgentes.
Santa Casa é destaque nacional. A Santa Casa BH, maior hospital do Brasil em número de internações, realizou 31 coletas para o setor filantrópico em 2024 e conquistou a segunda colocação no ranking nacional de centros que mais contribuíram para o Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).